Capítulo vinte dois

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Do outro lado do que eu ainda conseguia raciocinar eu via Márcia ainda me olhando em forma de apoio, eu ainda estava totalmente perplexa com o que ela acabara de me falar. Meus olhos se encheram d'água, se eu já estava desnorteada com o toque de Pedro depois disso então eu estava totalmente sem chão.

— O que aconteceu com ele? — Eu estava de olhos arregalados e transbordando em lágrimas, seguro nos braços dela para que me diga logo.

— Fica calma Lia — Ela fala também segurando em meus braços para me acalmar — Seu irmão sofreu um acidente hoje de manhã, e precisamos ir direto para o hospital.

Eu confirmo com a cabeça e solto os braços dela que eu estava segurando com força. Pedro me vira em sua direção, me olha profundamente como se quisesse dividir a tristeza que eu estava sentindo e depois me acolhe no melhor abraço, aquele que eu posso chorar tentando tirar todos os meus pensamentos ruins que neste momento estão passando pela minha cabeça.

Voltamos para o acampamento com a ajuda de alguns policiais nos guiando pelo caminho certo, todos os alunos estavam reunidos em frente ao palco enquanto o monitor anunciava que todo o passeio havia sido cancelado. Não precisava nem dizer que todos ficaram grilados e todos os olhares me fuzilaram quando puderam me olhar. Mas eu não estava me importando, a única coisa que eu queria era saber como meu irmão estava.

Enquanto todos estavam recolhendo suas coisas inclusive Pedro que infelizmente não pôde me acompanhar, a professora resolveu me levar para o hospital no seu carro, ela não deu uma palavra sequer durante o caminho, talvez respeitando os meus sentimentos. No caminho eu só conseguia lembrar dos carinhos de Gus, de como ele cuidava de mim, me aconselhava, e me fazia rir mesmo nos piores dias. Era inevitável não pensar no pior, eu até me esforçava, mas era o que dominava os meus pensamentos.

Chegamos ao hospital que parecia particular e fomos até a recepção atropelando todas as pessoas que encontrávamos pela frente, eu já estava com as pernas parecendo gelatinas e as vistas embaçadas de tão nervosa.

— Meu irmão sofreu um acidente, eu preciso saber como ele está agora! — Eu bato no balcão enquanto falo com a recepcionista.

— Nome do paciente? — Ela pergunta calma, como se a situação fosse normal.

— Gustavo Tryan — Eu falo já me irritando com o quão calma ela transparecia.

— Neste momento ele está na UTI, ninguém pode entrar agora. — Ela me avisa, mas não desgruda os olhos do computador.

— Eu preciso ver ele — Pauso ainda perplexa com a frieza da recepcionista — AGORA! — Grito. Márcia me puxa para longe do balcão me acolhendo num abraço enquanto minhas lágrimas vêm à tona.

Ela afaga meus cabelos enquanto as lágrimas vêm em forma de enxurrada, mas eu ainda queria outra pessoa ali me dando o abraço que eu me sentia segura por mais que Márcia apenas queria me apoiar com a melhor intenção.

Depois de ela me levar para tentar comer algo devido eu não ter comido nada que me fortalecesse na floresta, só consegui engolir um suco de laranja que estava bem doce.

— Vou ao banheiro — Avisei Márcia me levantando da mesa da lanchonete, ela assentiu.

Caminho pelos corredores seguindo as placas, quando avisto no final do corredor o elevador se abrir, e Pedro sair de dentro dele.

Paro de caminhar e um frio invade minha barriga, e tenho a impressão de que não era só por causa das roupas molhadas e do ar condicionado ligado.

Pedro sai meio perdido e olha os corredores, até olhar pra mim. Sua expressão era de quem estava procurando algo e que finalmente encontrou.

De repente, tudo o que ele me disse invade minha cabeça, de como sou cruel, egoísta e de como o julguei mal. Tudo estava desmoronando, meu irmão em estado grave, ter me perdido na floresta com a pessoa que eu mais odiava mas que agora, seus braços eram o melhor lugar do mundo.

Do outro lado da RuaOnde histórias criam vida. Descubra agora