No final das contas, não foi só um. Não foram dois, nem três tampouco. Ela parara de contar mais ou menos ao mesmo tempo que os números pareceram parar de fazer sentido.
A noção de gravidade já era, ela pensou consigo mesma, quando quase caiu do banco alto ao se inclinar um pouquinho pra trás.Céus, ela estava mal.
Em algum ponto depois do quarto ou quinto copo, ela e Austin começaram a falar. Agora ela ria de algo que o loiro tinha dito, embora ela não se lembrasse bem do que era.
- Certo, vamos ver - ela começou a contar a historia, sem nenhum motivo específico. Apenas tivera vontade de contar - Uma vez, logo depois de eu chegar à Islândia, Noelle invadiu o meu apartamento e disse "ponha uma roupa Ally, nós vamos procurar a aurora boreal"
Austin soltou um risinho anasalado, os olhos castanhos brilhando com as luzes do balcão. A mascara de sarcasmo e grosserias que o loiro vinha usando desde a chegada de dela, para esconder a dor que vê-la realmente lhe trazia, havia caído.
- E vocês acharam? - sua voz estava carregada de um fascínio infantil.
- Na primeira noite, não - ela admitiu, embaraçada - Mas Noelle não me deixou voltar pra casa enquanto não achasse. E nós achamos na terceira noite. Nós basicamente vivemos de bolinho e café durante esse tempo, dormindo no carro com o aquecedor ligado no máximo. Mas valeu a pena. Nós vimos duas cachoeiras e um lago vulcânico na estrada. Fomos parar numa praia bem ao norte, Dalvik, com uma areia muito branca e icebergs boiando no mar. E quando a aurora boreal apareceu, foi lindo, Austin. Você ia ter amado. Parecia que alguém tinha posto fogo no céu, um fogo verde, rosa e azul. E tudo refletia nos icebergs, foi a coisa mais linda que eu já vi.
Ela olhou atenciosamente para o loiro. Por um segundo, seus olhos brilharam ainda mais por baixo da nuvem do álcool - ela sabia que quase podia ver a imagem que ela descrevia. Mas no momento seguinte, os olhos perderam o brilho e seus ombros se curvaram sobre si.
Ally o olhou, preocupada. Sob o efeito do álcool, aquele leve curvar de ombros parecia algo extremamente alarmante. Do outro lado do bar, a jukebox trocou a musica, e alguém aumentou o volume até ser quase incomodo. Ela não reconhecia a musica, mas desejou que fosse um pouco menos dramática.
- Você aproveitou a vida enquanto esteve longe, não aproveitou? - Austin parecia melancólico. Ele havia resgatado um colar de dentro da gola do terno, e agora brincava com o pingente nos dedos longos - Você viajou, conheceu gente nova... Eu talvez devesse ter feito a mesma coisa. Eu basicamente virei um recluso, sentindo pena de mim mesmo por ter te perdido e não poder mais tocar.
Algo estalou na cabeça de Ally.
- Você não pode mais tocar?
O loiro sacudiu a cabeça.
- Eu quebrei a mão e rompi um ligamento do pulso. Nada de musica para mim. Não mais. Eu continuei nos spring kings por mais um ano depois disso, só cantando, até meu contrato expirar. E então eu saí. - ele optou por não contar como havia quebrado a mão. Não achou que a noticia de que ele tivera um acesso de raiva e socara uma parede seria bem recebida. Ele podia ver a expressão se formando no rosto de Ally: Uma compaixão esmagadora. Ela, mais do qualquer outra pessoa, sabia o quanto aquilo o havia devastado.
Continuou, desesperado para mudar de assunto antes que ela falasse qualquer coisa. - Mas então, você ficou com alguém desde a Islândia?
Bravo Austin, o rapaz pensou, saiu de um assunto constrangedor pra entrar em um pior.
Mas Ally não pareceu se incomodar. Ela deu de ombros, tomando um longo gole de sua bebida.
- Algumas pessoas - ela disse - Teve um cara na Itália, Valentin. Nós ficamos juntos por dois meses, e acho que ele foi o relacionamento mais longo que eu tive depois de você. Eu fiquei com um cara por uma semana na Nova Zelândia, que chamava Jake. Fora isso, teve um ou outro cara com quem eu fiquei por um dia ou dois.
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Wonderwall
Fiksi PenggemarAllycia Dawson era uma garota problemática, cuja mãe era uma alcoólatra e o pai havia morrido quando ela tinha apenas seis anos, que teve que aprender bem cedo a amadurecer pra cuidar de sua progenitora e única família, deixando sua infância pra trá...