Lost Calls

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Oi, aqui é a Ally! Eu devo estar ocupada no momento, mas deixe uma mensagem e eu ouço depois!
Beep

— Ally, aqui é o Dez. Você está bem? Já faz três dias que você não dá noticias, eu estou preocupado. - a voz do ruivo chiou do outro lado da linha - Eu fui no seu apartamento ontem, mas não tinha ninguém. A velha Lindstrom disse que te viu saindo de casa ontem com várias malas. Pra onde você foi? Me liga, tá?

Olhei para o celular em cima da mesa do café e suspirei. Meus olhos estavam inchados e minha cabeça doía como o inferno. O cappuccino a minha frente já havia esfriado fazia muito tempo.

Me encolhi um pouco mais no grande casaco preto, tremendo por conta da temperatura.

Céus, eu devia ter escolhido um lugar mais quente.

Talvez eu devesse falar com Dez, só pra ele saber que eu não havia feito nenhuma besteira. Nenhuma irreversível, pelo menos.

Naquele primeiro dia, quando ele saíra do meu apartamento, meu único pensamento tinha sido a morte. Parecia uma boa opção no momento, quando todos os alicerces que me mantinham em pé haviam sido demolidos.

Assim que Dez me deixara sozinha, eu correra para o banheiro e despejara absolutamente tudo que havia comido na privada. E então eu fizera aquilo de novo, de novo e de novo, até que nada mais saísse. A cada lágrima derramada a agonia parecia crescer, até que não fosse mais suportável.

Eu havia procurado lâminas por toda a casa, mas não achara nenhuma - Austin se garantira disso há alguns meses atrás. Qualquer barbeador ou apontador da casa eram elétricos, para garantir que eu não tivesse uma recaída.

E foi então que eu saíra para andar.

Num primeiro momento a ideia havia sido sair para comprar lâminas, mas esse objetivo havia desaparecido depois de dez minutos de reflexão profunda e muito choro.

Aquela vida era minha, e ela era preciosa o suficiente para não ser jogada fora por um garoto inútil. Mesmo que eu o amasse, aquilo não valia a pena.

Foi no terceiro dia que eu percebi que não conseguia ficar mais em Nova York.

Cada lugar era carregado de lembranças. Era impossível ir a qualquer lugar sem que o sofrimento ressurgisse em meu coração.

Foi quando eu tomei uma das maiores decisões de minha vida.

Eu fui para casa, peguei o maior numero de roupas que cabiam nas minhas mochilas e parti para o aeroporto. De lá, peguei o primeiro vôo internacional que estava decolando.

O que, no caso, me trouxe para a Islândia.

Tudo isso me levava a agora: uma garota americana sentada em um café Islandês, carregando duas malas grandes demais para ela e tremendo de frio.

Eu devia estar deplorável.

Dei uma olhada ao redor, tentando espairecer. O café ficava anexado ao aeroporto da capital Islandêsa, uma cidade de nome estranho que eu ainda não conseguia pronunciar. Haviam várias pessoas sentadas ao meu redor, falando nas mais diversas línguas.

Voltei minha atenção para o celular. Haviam inúmeras mensagens na caixa de recados, como era de se esperar. Apertei o botão para reproduzir.

"Alls, aqui é o Austin..."

Deletar.

"Oi, sou eu de novo..."

Deletar.

"Olha, eu sei que eu sou a última pessoa no mundo que você quer falar no momento..."

Deletar.

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