O Casamento e a Febre

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A cerimônia de casamento de Ari e Paloma foi estupenda. As daminhas e a mocinha da entrada das alianças eram como anjos vestindo branco. Casaram-se na Primeira Igreja Batista da cidade às dezenove horas do dia 27 de Outubro de 2000, que por sinal, era a igreja mais bonita da cidade e estava toda ornamentada para o enlace. Havia um clima de extrema felicidade no ar. Os noivos não podiam se conter de tanta alegria e a todos parecia mesmo formarem um casal maravilhoso.

A ex-mulher de Ari deixou Alice na porta da igreja e pôde, mesmo ao longe, observar que seria um lindo casamento, o que causou nela, por um segundo, certa dose de remorso, agora que estava sozinha também. O amor pode ser um abrir e fechar de portas interminável.

Alice cumprimentou educada e friamente a Daniel. Ela estava com um vestido azul belíssimo, e havia feito um penteado muito bonito para a ocasião. Daniel não sentia amor por ela, é certo. Mas vê-la assim tão bela, causava alguma coisa em seu coração. Talvez fosse aquele frio que dá quando a vida lhe apresenta alguma alternativa de caminho.

"Meu Deus, você está muito feia, garota!" Ele brincou.

"E o senhor está mais magro!" Replicou ela apresentando seu lindo sorriso.

Os dois já estavam a postos para o início da cerimônia, e deram-se os braços.

"Como você está, Daniel? Ouvi dizer que está morando sozinho."

"Ah vou levando, né? Dizer a você que a vida é um mar de rosas seria mentira, mas também não posso reclamar. Só preciso resolver que caminho vou tomar na vida."

"E eu não sou um caminho..."

"É claro que é..."

Neste momento, a noiva acabava de chegar e esperava o sinal para entrar. Tão apressada estava para se casar que não atrasou sequer um minuto.

A música começou a ser tocada por um conjunto de cordas e instrumentos de sopro que a todos encantou. E a noiva exuberante adentrou à nave como se houvera conquistado um tesouro. O sorriso largo e os gestos expansivos denunciavam sua excitação.

Depois da igreja seguiram para uma chácara, onde haveria uma festa para comemorar o recente matrimônio. Havia muita gente, entre os convidados, mais de cem, pelo que calculava Daniel, que não conhecia quase ninguém. A maioria não foi à igreja, mas estava ali para saudar aos noivos. Era o caso de Felipe e Milena, que depois de algum tempo, encontrou a mesa onde estavam assentados Daniel e Alice, e pediram para se sentar com eles. Em verdade, só Felipe queria isso, Milena insistiu para que ficassem do outro lado, mas como não encontrou nenhuma razão significativa, teve de ceder à vontade do marido.

Milena e Alice entreolhavam-se sem amizade. Alice chegava a sentir raiva da outra. Não era capaz de entender o motivo pelo qual não retornou à cidade antes de se casar com Felipe para retomar o romance com Daniel. E ainda permitir o sofrimento dele voltando a estar próxima, agora que estava casada com outro. Daniel não merecia passar por aquilo.

Era uma noite clara de lua cheia e com um clima bastante ameno, mas de repente Milena começou a reclamar de frio e a tremer. Vendo Felipe que ela transpirava em demasia, mesmo reclamando de frio, tocou-lhe a face e percebeu que ela tinha febre, e assim foram forçados a deixar a festa mais cedo.

"Ela não merece você." Disse Alice depois da saída dos dois.

Em resposta Daniel suspirou profunda e lentamente.

Dava para ver a tristeza no fundo dos olhos dele, e como ficava desconcertado na presença de sua cunhada. Era tão claro o amor que ele sentia que Alice não compreendia como Felipe não se apercebia disto. Para ela, Milena também não se comportava com total discrição. Mais cedo ou mais tarde aquele segredo vazaria.

Aquela noite Daniel e Alice permaneceram juntos a festa toda, reacendendo ao menos, a mesma amizade de antes. Gostavam da presença um do outro, da conversa sobre qualquer assunto e das muitas gargalhadas. Não havia ninguém que causasse isso em Daniel afora ela.

Quando a festa acabou a mãe de Alice viera busca-la.

"Vou te visitar em seu castelo, viu?" Disse ela antes de entrar no carro.

"Vai sim! Aí eu te faço um café horrível pra gente tomar e abro um pacote de bolacha recheada!"

"Ah isso é tentador!"

Na volta para casa, ele vinha pensando na beleza de Alice e em sua doçura e simpatia. Era um tolo por não tentar amá-la. Mas não era assim que funcionava o coração. Não era simples governá-lo, ou transformá-lo. Mas se alguém era digno de que tentasse, este alguém certamente seria Alice.


Um Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora