The dawn of a new life

55 5 2
                                    

Ally se encolheu um pouco mais dentro da banheira de água fervente. Podia sentir a água queimar a ponta dos seus dedos, mas não se importou. O silêncio do apartamento a estava esmagando.

Ela sabia que não ficaria assim por muito tempo. Em cerca de duas horas, Noelle apareceria, fugindo de sua tia e da sua culinária Islandesa péssima. Ela a arrastaria para um café de nome estranho no fim da cidade, pediria dois cappuccinos e começaria a tagarelar sem parar.

Mas por enquanto, o apartamento vazio parecia extremamente depressivo - talvez ele só estivesse refletindo o estado de espírito dela, ela não sabia dizer.

Ela estava se lembrando do sonho que tivera noite passada: Ela estava em um baile, com Austin ao seu lado. Seus cabelos eram dourados e brilhantes como o ouro, e eles dançavam. Tinham outras pessoas por ali também; Dez e Trish, Elliot e Cassidy, Tilly e Julian. Todos pareciam felizes.

Mas ela só tinha olhos para o garoto loiro a sua frente. Ele a olhava daquele modo adorável que sempre fazia quando pensava que ela não estava vendo - como se ela fosse a única pessoa no mundo todo.

E então, um vulto aparecera e o tomara dela. Uma garota loira, vestida de branco e cujo rosto era um borrão. Ela apenas conseguiu ver a boca com clareza, e ela se movia em uma única palavra, repetidamente:

Meu.

Sacudindo a cabeça, Ally se obrigou a deixar o sonho de lado. Ela prometera a si mesma parar de pensar no rapaz dos cabelos de ouro, mas ainda não obtivera sucesso, nas duas semanas em que estava ali.

Estendeu a mão num gesto suave como o bater de asas de uma borboleta, e apanhou um cigarro. Colocou-o nos lábios e acendeu.

Com uma tragada forte, ela se levantou da banheira, sentindo a água escorrer de seu corpo. Colocou o roupão peludo, agradecendo aos céus pelo termostato do apartamento. Do lado de fora, a temperatura estava terrivelmente abaixo de zero. Mas ali, dentro do apartamento quentinho, a temperatura se mantinha a satisfatórios dezoito graus.

Ela saiu do banheiro, olhando em volta do apartamento. Era cinza, como o resto do prédio. Definitivamente, pensou Ally, a depressão daquele lugar não era apenas um reflexo dela.

Os únicos moveis que ela tinha eram os que vieram com o apartamento: um sofá de dois lugares, uma mesa redonda com quatro cadeiras, uma cama de solteiro e dois criados-mudos, tudo preto. Ela até tentara melhorar um pouco o lugar: colocara fotos nas paredes do quarto, mas apenas serviu para deixá-la com mais saudades de casa. Noelle lhe dera um grande cobertor térmico e felpudo lilás, e haviam duas canecas solitárias sobre a pia da cozinha.

Ao invés de parecer um lar, parecia apenas uma casca vazia.

Ela foi até o quarto e pôs uma roupa quente. Desejou que Noelle chegasse logo e lhe tirasse daquela nuvem negra que era a depressão.

Ela sentia falta de Austin. Muita falta. Sentia falta dos cabelos que pareciam fios de ouro e dos olhos de chocolate derretido. Sentia falta das conversas que eles tinham quase todas as noites, um deitado de frente para o outro nos travesseiros.

Mais imagens do loiro encheram sua cabeça, contra a sua vontade, e ela se lembrou da primeira vez que o vira. Devia ter quinze anos. Dallas dormia na cama, e ela vomitava todo o álcool que consumira no banheiro. Se levantou e viu uma luz diferente no quarto. As luzes do vizinho estavam acesas pela primeira vez em anos.

Olhou pela janela e viu os cabelos loiros se movendo de um lado para o outro. Podia ser um truque da luz em seus olhos, mas Ally podia jurar que o rosto amargo do garoto estava coberto por hematomas. Jurou para si mesma que nunca falaria com ele.

WonderwallOnde histórias criam vida. Descubra agora