Everybody hurts

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Olhei em volta. Onde eu estava?

O lugar era um bar, na parte mais afastada de Miami. Um longo balcão vermelho era ocupado por homens e mulheres que bebiam loucamente. Garçonetes andavam de um lado para outro, servindo mais e mais bebidas aos clientes.

Olhei em volta novamente. Alguns clientes choravam enquanto bebiam, como se quisessem afogar as magoas. Vários adolescentes, nos quais eu duvidava que tivessem idade para beber estavam sentados em mesinhas.

Um cara passou ao meu lado, parecendo completamente bêbado.

– Hey, Gabe! - outro homem chamou, e o bêbado, que imaginei ser Gabe, se virou - Cuidado ai! Desse jeito vai ter uma overdose,

– Vai se ferrar, Chester! - o bêbado gritou, e saiu cambaleando pela porta.

– Esse ai não tem jeito - uma voz extremamente familiar me fez saltar da cadeira - Trás mais uma dose, Mary!

– Tem certeza, Penny? - uma garçonete de cabelos loiros, que devia ser Mary olhou preocupada para minha mãe - Já foram oito doses! Daqui a pouco vai ficar parecendo o gabe.

– Só que muito mais bonita, você quer dizer. - minha mãe sorriu, entornando o como de uma vez só. Ela estava visivelmente bêbada - Eu estou completamente sóbria, querida.

– NÃO, NÃO ESTA! - gritei, mas ninguém pareceu ouvir - mãe, larga esse copo!

– Bem, eu já indo - minha mãe deu uma grande risada. Ela nunca ria assim, a menos que estivesse a ponto de ter uma overdose - Já são quase três e meia. A Ally vai me matar.

Foi a vez de Mary rir.

– Ela parece ser mais sua mãe do que vice versa, Penny.

– Ela é o meu anjinho, Mary.

Minha mãe colocou um bolo de notas em cima do balcão e saiu do lugar. A segui, entrando no carro ao seu lado.

– MÃE, PARA! - gritei com todo meu fôlego. Lagrimas brotaram dos meus olhos assim que compreendi o que iria acontecer. Senti o desespero tomando conta de mim – Por favor... sai desse carro.

Ela começou a acelerar. Sabia que ela não podia me ouvir, mas continuei falando. As arvores lá fora já pareciam um borrão por conta da velocidade

– Mãe – choraminguei – Por favor...

Ela pareceu me ouvir. Tarde demais. Virou a cabeça em minha direção, e um segundo depois ouvi uma buzina estridente. Minha mãe arregalou os olhos e se virou para frente, bem a tempo de ver dois faróis vindo de encontro com o carro.


Acordei gritando. Passei as mãos pelo rosto e percebi que chorava. Muito. Me sentei na cama e olhei instintivamente para a janela de Austin. As luzes estavam apagadas, e ele não se encontrava em lugar nenhum.

Senti um nó de angustia se formar em minha garganta. Corri para o banheiro e me ajoelhei em frente ao vaso. Coloquei o dedo indicador na garganta, provocando ânsias. Senti a bile invadir minha boca e coloquei tudo que havia comido naquele dia pra fora. Limpei a boca e me levantei. Fechei a tampa da privada e peguei a pequena caixa de laminas no meu armário , tirando uma lá de dentro. Estendi meu pulso, mas fui impedida pelas grossas ataduras que o envolviam.

– Droga – murmurei

Olhei para minhas pernas e tive uma ideia. Puxei a barra do meu short e pressionei a lamina ali. Como de costume, não senti dor quando a lamina deslizou pela minha pele, arrancando um filete de sangue.

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