Capítulo 28

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A viagem pareceu durar uma eternidade. O silêncio no carro era agonizante e eu já não aguentava ficar ali.

- Obrigada, Cezar. - Flávia fala assim que o carro estaciona em frente a sua casa. - E Pietra, amanhã me liga. - Fala ela me olhando, apenas aceno e ela se vai.

Fechei os meus olhos e deixei tudo se acalmar dentro de mim e só os abri quando cheguei em fentre a minha casa.

- Desculpa fazer tanto incômodo, Cezar. - Falo.

- Imagina, senhora. - Fala ele sorrindo. - Esse é meu trabalho.

- Se não fosse esse aí. - Olho para Urieel e ele bufa. - Você não precisava se encomodar com a gente, mesmo sendo o seu trabalho.

- Como já disse, é meu trabalho. Eu gosto disso. - Fala Cezar.

- Ok então. - Falo. - Obrigada.

Saio do carro rapidamente e marcho para minha casa mas no meio do caminho sou parada.

- Acho que temos que conversar. - Urieel fala.

- Não temos nada pra falar. - Digo.

- Eu briguei por sua causa, mereço cuidado. - Fala ele.

- Quem manda o otário aí querer bancar o fortão? - Falo com raiva. - Pede sua mãe.

- Minha mãe não está em casa. - Fala ele rolando os olhos.

Olhei para minha casa e vi tudo apagado.

- Ok. - Falei com raiva indo em direção a casa de Urieel junto com ele.

Entramos na casa dele sem dizer nada um ao outro. Ficamos em silêncio por não sei quanto tempo, o único barulho que se ouvia era da nossas respirações.

- Onde está o kit de primeiros socorros? - Pergunto quebrando o silêncio.

- Na cozinha. Debaixo da pia. - Fala ele me olhando.

- Ok. - Vou em direção a cozinha e procuro a caixa. Quando volto vejo Urieel sentando no sofá sem camisa de olhos fechados.

Mesmo com a pouca iluminação na sala, eu conseguia ver muito bem todo o seu peito definido. Ele respirava calmamente e se não fosse aqueles cortes em seus rosto, iria parecer um deus naquele jeito.

Suspirei pesadamente colocando meus pensamentos em ordem. Me sentei na mesa de centro de frente para Urieel e comecei a tirar as coisas da caixa.

- Vem cá. - Chamei Urieel e logo seu rosto estava no alcance das minhas mãos. - Vai doer um pouco.

Ele simplesmente concordou com a cabeça e eu coloquei o pano com um pouco de álcool em sua sobrancelha cortada.

Urieel em várias vezes soltou gemidos e dor mas em nenhum momento aqueles olhos verdes intensos se desviaram de mim.

Depois de sua sobrancelha cuidada e com curativo, fui para sua boca que tinha um pequeno corte no canto.

- O que deu na sua cabeça ao brigar com o Jacob? Ele é bem maior que você. - Falei apertando o pano em seu machucado.

- Ele pode até ser maio, mas apanhou mais. - Urieel deu de ombros.

- Você não responde minha pergunta. - Falei apertando mais o pano contra o machucado.

- Aí. - Gemeu ele. - Está doendo.

- É pra você deixar de ser idiota e parar de procurar briga sem razão. - Falei rolando os olhos.

- Sem razão? - Falou ele sério. - Aquele cara estava te beijando!

- E daí? - Perguntei.

- E daí que eu surtei ao ver ele beijando você, tocando você. - Sussurrou.

- Nós não temos nada, Urieel. - Falei me levantando.

- Onde vai? - Pergunta.

- Pra casa. Já cuidei do deus machucados. - Disse de costas.

- Nós não terminamos de conversar. - Disse ele atrás de mim.

- O que mais tem a dizer? - Quase gritei. - Você não devia ter feito aquilo! Eu odeio briga! Pareceu que vocês estavam disputando um pedaço de carne! - Me virei para encara-lo.

Eu arfava. Eu odeio brigas, as vezes me meto em algumas mas só quanto preciso, mas mesmo assim odeio. Me senti um pedaço de carne quando os dois começaram a brigar.

- Desculpa, tá?! - Ele abre os braços. - Nunca briguei, muito menos por uma menina. Mas quando vi ele com suas mãos sujas em cima de você pedi a cabeça.

- Por que? - Cruzei os braços.

- Como assim? - Perguntou em confusão.

- Deve ter um motivo para você reagir feito um ogro. Por que?

A sala novamente voltou a um silêncio mortal. Meu coração batia forte, minhas mãos suavam frio e meus olhos se negavam a se desviar daqueles olhos verdes que tanto, por mais ridículo que isso pareça, amo...

- Quer mesmo saber o porque? - Urieel falou cortando o silêncio. - Por que eu não suporto pensar em outro garoto chegando perto de você! Você é a garota mais frustrante que eu já conheci. Dês do dia em que eu trombei com você no parque não tirei você da cabeça e isso me deixa louco! Ver você irritada é a melhor coisa, ver você sorrir me leva ao céu, beijar você me deixa louco. - A essa altura ele já estava muito perto de mim e sussurrava. - Eu estou...

- Você...? - Perguntei já quase sem ar.

Sem me dar tempo de pensar, Urieel me puxou para si e juntou nossos lábios. Esse beijo, diferente do de Jacob, foi doce, quente, apaixonado, delicado, necessitado, tudo ao mesmo tempo. Sua língua explorava minha boca, minhas mãos puxavam seu cabelo mais para perto de mim. Suas mãos passavam pelo meu corpo, nuca, costa, bunda.

Urieel só separou nossos lábios quando estávamos já sem ar. Encostou sua testa na minha e ficamos ali, em silêncio até nossas respirações voltarem ao normal.

- Por que eu estou apaixonado por você. - Falou ele depois de um tempo.

Meu corpo pareceu gelar, meu sangue pareceu ter sido drenado de mim. Não consegui fazer nada a não ser olhar no fundo daquelas olhos. No fundo deles, aquelas palavras tinham verdades, mas o medo me invadiu.

A história da minha mãe veio em minha mente, tudo que minha mãe passou. O medo que eu não sabia que existia veio a tona e a única coisa que eu queria era ir embora.

Me afastei sem dizer uma palavra. Sinti o corpo de Urieel ficar rígido.

- Eu tenho que ir embora. - Falo em sussurro.

- O que? Eu acabei de me declarar pra você e tu quer ir embora? - Ele me pergunta incrédulo.

- Você não entende. Eu preciso ir. - Falo.

- Você tem razão. Eu não te entendo. - Joga suas mãos no ar. - Que se dane, faça o que quiser.

Dou uma última olhada nele, seus olhos transmitem surpresa, mas principalmente, dor. Dor de um sentimento que ele acha que não é correspondido.

Corro da casa dele. Corro e entro em casa o mais rápido possível. Não me importo se meu pai está acordado a minha espera, se ele está preocupado com minha demora. Entro no meu quarto e tranco a porta, tiro minha roupa, coloco meu pijama e antes de cair na cama mando uma mensagem para Flávia.

"Preciso de você, amiga. Venha aqui em casa amanhã, por favor!"

Caio na cama e me permito chorar. Ouvir suas palavras aqueceram meu coração, enviaram arrepios bons por todo o meu corpo. Mas logo em seguida o medo veio a tona. Meu pai também era apaixonado pela minha mãe e mesmo assim, na primeira mentira que inventaram para separar ambos, meu pai deu um pé na bunda da minha mãe grávida.

Sei que não devo me basear no passado, mas tenho medo de algo assim me acontecer.

Ver os olhos de dor de Urieel me quebrou. Hoje, quando ele me falava aquelas palavras, meu coração gritava que eu estava apaixonada por ele, por aqueles olhos verdes... ver ele achar que não é correspondido me quebrou, mas o que eu posso fazer se o medo que me consome é maior?

Ou pelo menos acho que é maior...

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