Muny

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– O que ela queria? - a voz de Austin preencheu seus ouvidos assim que Ally se sentou. Seu coração ainda batia descompassadamente por causa da conversa que tivera alguns minutos antes.

Esperou que a velha professora loira, Sra. Mason, se virasse para a lousa. Ela parecia nervosa por conta do atraso da garota.

– Se desculpar - murmurou, tentando não chamar a atenção.

O loiro emitiu um ruído engasgado.

Ela queria o que?

– Disse que tinha percebido o mal que estava fazendo as pessoas, e queria recomeçar.

Olhou de soslaio para Austin. Ele parecia com raiva. E, de fato, estava. Como Tilly ousava fazer isso? Ela havia magoado a garota na qual ele estava apaixonado. Não merecia ser perdoada.

– E o que você disse? - quando falou, sua voz era controlada.

– Que todos nos merecemos uma segunda chance.

Aquelas palavras o pegaram como um soco no estomago. Ally tinha razão. Dez havia dado uma chance a ele quando precisara. Até mesmo Ally havia dado a si mesma uma segunda chance de viver. Talvez Tilly Tompson também merecesse uma chance.

– E o que vamos fazer agora?

– Eu a chamei para almoçar na nossa mesa – murmurou, tímida - tudo bem?

O coração do loiro bateu forte. Ele podia aceitar a decisão de Ally sobre perdoar a garota, mas não se sentia bem o suficiente para sentar-se ao seu lado. Não era fácil esquecer todas as coisas horríveis que Tilly já fizera. De um modo ou de outro, Austin ainda tinha vontade de joga-la do alto de algum penhasco.

Mesmo assim, engoliu o receio e tentou sorrir

– Acho que Dez e Trish não vão se incomodar, não é?

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– Acho que eles se incomodaram - a morena apertou as mãos enquanto entrava no seu carro, com Austin ao seu lado. O almoço havia sido no mínimo constrangedor.

Tilly havia ficado o tempo todo quieta, sob os olhares acusatórios de Trish e Dez. Austin até mesmo tentara criar uma conversa, mas desistira depois dos primeiros minutos. Não houveram as costumeiras risadas e conversas. Apenas o monótono ruído de comida sendo mastigada e o distante assovio do restante do refeitório.

– Ei, tudo bem - o loiro tentou anima-la - Eles ainda não conseguiram esquecer o que ela te fez. Mas logo as coisas vão melhorar. Eu sei disso.

Ele não sabia.

Austin sabia que seus amigos não perdoariam Tilly. Nem ele, ao certo, havia a perdoado. Apenas Ally tinha um coração tão bom a ponto de escolher ajudar aquela garota.

– Bem... - o garoto falou, tentando mudar de assunto. Sinceramente, sua cabeça ja estava cansada de ouvir falar sobre aquela loira - Vamos no Dez ou prefere pegar algo no Starbucks no caminho da MM's?

– Starbucks - murmurou, ligando o carro. Em questão se minutos, já estavam parados em frente ao local.

– Já volto - Austin falou, saindo do carro

Desanimada, Ally bateu os dedos contra o volante

– Não vou a lugar nenhum

Pov Ally

A sensação em meu peito era excruciante. Uma quantidade enorme sentimentos pareciam ferver em meu coração, todos juntos. Medo, raiva, tristeza. Em poucos minutos, o garoto estava de volta, equilibrando com dificuldade dois copos de chocolate quente e um saco com de doces

– Para a madame - sorriu, me estendendo um dos copos. Soltei uma gargalhada pelo jeito galanteador no qual havia falado e peguei o objeto. Não podia dizer que os sentimentos ruins haviam apenas evaporado, como se nunca houvessem existido. Mas era verdade que, quando Austin estava por perto, eles se tornavam bem mais fáceis de suportar.

– Obrigada, cavalheiro - sorri, ligando novamente o carro. Dirigi calmamente até a Miami Music, enquanto Austin comia vorazmente um Donnut no qual havia comprado. Observei-o com o canto do olho quando paramos em um sinal. O curativo em sua testa agora estava levemente manchado de vermelho. Havia uma rodela arroxeada em volta de seu olho esquerdo, e seu lábio tinha uma rachadura vermelho-sangue. Ele estava lindo.

– Hm... Ally - a voz do loiro me tirou de meus devaneios - o sinal

– O que? – pisquei, confusa. Uma buzina estridente cortou o som da tarde

O sinal. Já abriu

Com um sobressalto, percebi que, de fato, o sinal a nossa frente já estava verde. Sorri, constrangida, e acelerei o carro, até estar parada em frente a loja. Assim que descemos do carro, Austin correu até a loja e a abriu. Quando o alcancei, ele estava parado logo atrás do balcão, ligando o computador da loja.

Suspirei, pegando um cd do The Maine e colocando-o para tocar. Aquela loja já me era tão familiar quanto minha casa. Eu sabia de cor a ordem no qual Austin arrumava as prateleiras, onde estavam os cds nos quais eu gostava... Poderia com facilidade encontrar um cd com os olhos vendados.

– Ally - a voz de Austin me trouxe de volta para a realidade. Meu cd já estava na terceira musica – Ally, Ally, Ally...

– Ok, já ouvi - sorri, tirando os fones. Quando olhei para Austin, me deparei com um par de olhos castanhos cheios de animação - o que foi?

A Muny! - reconheci o nome imediatamente. Muny. Music University of New York. Estava entre os panfletos de Austin. Havíamos a descartado imediatamente, por ser cara demais - abriram vaga para bolsas

Em um segundo, senti o entusiasmo se apossar de meus sentimentos. Uma bolsa na Muny? Seria um sonho!

– O que? - corri para perto dele, no computador. O garoto começou a ler o texto aberto no site da escola

– "A MUNY tem o prazer de anunciar que estamos oferecendo bolsas de estudos a cinquenta novos alunos." – leu o começo, sorrindo. Seu sorriso levava algo que eu não via ha algum tempo. Esperança. – "para concorrer a uma bolsa, basta preencher o formulário e fazer uma audição. As audições podem ser feitas pela internet"

Descendo a pagina, havia um formulário a ser preenchido e um link no qual poderíamos enviar o vídeo.

– As inscrições acabam semana que vem - murmurei, sorrindo.

– Então vamos nos garantir - o sorriso de Austin era tão radiante que poderia iluminar uma cidade toda. Eu nunca o vira tão animado. - Vamos ir preenchendo os formulários. Gravamos os vídeos assim que chegarmos em casa.

Sorri. Parecia que, enfim, o destino resolvera me dar uma chance.


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