Acordei com um punhado de cabelos loiros na minha cara.
Austin dormia como uma criança, a bochecha esmagada contra o travesseiro, o edredom vermelho e azul puxado até o queixo. Com seu rosto corado e o cabelo luminoso, ele parecia ser todo rosa e amarelo.
Fechei os olhos e enfiei o rosto em seu cabelo fofo novamente. Eu nunca iria entender como ele sempre tinha cheiro de canela – certo, sua boca ter esse gosto era compreensível, já que vivia mascando chicletes de canela. Mas como o cabelo cheirava assim? Ele usava shampoos sem cheiro e não tinha perfumes. Era como um odor natural super condimentado.
– Hey - ele sorriu, mas depois fez uma careta - Ai. Eca. Que bicho foi esse que morreu dentro da minha boca?
– Bom dia - contive uma risada enquanto ele se levantava cambaleante e seguia para o banheiro. Usava calças de moletom pretas e uma camiseta da mesma cor, com os dizeres "I wish I was a unicorn!" escritas em branco. A meia de seu pé esquerdo havia desaparecido.
– Sabe que dia é amanhã? - O garoto reapareceu alguns segundos depois com uma escova amarela enfiada na boca, o que fazia sua voz ficar engraçada .
– Natal! - sorri, com a semifalsa animação de uma criança. Me sentei na cama, ajustando meu moletom bem a tempo de ver a cara indignada de Austin.
– E o que mais?
– O dia em que Jesus nasceu? - sorri inocentemente - Ou foi cristo? Sei lá, não vou a uma igreja desde que tinha seis anos.
– E o que mais?
– Papai Noel vai trazer presentes!
– E...
– Eu vou fazer biscoitos natalinos - sorri. Austin começou a parecer ridiculamente magoado, com a escova enfiada na boca e espuma começando a escorrer pelo lábio, então apenas amarrei o cabelo em um nó - E um bolo para o seu aniversario, obviamente.
O loiro sorriu, satisfeito, e voltou para o banheiro a fim de enxaguar a boca. Voltou correndo meio segundo depois e se jogou na cama.
– Humpf - me dobrei ao meio quando uma de suas pernas me atingiu na barriga - Isso, idiota. Me quebra no meio mesmo.
– Você sabe que eu te adoro - ele sorriu, presunçoso.
"Adoro". Essa era a palavra que usávamos ultimamente. Nunca "eu te amo". Eu entendia, claro. Austin basicamente nunca havia dito um eu te amo sincero na vida (certo, as brincadeiras e a vez em que estávamos bêbados não contavam). O primeiro eu te amo tinha que ser especial.
– E ai, o que quer fazer? - mudei o assunto, tirando sua perna de cima de mim. - Temos muito tempo livre antes de termos que nos arrumar para a festa dos wade.
– Cobertor, sofá, cookies, filmes legais. Agora.
Sorri. Nos levantamos em um pulo e descemos as escadas correndo. Austin levava o cobertor nas costas, como uma capa super densa, e travesseiros sob o braço. Corri imediatamente para a cozinha, em busca de guloseimas: dois hambúrgueres de microondas com molho extra, uma saco super grande de doritos, cookies e chocolate quente feito as pressas - qual é, éramos dois adolescentes morando sozinhos, e nenhum dos dois levava jeito com o fogão. Obvio que a dispensa da casa só tinha porcarias.
Austin apareceu atrás de mim para ajudar. Tomou o bule com chocolate quente de minhas mãos, junto com duas canecas e o saco de doritos. Depois de algum tempo morando juntos, já havíamos nos acostumado a presença um do outro. Trabalhávamos juntos sem nem mesmo precisar trocar palavras.
Voltamos para a sala, despejamos as guloseimas sobre a mesa e nos deitamos no sofá. A arvore de natal montada ha uma semana piscava em um canto. Austin jogou o cobertor sobre nós e deu play no DVD. Aquele dia não poderia estar melhor.
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Wonderwall
Fiksi PenggemarAllycia Dawson era uma garota problemática, cuja mãe era uma alcoólatra e o pai havia morrido quando ela tinha apenas seis anos, que teve que aprender bem cedo a amadurecer pra cuidar de sua progenitora e única família, deixando sua infância pra trá...