Capítulo vinte e cinco

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Do outro lado do corredor, eu via um bebê chorando bastante. A mãe parecia tentar acalmar e acalentar talvez uma cólica que o bebê sentia, mas de nada adiantava. Era assim que eu me sentia. Nada poderia me acalmar agora.

Eu e minha família estávamos na sala de espera, continuávamos aguardando notícias do Gus.

Faz tanto tempo que não o vejo comparado ao tempo que passamos juntos, sinto falta de abraçá-lo, de ir a seu quarto e deitar na sua cama enquanto ele faz trabalho da faculdade, sinto falta de suas massagens no meu pé, sinto falta de apenas saber que ele está bem.

O mesmo médico que nos dera a notícia da cirurgia aparece na sala de espera com sua típica prancheta.

— Então Doutor? Alguma notícia? — Mamãe pergunta, depois de termos nos levantado e ido até ele.

— Sim, mas não são boas. Gustavo Tryan acaba de entrar em coma. A cirurgia não parece ter dado resultado e agora não podemos fazer nada, a não ser esperar que ele acorde. Eu sinto muito. — Ele diz e sai rapidamente.

Mais lágrimas descem por meu rosto, meu pai abraça minha mãe, que se desespera tanto quanto eu. Acabaram de enfiar mais uma faca no meu coração, mais dor, pensei que fosse impossível sentir tanta dor. Mas me enganei, me enganei feio.

Andei pelos corredores ainda chorando e desesperada por um consolo, um abraço gentil dizendo que tudo irá ficar bem. Cheguei na lanchonete e avistei Júlia com um sanduíche gigante em mãos prestes a dar uma mordida épica. Seria cômico se não fosse nestas circunstâncias.

Sento-me na cadeira de frente a ela que me olha confusa.

— Ele... - Soluço. — Ele está em coma. — Digo por fim desabando mais uma vez. Júlia percebe a situação e arrasta sua cadeira ao meu lado, logo me abraça, realizando meu desejo anterior. Ela afaga meus cabelos enquanto choro descontroladamente em seu peito. Era muita dor, muita dor...

— Lia, você precisa sair desse hospital. Vamos pra casa. — Júlia diz no meu ouvido.

— Não! Não o Gus precisa de mim. Ele...

— Lia você conhece Gus melhor do que eu e sabe que ele te mandaria ir pra casa, tomar banho, comer alguma coisa e dormir. Não é mesmo? — Júlia diz arqueando uma sobrancelha.

— Sim, ele mandaria sim. — Falo refletindo.

— Então? O que me diz? Hum? — Ela diz olhando nos meus olhos. — Eu ouvi um sim? — Ela diz colocando a mão na orelha.

— Sim, ouviu. Vamos logo. — Digo rindo dela.

Decidimos pedir ao meu pai nos levar, que aceitou de bom grado. Deixou minha mãe no hospital enquanto nos levava pra casa, depois de passar na casa da Júlia para pegar seus pertences.

Papai estacionou em frente ao nosso apartamento. Júlia estava no banco de trás comendo um sanduíche, este que ela trouxe do hospital e a embalagem fazia um barulho constrangedor.

Olho para meu pai que estava com os olhos fixos na rua, agarrando o volante com força.

— Pai? Está tudo bem? — Pergunto preocupada.

— É tudo culpa sua. — Ele sussurra, virando seu olhar para mim.

— Espera. O quê? — Pergunto ainda mais confusa.

— Gustavo sofreu um acidente com o carro dele indo para aquela escola de Artes da cidade para matricular você, Lia. — Papai olha para a estrada de novo.

A surpresa. A surpresa que ele disse que talvez eu teria. Era isso? Ele está em coma por minha causa?

— Se você não tivesse esse hobby clichê de desenhar, ele estaria aqui totalmente saudável. Gustavo é tão ingênuo que enxergou um futuro nesses seus desenhos. E olha só? Na primeira oportunidade de ele levar isso adiante, ele sofre esse acidente. Por capricho seu. Por culpa sua. — Ele profere todas aquelas palavras como mais facas entrando no meu coração. Parte do que ele falara era verdade. Eu não podia negar, mas não levaria isso adiante.

Do outro lado da RuaOnde histórias criam vida. Descubra agora