Capítulo 18

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Ver meu pai, Jared, na porta do meu quarto me olhando com aqueles olhos tão parecidos com os meus, me deu uma vontade enorme de chorar. Não sei porque, talvez pela falta que ele fez em minha vida, pelo rancor que guardei dele ou até mesmo pelo amor que eu tenho guardado em mim para oferece-lo. É uma mistura de sentimentos, tão confusos, que eu não sei mais o que pensar, se eu odeio ou se eu simplesmente amo.

- Pode. - Falei me sentando na cama.

Ele andou até mim, se sentou na beirada de minha cama, abaixou a cabeça e respirou fundo:

- Quero primeiramente lhe pedir desculpas. - Falou ele levantando o olhar.

Seu olhar era triste. Sei que com ele, ele carrega dores do mundo, do seu passado, de um amor perdido no tempo, das escolhas erradas que fez que resultou tudo isso. Meu coração se aperta em ver aqueles olhos tão lindos, tristes, não se parecem nada com os olhos brilhantes das fotos, não só com mamãe, mas também das fotos espalhadas pela casa dele com Camila e Andrew.

- Eu sei que você me odeia e que está aqui contra a sua vontade. - Continuou. - Mas, eu te amo tanto... - Fechou os olhos. - Sei que não acompanhei a sua vida, seu crescimento, mas eu me arrependo e sofro sempre que vejo o quanto perdi. Perdi um grande amor, perdi uma grande filha por simplesmente medo de enfrentar meus pais. Deixei me levar pelas palavras da minha mãe, me deixei levar pela raiva e não vi o quão burro e idiota estava sendo ao deixar sua mãe ir embora naquele dia chuvoso de inverno.

Fechei meus olhos, cada palavra que ele dizia era uma lágrimas que escorria, não só dos meus olhos, mas dos dele também.

- Sua mãe era uma mulher incrível! Linda, carinhosa, inteligente, elegante e muito mais. Nós nos apaixonamos e vivemos um romance impossível. Mas disso tudo veio você, que no meio disso tudo consegui crescer e se torna uma linda garota. - Ele se aproximou mais de mim, pegou em minha mãe e começou a fazer carinho na mesma. - Sei que o dia de hoje não é fácil para você, nem para mim, hoje foi o dia em que perdemos uma pessoa muito importante, não é? - Concordei com a cabeça. - Sabe, durante anos, eu ligava todos os dias para sua mãe para saber como você estava, se precisava de algo. Você pode não acreditar, mas eu cuidava de você mesmo longe, amava você mesmo longe. Sei que pra você não foi fácil com a ausência de um pai, mas eu fui covarde de mais e deixei vocês duas irem. Eu queria muito te conhecer, dar à você o amor de um pai que você nunca teve, mas sua mãe sempre dizia que não era a hora, que você não estava pronta... até que, a hora chegou em um momento tão ruim que nos pegou desprevenido.

Minha cabeça dava voltas, ouvir ele dizer que me amava, que cuidava de mim mesmo longe e que queria me conhecer me fez julgar todo esse sentimento ruim que tinha em relação a ele. Acho que julguei mal o homem que é meu pai, não dei a oportunidade de ambos mostrarem o amor que sentem por ambos. Mas acho que é esse o momento...

- Pai! - Falei em meio às lágrimas.

Pulei nele e o abracei com todas as minhas forças, com todo o meu amor e saudade que estavam guardados dentro de mim a espera desse momento tão esperado durante todos esses anos da minha vida.

- Meu amor. - Falou ele me envolvendo em seu abraço tão bom e protetor.

Me permiti chorar tudo que estava dentro de mim. Me permiti abraçar esse homem como a fosse a última coisa a ser feita antes de morrer. Permiti sentir o amor que tanto me neguei a sentir por Jared, meu pai.

- Desejei tanto esse abraço. - Falei me soltando dele.

- Eu também. - Sorriu secando minhas lágrimas. - Espero que possa me perdoar por tudo que um dia eu fiz de mal a você é sua mãe. Sei que nada que fizer vai suprir a falta que ela faz à você, mas saiba que estarei contigo sempre, para sempre.

- Eu nunca estive com raiva de você de verdade, pai. - Ambos sorrimos com a última palavra. - Só criei uma parede que me protegesse do amor que eu sintia, e sinto, por você mesmo sem ter te conhecido. É estranho, não? - Ri.

- Não, não é. - Falou. - Eu te entendo. Espero que agora, nós dois possamos começar do zero e seguir em frente.

Seus olhos agora tinham vida, brilho, igual a todas as fotos que vi dele. Meu coração se iluminou com seu abraço, com suas palavras e com a esperança que um recomeço melhor, de um vida que tanto desejei mesmo que uma parte de mim esteja junto com minha mãe onde quer que ela esteja.

- Eu também espero. - Sorri sinceramente. - Eu tenho algo pra te dar. - Falei me lembrando das fotos.

Olhei seu olhar de confusão e sorri. Me agachei e de baixo da cama peguei a minha caixa de madeira. Olhei algumas fotos e acabei achando a que eu queria.

Era uma foto antiga, dos meus pais sentados em uma praça. Mamãe comia com vontade um enorme hambúrguer toda lambuzada e meu pai olhava para ela com um enorme sorriso e seus olhos... ah! Seus olhos! Seu olhos eram de um brilho intenso, vivo. Via em seus olhos o amor que ele sentia por ela e seu sorriso era verdadeiro e confirmava esse sentimento. As vezes, durante anos, eu pegava essa foto escondida e dormia olhando para ela imaginado como seria se os dois estivessem juntos e se existiria o mesmo brilho nos olhos como naquela foto.

- Quando mamãe se foi, achei essa caixa em seu quarto. - Sorri fraco.

Ele me olhava sério e acabou pegando a caixa em mãos olhando as mais variadas fotos que havia dentro da mesma.

- Cherei por horas vendo cada foto. - Continuei. - Até que achei minha preferiada. - Lhe entreguei a foto. - Eu pensava que mamãe havia jogado fora, mas não, ela estava guardada junto com as outras.

Jared olhava a foto com atenção e sorriu me parecendo lembrar daquele dia.

- Esse dia ela estava com muita vontade de comer hambúrguer. Comeu dois! - Riu. - Obrigada por isso.

- Não me agradeça. Só cuide bem dessa foto. - Falei.

- Com certeza. - Falou se levantado. - Eu já vou indo. Boa noite meu anjo. - Veio até mim e depositou um beijo em minha testa. - Te amo. - Sussurou e se foi.

Fique pasma ao ouvir suas últimas palavras. Ele me amava? Ele disse que me ama?

Me deitei sorrindo ao saber, depois de anos e anos, que meu pai me ama. Para muitos isso pode parecer idiotice, mas para mim é algo de muito valor.

Fechei os olhos e imaginei minha mãe, como ela estaria agora. Chorei de saudade, mas uma saudade boa. Meu coração se encheu de algo estranho... alegria?

Mesmo mamãe estando longe de mim, hoje, mas do que nunca, senti sua presença. Sei que de algum lugar ela pode ouvir minha conversa com meu pai e está feliz com a nossa reconciliação, sei que agora ela pode descansar em paz.

Minha mãe... minha eterna, mamãe...

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