Capítulo 17

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Hoje é dia dos pais e mais uma vez estou sentada sozinha no fundo da sala vendo várias crianças abraçadas com seus pais enquanto os mesmos são homenageados.

Nunca soube o porque de não ter um pai, mamãe diz que não é a hora de me contar, que sou muito nova, mas eu me sinto na necessidade de saber o por que.

- Seu pai não vem? - Perguntou uma menina da minha sala se sentando ao meu lado.

- Não. - Respondi seca.

- Por que? - Perguntou curiosa.

- Não é da sua conta! - Gritei me levantando.

Olhei com raiva para a menina e vi seus olhos lagrimejados. Ela não tinha culpa de nada, mas me dói ver esses pais aqui, com seus filhos felizes e eu sentada em um canto isolada sem saber se tenho um pai e se ele me ama.

Chego em casa chorando e encontro minha mãe na sala conversando no celular com alguém.

- Por que? - Começo a falar pegando minha mãe de surpresa. - Por que não tenho um pai? Por que não posso saber o que aconteceu com ele? Dói ver todas essas crianças com seus pais e eu sem saber o que aconteceu com o meu. - Desabei no chão da sala em lágrimas. - Eu só quero um pai, só quero ter um pai para me dar amor, por que mãe?

Olhei para mamãe que estava imóvel no mesmo lugar olhando para mim com os olhos arregalados e cheios de lágrimas. A mesma desligou o celular e andou até mim se sentando no chão e me abraçando.

- Calma meu amor. - Falava tentando me acalmar passando a mão em meus cabelos. - Seu pai não pertence mais a nossa vida, amor. Ele tem sua vida, com outra pessoa. Eu sinto tanto que você tenha que passar por tudo isso, não é justo com você, já que não teve nada a ver com o passado e os erros que seu pai e eu cometemos.

- Ele sabe que eu existo? - Perguntei e ela acentiu. - Ele não gosta de mim? O que eu fiz mamãe? Eu não sou boa filha? Sou ruim? Por que ele não gosta de mim?

Eu chorava ainda mais, mamãe apertou seu abraço me confortando do jeito que só ela sabe, ela chorava baixinho junto comigo.

- Não meu amor, não fala essas besteiras. Você é a melhor garota que alguém poderia ter como filha! Você é linda, inteligente, engraçada, boa, e tem um coração enorme. Seu pai é que foi muito idiota e não soube aproveitar a linda e maravilhosa filha que tem. Não se abale por isso meu amor, eu estou aqui com você e nunca vou te deixar, para sempre você vai ser minha garota! - Falou ela secando minhas lágrimas e me dando um beijo na bochecha.

- Promete que não vai me deixar, como meu pai fez? - Perguntei.

- Prometo, meu amor. Para sempre eu e você. - Falou ela me dando um sorriso lindo.

Naquele dia passei a ver minha mãe com outros olhos, como minha heroína, minha protetora. Ela com seus lindos cabelos loiros longos, olhos castanhos claros e aquele sorriso que eu era apaixonada me faziam bem e me faziam esquecer a rejeição do meu pai. Ela prometeu ficar comigo para sempre, mas como todos dizem: o para sempre, sempre acaba...

Acordei com uma forte dor de cabeça. A luz do ambiente estava muito forte e tive que piscar várias vezes até meus olhos se acostumarem com o lugar.

Olhei ao redor e constatei que estava em um hospital. O que estou fazendo aqui? Como vim parar aqui? Por que estou aqui?

- Querida? - Alguém me chama e olho para o lado para ver Camila. - Tudo bem?

- Si-Sim. - Respondi. Ela parecia preocupada. - Por que vim para em um hospital?

- Você teve uma queda de pressão e desmaiou no banheiro na escola. - Falou ela calmamente examinado minha reação.

Fechei os olhos e me veio, instantaneamente, imagens de hoje mais cedo. Aquelas palavras, as pessoas rindo de mim, da minha dor, dos olhos assustados de Flávia o olhar confuso de Urieel...

Foi ele. Por culpa dele isso aconteceu, não é? Só ele sabia da história da minha mãe. Eu havia contado e tinha pedido para não dizer nada a ninguém. Como ele pode? O que ele ganha com isso?

Lágrimas escorriam dos meus olhos, senti raiva de mim por me deixar levar por ele. Por me deixar acreditar nas suas palavras e lhe contar algo que me dói. Isso que dá você acreditar e colocar um pingo de confiança nas pessoas.

- Calma querida, não fique assim. - Camila passava a mão em meus cabelos.

- Eu quero ir embora. - Falei em sussurro.

- Nos já vamos. Seu pai está conversando com o médico. - Falou ela. - Sua amiga e Urieel saíram daqui agora pouco, quer que eu ligue para eles?

- Não. - Falei secando as lágrimas. - Eu falo com Flávia amanhã e a última coisa que quero é ver Urieel na minha frente.

Camila me olhou em confusão.

- Achei que vocês tinha se acertado. - Falou ela.

- Penso errado. - Falei. - Fui idiota em confiar nele e falar para ele da minha mãe.

- Por que diz isso?

- Só ele sabia sobre mamãe. - Falei. - Ele deve ter saído correndo contar para a Eduarda e ela aprontou aquilo no banheiro comigo.

Ódio tomou todo meu coração. Por isso nunca quis ter amigos ou confiar nas pessoas, elas sempre acabam te decepcionando e te deixando quebrada.

- Oh! - Camila levou a mão na boca. - Não acredito que ele foi capaz de fazer isso. Ele é um bom menino.

- Não importa. - Falei. - Não quero nunca mais falar com ele.

Fechei os olhos novamente e pensei em minha mãe. Sei que devo seguir em frente, viver. Mas não é fácil viver uma vida sem a sua base, sem o seu porto seguro. Mamãe era isso para mim, e em um piscar de olhos, isso foi tirado de mim.

Não demorou muito e o médico, junto com o Jared vieram para o quarto conversar comigo. O médico me explicou algumas coisas, me disse para não me estressar e me alimentar direito. Recebi alta na mesma hora e fui para casa.

Durante toda o trajeto fui com os pensamentos a mil. Pensava em tudo ao mesmo tempo em nada. Só queria minha cama, só queria esquecer tudo isso e tentar me reconstruir mais uma vez.

Chegamos em casa e Andrew me encheu de perguntas, estava preocupado, respondi o necessário e fui para o banheiro tomar um banho quente. Deixei as lágrimas rolarem mais uma vez, senti meu coração se afundar na escuridão e eu sabia, que não em muito tempo, aquela escuridão me tomaria por completo.

Já estava pronta para dormir quando alguém bate na porta.

- Pode entrar. - Falei pensando que era Camila.

- Será que podemos conversar? - Falou Jared na porta do meu quarto me olhando.

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