Dance, Ballerina

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As segundas nós tínhamos aula extra.

Dez tinha artes. Trish fazia teatro. E Austin e eu frequentávamos a feliz aula de musica da senhorita Evans.

Naquele dia, logo que entramos a sala, notei que havia algo diferente. A sala não se encontrava na costumeira bagunça permitida pela professora, mas sim com todas as carteiras dispostas em um perfeito semicírculo ao redor do pequeno palco, onde senhorita Evans estava sentada. Seus pés, calçados de coturnos, balançavam de um lado para o outro sem encontrar o chão.

Austin tomou minha mão na dele, e gentilmente me guiou até algumas carteiras vagas próximas ao palco. Por um misero segundo, imaginei ter visto um sorriso cruzar o rosto da sempre carrancuda Emma Evans ao notar nossas mãos unidas.

Quando enfim os últimos alunos chegaram a sala, senhorita Evans pulou do palco e andou até o centro do semicírculo. Todas as pessoas na sala a seguiam com olhos curiosos e silenciosos

– Bem, crianças – sorriu docemente. - imagino que todos estejam muito animados com o fim de ano, não? Faculdade, formatura, morar sozinhos....

Sua voz tinha um sarcasmo desprezante típico dela, embora seus olhos a desmentissem; estavam radiantes de orgulho de cada aluno que passara na faculdade.

– Então, presumo - continuou - que todos já tenham terminado seus trabalhos. Estou certa?

Todo o encanto de ver srta. Evans feliz se dissolveu em um pequeno desespero que brotou em meu peito. Droga, droga, droga! Como pudera me esquecer de um trabalho tão importante quanto esse?

Um burburinho eufórico havia preenchido a sala. Estava mais que na cara que quase todos haviam se esquecido.

– Claro, professora, todos nós fizemos o trabalho - zombou srta. Evans, imitando a voz de um coro de crianças. Por um momento, seus olhos pareceram se fixar exatamente em minha direção - bem, queridos, eu vou explicar uma coisa. Por mais que alguns alunos possam pensar, a aula de musica pode fazer vocês repetirem. Então, se pretendem entrar em alguma universidade... é melhor começar a estudar.

Pov tilly.

Cambaleei pelo estreito caminho de pedras que levava a porta dos fundos de minha casa.

Eu tremia de frio dentro de meu casaco, mas tentei não me incomodar. Eu podia ver minha respiração se condensando no ar gelado. As "terras ensolaradas" dos estados unidos supostamente não deviam ser assim.

Por um momento, permiti que minha mente se distraísse.

Grande erro.

A imagem de minhas mãos sangrentas apareceu por tras de meus olhos, não clara quanto fora no dia do ocorrido.

Essa imagem me atormentava a exatamente um mês, depois de segurar os pulsos de Allycia tão forte que seus cortes se abriram sob meus dedos. Mais tarde, naquele dia, havia passado horas tentando descobrir como fora tão idiota a ponto de não sentir minhas mãos se ensopando e da expressão de dor de ally.

Naquele mesmo dia, eu saíra da escola sem pedir permissão. Vagara sem rumo pela cidade até achar minha casa. Estava chorando tanto que Jenna, a governanta, ficara sem saber o que fazer. E ela sempre sabia o que fazer.

Ver aquele sangue em minhas mãos havia sido como um choque de realidade. Eu era um monstro. "Maligna, desalmada, destruidora, monstro..." diziam vozes em minha cabeça incessantemente. Eu já havia me convencido de que elas estavam certas.

Agora, um mês depois do ocorrido, eu ainda acordava no meio da noite, com lagrimas nos olhos e gritos sufocados na garganta.

– Querida? - uma voz adentrou em minha mente - Tilly, querida, você esta bem?

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