Um Amor Invencível

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No dia seguinte, bem cedo, Felipe arrumou suas coisas. Estava tudo certo. Não houve nenhum alarido por conta de sua partida. Havia, antes, uma atmosfera de paz entre ele e Milena, apesar da grande consternação em sua face. Questões legais se resolveriam posteriormente. Para ele o mais importante agora seria dar cabo àquele sofrimento de estar todos os dias em sua presença e sentir-se solitário mesmo assim. Antes de partir contou a ela que pensava em retornar a São Paulo e retomar a vida por lá. Mais oportunidades de crescimento na empresa e o ritmo de vida o cativavam. Havia se tornado um cidadão cosmopolita e a vida pacata da cidade pequena não o seduzia.

"Vai falar com Daniel?" Ela quis saber.

"Vou." Respondeu.

Um abraço rápido e um beijo demorado na testa de Milena selaram a despedida.

Felipe chegou à casa de Daniel antes que ele se fosse ao trabalho, surpreendendo-o. Nunca tinha ido tão cedo ali. Certamente havia acontecido algo extraordinário, algo com Milena talvez, ou consigo, pensava Daniel enquanto se sentava ao lado do irmão no sofá.

Em poucas palavras Felipe contou tudo ao irmão. E precisou de muito empenho para provar a ele não ter nenhuma mágoa ou ódio. Daniel chegou a ajoelhar perante ele e jurar não havê-lo traído, e uma dezena de vezes repetiu que guardou segredo de seu amor exatamente para não lhe causar mal. Felipe compreendia a tudo, dizia que em seu lugar faria exatamente o mesmo e ainda lhe contou que o seu casamento não havia terminado por causa do amor que Daniel sentia por sua esposa, mas por causa da falta de amor dela por ele.

Felipe ratificou o amor que sentia por seu irmão e o desejo de sua felicidade ao lado de Milena, mas Daniel parecia incrédulo com tudo aquilo. Dizia a Felipe para repensar e ponderar o tempo de união com Milena e chegou a dizer que ele deveria lutar por seu casamento, ainda que soubesse de tudo.

Felipe a tudo negou, beijou e abraçou ao irmão e se foi.

Daniel sentou-se novamente no sofá e foi chorar. Sentia pena de Felipe e um certo sentimento de remorso pelo amor que sentia por Milena. Era inevitável se ver como o responsável pelo fim daquele casamento.

Alguns minutos depois, entretanto, pensava só em Milena. Como ela estava, e com o que se preocupava. Como estava a lidar com a separação? Lembrava o seu rosto e forçava para não tê-lo com uma expressão de tristeza. Um pensamento egoísta o forçou mesmo a imaginá-la feliz naquele momento. Pronta para se entregar aos seus braços finalmente e recuperar o tempo em que estiveram distantes, mas logo espantou estas ideias se punindo com alguns beliscões no braço.

Ficou ali e não foi trabalhar aquele dia, estava atordoado.

Em uma semana Daniel procurou seu amigo Ari e lhe contou tudo. Neste tempo Felipe conseguiu a transferência em seu emprego e retornou a São Paulo. No dia da viajem apenas Daniel apareceu em sua despedida.

Ari e Daniel se encontraram então na Confeitaria Francesa para conversarem.

"O que você acha professor?"

"Do que? Do que eu vejo em seus olhos ou do que aconselhar a você, moleque?"

"As duas coisas."

"Primeiro o que eu vejo em você. Um cara que escolheu sofrer para que Felipe não sofresse e agora vê a oportunidade de ser feliz, mas está duvidoso de que, pela primeira vez, ele tenha esta chance. Vejo olhos que parecem vulcões em erupção de tanto chorar. Vejo alguém que teme a felicidade por não reconhecê-la. Agora me deixa dizer o que eu penso. Penso, meu amigo Daniel, que você deve procurar primeiro a Alice e lhe contar tudo. Sabendo que isso lhe causará imensa dor outra vez, mas você não tem culpa, o coração não é governável como se pensa. Depois deverá procurar a Milena e lhe declarar que o amor que você sente está vivíssimo e que está pronto para fazê-la feliz.

Um Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora