Segurei as alças da mochila e segui em frente. A cara da Júlia após me ver realmente não foi das melhores, ela revirou os olhos e rapidamente desviou o olhar. Quando vou chegando perto do portão, Pedro dobra a esquina correndo meio desengonçado eu diria, e vendo que o portão estava fechado faz uma expressão de derrotado.
— Corri três quarteirões para nada? — Ele fala tentando arrumar seu cabelo que estava bem fora de forma hoje.
— O que aconteceu? Enfiou o dedo na tomada? — Provoquei, com uma cara ironicamente horrorizada.
— E você? Perdeu o senso de moda? — Ele fala olhando para os meus pés. Afinal, o que há de problema com meus pés? Desvio meu olhar para eles.
Meu. Deus.
Além de brigar com Júlia, perder o horário, ter azar no elevador, e ainda ficar do lado de fora com esses dois, ainda venho com pares diferente de sapato? Céus.
— Sabe como é né, depois que perde a amiga, perde o senso do ridículo também. — Provoca Júlia, já era tempo de ela soltar uma dessas.
— Mudar sempre faz bem. — Falo dando de ombros.
— Eu não queria estar na sua pele em pleno intervalo... — Ele fala tentando achar Chico, o porteiro, que não estava por ali.
— Pois é então se você ainda não percebeu, o problema é meu se vou passar vergonha não é mesmo? — Digo seca.
— Que brava. — Ele fala levando a mão no peito como se estivesse ofendido.
— Só quero entrar logo, e apresentar a droga do trabalho de matemática. — Falo esbravejada, com o rosto entre as grades.
Espero que Bethany tenha imprimido o trabalho na casa dela como combinado, por que parece que professor resolveu me marcar, e se eu não apresentar isso... Ai, ai, ai.
Alguns minutos se passaram, e aquele silêncio estava aterrorizante. Até que finalmente, Chico resolveu aparecer com um cafezinho em mãos.
— ALELUIA! O velho apa... — Pedro indaga nas palavras. — O velho Chico apareceu. — Ele conserta sua frase, e solta um longo suspiro de alívio.
— Chico pelo amor de Deus, tenho um trabalho para apresentar hoje, libera aí? — Imploro, com a melhor cara de inocente possível.
— Olha pessoal, posso ter problemas ao liberar a entrada de vocês. — Ele fala transmitindo sinceridade.
— Chico, você não pode fazer isso com a gente! Por favor. — Resmunga Júlia.
— Já não estou muito bem em Matemática, imagina se esse trabalho valer a metade da nota, meu pai vai me matar! — Pedro diz desesperado.
— Tudo bem, mas somente desta vez, estamos entendidos? — Ele diz, nos olhando por cima dos seus óculos retangulares.
Nós abrimos um longo sorriso, pelo menos uma boa notícia. Ele destranca o portão e permite a nossa entrada nos aconselhando a não passar em frente á diretoria, entendemos o recado e vamos a caminho da sala.
Apenas espero que nenhum tipo de inspetor, ou professor passe por nós neste momento ou estaríamos condenados á diretoria.
- Será que o professor deixa a gente entrar? – Pedro sussurra, enquanto andamos pelo corredor tentando não chamar atenção.
- Não sei, mas o que nos resta é tentar. – Sussurro também.
- Boa sorte para nós, vamos precisar. – Júlia sussurra.
Ao chegarmos na sala batemos na porta, a turma estava arrumando as carteiras em duplas.
- Ora, ora, ora, o que houve dessa vez? – O professor pergunta ao abrir a porta.
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Do outro lado da Rua
Novela JuvenilEntre rabiscos, linhas, cores e esboços, Lia vive sua paixão por desenhos em uma pequena cidade de São Paulo. Tendo uma mãe com excesso de limpeza, um pai ausente e um irmão cursando a faculdade, ela se vê um pouco sozinha no mundo. Do outro lado da...