Capítulo 32

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Pietra.

Quase um ano atrás.

- Por que não quer festa, filha? - Minha mãe me pergunta pela milésima vez.

- E vai convidar que? A nossa vizinha de quase cem anos? - Pergunto emburrada.

- Não é uma má ideia, eu gosto da Sr. Cardozo. - Mamãe dá de ombros e ri.

- Isso não tem graça mãe. - Falo tentando soar séria mas falho vergonhosamente rindo junto com ela.

Meu aniversário de quinze anos é no próximo mês e mamãe está tentando me convencer a dar uma festa. Quem irei convidar? Não tenho amigos e nem faço questão de ter. Não estou nem um pouco afim de dar uma festa de debutante, isso é ridículo! Mas quem manda ter a dona Amanda como mãe? Ela é insistente e não vai deixar isso quieto até eu me render, mas lamento por ela, dessa vez não.

- Por que não podemos fazer que nem nos outros anos? Comer pizza, tomar refrigerante e passar a noite vendo TV? Isso já é o suficientemente para mim. - Falo cruzando os braços.

- Por que é seus quinze anos, meu amor! É a data que toda garota quer comemorar.

- Eu não sou qualquer garota. - Falo.

- Claro que não. Você é a Pietra, a garota mais teimosa que uma mula.

- Puxei a quem será? - Resmungo.

- Olha como fala! - Mamãe olha para mim séria. - Só estou dizendo que seria bom ter uma memória boa nesse aniversário.

- Eu sempre tenho, mãe. Você sempre passa o aniversário comigo e isso é perfeito. Não quero festas.

- Não vou fazer você mudar de ideia, não é? - Pergunta.

- Não. - Falo sorrindo.

- Ok. - Sorri mas logo seu sorriso some. - Seu pai me ligou hoje de manhã.

- Ele não é meu pai. - Falo com frieza na voz.

Já faz anos que eu não tenho notícias dele, só sei que ele se casou com uma mulher, mas nem faço questão. Também parei de perguntar sobre ele, ele não está nem aí pra mim, por que eu devia me importar? Mas eu me importo... e muito.

- Ele é sim o seu pai. - Minha mãe fala com o voz firme. - Sei que tem mágoa dele, mas ele ainda é seu pai e se preocupa com você.

- Sério? - Falo ironicamente. - Ele não se preocupa comigo! Não me liga e nem do meu aniversário quer saber de mim! Não quero mais saber dele, mãe. Está bom do jeito que está. Já me acostumei com a ausência dele. Não quero falar mais dele.

- Ok. - Fala cabisbaixa. - Mas ele é seu pai ainda, ele te ama.

Olho para minha mãe perdida. Ele não me ama, se me amasse nunca teria deixado ela ir e me criar sozinha. Minha mãe é uma mulher forte, lutou contra o mundo para me proteger. As vezes pego ela olhando para as fotos antigas dela com o meu pai que ela tem quadrada dentro de uma caixa. Vejo nos seus olhos que ela ainda ama ele, antes eu não entendia o brilho que saia dos seus olhos quando falava dele pra mim quando pequena, mas hoje vi que ela ainda o ama e corta meu coração ao ver que apesar de tudo, de toda a dor, ainda existe amor. Pena que meu pai foi burro para não dar valor a essa heroína que com orgulho chamo de mãe...

- No que anda pensando? - Flávia pergunta enquanto caminhamos para a sua casa.

- Lembrei de quando mamãe queria fazer uma festa para mim de quinze anos. - Sorrio.

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