Capítulo vinte e oito - Babi

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Babi narrando:

Eu fui uma menina ótima, até a quarta série. Tenho até hoje tudo que eu quero e minha família sempre foi de classe alta. Mas na verdade, eu era inocente demais para ver as coisas más da vida. Será que alguém já passou por algum tipo de problema que nem o meu?

Eu tinha cabelos longos e loiros como hoje, estudava bastante e tinha fama de CDF. Mas a partir da quarta série tudo mudou. O meu jeito de pensar, minha maneira de tratar os outros e até mesmo minha aparência corporal.

Câncer. Por que não ser apenas uma palavra ou um signo como qualquer um? Não. Tem que ser uma doença que mata aos poucos. As células tem que invadir os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo. E pode ter a sorte da pessoa vencer, ou ser vencido pelo câncer.

Eu tinha dez anos quando meu pai teve o câncer, era no estômago. Ele batalhou tanto e nunca perdia o sorriso ou muito menos a oportunidade de me perguntar como foi o meu dia. Enquanto eu o enchia de coisas que havia acontecido durante o dia ele não tinha o que falar, por que passava horas no hospital ou deitado. Ele não tinha história, e não pôde aproveitar o quanto queria.

Era dia de Natal quando ele veio a óbito, estava toda a família reunida. Minha mãe chorava tanto, que tinha crises de desmaio. Enquanto eu ainda não conseguia acreditar, era o meu pai, meu herói, a pessoa que perguntava como eram os meus dias. A pessoa que me mimava com chocolates, e roupas cor de rosa. Ele não estava mais ali, nem seus carinhos, seus abraços, suas histórias malucas, nem seus conselhos. Tudo tinha acabado.

Era tudo tão bonito se não fosse o câncer. De repente tudo pareceu ficar preto e branco, os dias não tinham mais graça, nem mesmo o céu tinha cor, me afastei dos meus amigos na tentativa de me isolar. O meu quarto sempre permanecia escuro porque era assim que eu enxergava a minha vida, pura escuridão. Eu pouco me importava com minha aparência muito menos se eu tinha comido algo durante o dia.

Por volta dos meus treze anos, eu comecei a ter sérios problemas de enxaquecas pelas horas sem me alimentar, ao que me levou a anorexia. Meu estresse era constante e mudei radicalmente até comigo mesma. Minha mãe que já tinha se recuperado da perda, resolveu me levar em um psicólogo, depois de várias seções conversando e me abrindo aos poucos, eu escutei uma conversa entre ela e o médico. Eu tinha entrado em depressão.

Pesquisei na internet depoimentos de como me livrar daquilo, tomava uma seleção de remédios, praticava atividades para ocupar minha cabeça, era um processo lento e por etapas, passei por vários tipos de médicos e todo mês eu fazia uma bateria de exames. Até tive que me ausentar certo tempo da escola, eu não me dava bem com ninguém. Às vezes eu não aguentava nem mesmo o professor, por isso eu era convocada a ir à diretoria quase todo dia. E com cerca de um ano de tratamento, eu estava voltando ao normal, porém, diferente.

Penso até hoje que não teve motivos para isso ter acontecido na minha família. Depois do tratamento eu não me importava com a opinião dos outros, tento sempre manter a minha aparência e ser a melhor, nem que para isso eu tenha que passar por cima de qualquer um que seja. Era como se eu nascesse de novo, porém, como uma nova Bárbara. Eu tenho motivos pra ser assim, sempre fui muito boa com todo mundo e às vezes até ouvia piadas por conta disso. Eu cansei.

Não vejo motivos para tratar todo mundo bem, a vida não me tratou assim. Na verdade, trato cada um como merece.

Meus planos sempre são bem planejados e requer muito tempo da minha parte, a maioria dos meus dias é gastando no shopping ou com as minhas amigas. Hoje em dia minha mãe sempre anda muito ocupada e não liga sobre o que eu faço ou deixo de fazer. Sua mente é atolada em livros e não repara quando eu sou chamada atenção na escola por alguma briguinha, para ela é tudo fase. Melhor assim, ela me aceita do jeito que eu sou.

Eu e a Lia nunca nos demos muito bem, sempre brigamos por alguma coisa. Desde que ela entrou na escola nunca fui com a cara dela, ela sempre roubava algum menino que eu estava ficando e sempre me vinguei por conta disso, eu não deixo ninguém roubar o que é meu. Pedro é um deles, depois do tal acampamento ele não responde as minhas mensagens, nem atende as minhas ligações e quando falo com ele na escola, ele sai e me deixa falando sozinha. Mas sei que no fundo ele não resiste aos meus encantamentos, logo estará caidinho por mim novamente. E claro, não vou deixar barato para a Lia.

Meu novo plano de vingança já estava sendo colocado em prática, iniciei mandando uma mensagem para Júlia alguns uns dias atrás.

FLASH BACK ON~

Me encontre amanhã as 13h,

na praça do final da rua. É importante.

-Babi

FLASH BACK OFF~

Tudo foi exatamente calculado, mais cedo antes de mandar essa mensagem eu tinha encontrado com Miguel. O queridinho estava arrasado, e ninguém melhor que eu para ajudar.

Eu o conheci através do Pedro, que sempre falava que o garoto não prestava. Pedro comentava que via Lia de vez em quando na praça do final da Rua com Miguel, eu ficava furiosa com essas espionagens que ele fazia. Mas era uma ótima informação. Também conhecia Miguel por ele morar do lado da minha casa, consequentemente fazendo a gente se falar vez ou outra.

Como eu sabia que Pedro havia passado esses dias com Lia no hospital, tratei de informar para Miguel que a Lia estava arrasada, coitadinha. E que precisava do seu apoio, ele todo afobado tratou de falar que iria ao hospital no mesmo dia, falei o horário certo para ele ir. Ainda o convenci de me encontrar na praça do final da rua depois que ele conversasse com a Lia, eu tinha algumas contas dele que foram parar na minha casa por engano, ele logo topou. Pronto, o primeiro passo do plano já tinha sido concluído.

Fui exatamente às 13h para a praça e tratei de me esconder entre algumas árvores que havia ao redor. Como eu esperava, Miguel chegou à praça com seu rosto tomado por lágrimas. Tive que conter o meu riso, a cena era cômica.

Um tempo depois chegou Júlia, eu sabia muito bem que ela não me esperaria no tédio sem conversar com Miguel que estava bem ao seu lado. E assim foi tudo como eu planejei Júlia até tinha conseguido o fazer rir. E bem na hora Lia apareceu, a cena que eu queria finalmente estava formada. Miguel saiu zangado e nem deu importância à querida Lia. Por que é exatamente assim que ela deveria ser tratada, como um ninguém.

Agora eu estou planejando minha segunda parte do plano. Ela não perde por esperar.

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OI GENTE! Aqui quem fala é a Gosh.

MEU DEUS DO CÉU! Babi passou por tanta coisa, mas acho que não justifica ela ser assim né.

Viram o quanto maléfico o plano dela é? Coitada da Liazinha, alguém avisa sobre o perigo que ela está correndo? :((((

Espero que tenham gostado do capítulo <33 Quase que ele não sai hoje.

Rabis não dá sinal de vida desde ontem, eu também não faço ideia do que aconteceu :/

Beijunda.

/Gosh

Do outro lado da RuaOnde histórias criam vida. Descubra agora