Do outro lado da rua, o vento soprava entre as folhas secas das árvores, revelando o outono. As folhas caíam sobre o jardim do prédio do outro lado da rua quase inabitado. O tempo estava relativamente frio, porém, o sol iluminava a manhã. Era só mais um dia, onde eu olhava da janela do meu apartamento com o meu caderno de desenho em mãos, observando o movimento dos pequenos carros e aqueles pontinhos pretos que eram as pessoas, até que a janela me proporcionava uma vista ótima.
São Paulo nunca foi de parar, seja de dia ou de noite, tem sempre pessoas ou carros zanzando pelas ruas. Com o meu caderno de desenho, eu procurava desenhar tudo aquilo que surgia de inovador naquela rua, apesar de que nesses últimos dias está tudo exatamente igual, o prédio da frente continua quase totalmente vazio, a minha vizinha do lado não para de beber bebida alcóolica, minha mãe tendo excesso de limpeza na casa, meu pai sempre trabalhando e meu irmão Gustavo que está cursando faculdade de arquitetura. A imaginação e o desenho correm no sangue da família.
É uma vida boa para mim. Claro que queria um pouco mais de atenção da parte do meu pai, mas nada que me torne depressiva e revoltada com a vida, na verdade já até me acostumei, e gosto de saber que mesmo em sua ausência, ele me ama e eu o amo.
- CECÍLIAAAAA! - Chama-me dona Célia, percebe a semelhança nos nomes?
- JÁ VOU! - Grito de volta. Guardo meu caderno de desenho na mochila já arrumada para hoje. Passo pelo corredor e encontro Mostarda, meu adorável cachorro. - Bom dia Mostarda, sonhou com bifes hoje? - Cumprimentei-o.
Desço as escadas e encontro a família toda na mesa tomando café. Papai está lendo jornal, mamãe está limpando uma sujeira na mesa e Gustavo como sempre, me recebe muito bem.
- Bom dia pirralha. - Ele diz rindo. Mas no fundo, ele me ama.
- Bom dia linda família. - Digo sarcasticamente.
Preparo o meu café tranquilamente, sabendo que hoje será um dia como qualquer outro.
- Vou te levar para o colégio hoje filha. - Diz meu pai, abaixando o jornal de sua cara.
- Por quê? Você nunca fez isso. - Digo estranhando.
- Só quero mudar um pouco a rotina. Vamos logo antes que fiquemos atrasados. - Ele disse, levantando-se e vestindo seu paletó que antes, estava nas costas da cadeira.
Levanto-me e o sigo até fora de casa, o carro está estacionado em frente de casa, logo entro no mesmo e coloco o cinto.
- Desculpa filha. - Ele diz, depois de se acomodar no banco. Sua mão está sobre o volante e ele ainda não deu partida.
- Pelo o quê pai? - Digo, sentindo a tristeza que emanava dele, eu não sabia a razão disso.
- Eu sinto muito se não tenho sido um pai presente, e que não estava aqui nas fases importantes da sua vida. Eu fiquei tão obcecado em dar o melhor pra você e seu irmão que não me toquei de que o melhor que eu poderia dar a vocês era o meu carinho e amor. - Ele disse, e vi algumas lágrimas descendo por seu rosto.
- Pai, não fale assim. Tudo o que você fez foi pensando na gente. Você sacrificou a sua presença aqui para nos dar o melhor. E mesmo que você estivesse no Japão eu e o Gustavo te somaríamos da mesma forma. Porque você é meu pai e nada vai mudar isso. - Eu disse, deixando rolar pequenas lágrimas por minha face.
- Eu vou mudar Lia, prometo que vou. - Ele disse pegando na minha mão.
- Sei que vai pai. Confio em você. - Eu disse, sorrindo sem mostrar os dentes. E então nos abraçamos. Como fechamento da promessa. Depois que nos separamos, contei o que se passava nos últimos dias. Rodolfo é um ótimo pai para mim, em qualquer lugar que ele estiver.
Não demorou muito para chegarmos ao colégio, eu tinha acabado de voltar das férias de julho e dava para perceber a minha indisposição de longe, era só parar para ver as minhas olheiras das madrugadas que virei desenhando com meu irmão ao som de Legião Urbana, e a minha cara de preguiça, até porque quem fica animado de voltar das férias de julho? Claramente eu não era uma dessas pessoas.
- Tchau pai! - Me despedi fechando a porta do carro.
- Até mais tarde filha! - Ele diz e logo após sai com o carro.
Vou caminhando até o portão azul e amarelo, iria começar de novo a mesma rotina...
- Bom dia Chico! - Cumprimentei o porteiro com um sorriso amarelo
- Bom dia Lia! - Ele retribui o sorriso.
Chico era um ótimo porteiro, fiz amizade quando um dia cheguei digamos... um tanto atrasada para a aula por conta do Mostarda, que resolveu fazer meu caderno de Matemática de brinquedo e deixá-lo completamente babado, e tive que esperar o sinal da 2ª aula.
Assim que vejo Júlia, sigo até um banquinho que tem perto do portão de entrada onde ela está sentada.
- Oi Jú - Falo com ela sentando ao seu lado e jogando minha mochila do outro lado do banco.
Júlia é minha melhor amiga, adora tocar teclado, é doce como um limão e simpática como uma mula, por isso adoro ela (cá pra nós, ela tem suas fofuras), possui cabelos curtos e liso de tom castanho, olhos pretos e puxadinhos.
- Shhhhh - Ela fala escrevendo rápido até demais no seu caderno, que parece ser de Geografia.
- O que aconteceu? Um passarinho comeu seu dever de Geografia? - Digo zombando.
- Olha - Ela finalmente para de escrever e põe a caneta perto da boca parecendo pensativa - Até que não é má desculpa para dar. Não, fui eu que não fiz mesmo.
- Do jeito que a professora Matilda é, ela não gostaria de ver uma questão em branco, ainda mais quando se teve as férias para fazer. - Falo ainda observando ela escrever no caderno.
- Espera... Droga, eu esqueci que também não terminei na sala. - Dou um pulo abrindo a mochila e pegando o caderno com um lápis jogado lá no fundo.
- Opa, acho que eu também não sou a única esquecida por aqui, NÉ? - Ela enfatiza o "né" com uma tosse.
~ O sinal da aula toca ~
Droga, droga, droga.
Estou totalmente enrolada, ainda mais quando se trata da professora Matilda, eleita pelos alunos como "3ª idade", devido ser muito velha e além de tudo, bem rabugenta.
Nesse momento, estou segurando as mãos da Jú, desejando boa sorte uma para outra por que iremos realmente precisar.
Entramos na sala e sentamos nas cadeiras do meio, da fila da parede. Sento de lado e fico observando o caos da sala, Babi e suas duas escudeiras que odeiam eu e a Jú, fofocam com os celulares nas mãos, e os meninos colocam o papo de futebol em dia.
Ouço um forte barulho de alguém batendo na porta. É a Matilda, todos sentam e ficam virados para frente, inclusive eu.
Me desejem boa sorte.
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Olá leitores! Eu faço parte da dupla "Duplamente Únicas", e meu codinome será:
~ Rabiscada
Por que? Vou explicar.
Sabe quando você está escrevendo compulsivamente no caderno com sua caneta, versos e versos ou linhas e linhas, que você coloca todo o seu sentimento no papel e depois percebe que sua mão está toda rabiscada? Então! Por isso mesmo, eu fico muito rabiscada escrevendo cada capítulo para vocês. (Apesar de escrever pelo computador, mas entenda como uma metáfora).
Então é isso! Prazer, Rabiscada! :)
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OI GENTE! Aqui quem fala é a Gosh, sou uma das Duplamente Únicas. Meu codinome vai ser:
/Gosh
Aí você se pergunta 'Isso significa que você é gótica?' Haha não, mas gosto bastante de preto e lembra meu estilo de vestir e tudo mais. E é isso, espero que gostem da história.
Um beijo, um xero e um queijo. Até a próxima!
Primeiro capítulo publicado em 13/01/16
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Do outro lado da Rua
Teen FictionEntre rabiscos, linhas, cores e esboços, Lia vive sua paixão por desenhos em uma pequena cidade de São Paulo. Tendo uma mãe com excesso de limpeza, um pai ausente e um irmão cursando a faculdade, ela se vê um pouco sozinha no mundo. Do outro lado da...