Capítulo trinta e um

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Do outro lado da rua, a grama verde reluzia convidando a atravessar a rua e deitar-se em cima dela, os raios do sol batiam na minha pele provocando uma ardência irritante. Eu descia as escadas do colégio totalmente arrependida de ter vindo.

Foi um dia como qualquer outro. Enquanto muitos estavam reclamando do calor, reclamando de tanto copiar, reclamando que a próxima aula seria de matemática, eu estava totalmente indiferente.

Para mim, não me importava o quanto eu estava copiando, não me importava a temperatura elevada do verão, não importava quais seriam as próximas aulas ou quão chatas elas seriam.

Eu só queria estar com Gus.

E cada vez que eu pensava nele (que era quase sempre), eu precisava me controlar como nunca me controlei na vida para não sair pela porta chorando.

Era simplesmente insuportável cada segundo de agonia, cada segundo pensando no que acontecerá, cada segundo de dor, cada segundo de desespero, cada segundo de remorso, cada segundo de solidão.

Insuportável.

E eu me pegava me perguntando até quando eu suportaria tudo isso.

Cada passo que eu dava até minha casa era involuntário e automático, eu não sorria, eu não falava, eu não resmungava.

Eu não reagia.

Não reagia pelo mundo continuar rodando sem Gus, não reagia por cada sorriso que eu via em rostos desconhecidos estarem felizes sem o Gus, não reagia a nada.

É egoísmo eu sei. Mas não consigo evitar.

Cheguei em casa totalmente morta. Mostarda correu até mim afobado, mas como sempre ultimamente, eu não reagi.

Subi ao quarto e me joguei na cama.

Fiquei deitada desejando dormir e acordar quando tudo estivesse bem.

(...)

De tarde, quando acordei e belisquei meu almoço, minha mãe eu decidimos ir ao hospital para ver Gus.

Não ver, já que ainda estávamos impossibilitadas de vê-lo. Mas pelo menos ir...e...bom, alimentar a esperança de vê-lo novamente.

Ao chegarmos lá, deparamo-nos com uma moça revoltada na recepção.

— Eu PRECISO vê-lo, moça! — Ela gritava batendo a mão em forma de punho na mesa. — Deixa de ser egoísta e digita nesse maldito computador Gustavo Tryan! Please! — Ela suplicou novamente.

— Querida, ninguém pode vê-lo agora. — A recepcionista respondeu calmamente.

A moça então, virou-se revoltada e nos viu, parou assustada em nos ver. Agora, eu me recordava completamente de seu rosto delicado. Seus cabelos ruivos, volumosos e cacheados, pulavam e dançavam enquanto ela se mexia, seus olhos verdes tão transparentes quanto eu me lembrava, e suas sardas minuciosas pelo seu rosto, tão fofas quanto eu me recordava.

— Lívia? — Pergunto incerta, me aproximando para ter certeza.

— Cecília! — Ela disse abrindo um sorriso enorme e abraçando meu pescoço fortemente. — Garota, como você cresceu! A última vez que te vi você estava com nove anos e banguela! — Ela disse ainda feliz prestes a me sufocar com seu abraço.

— Lívia, você não mudou nada! Continua a mesma de sempre! — Eu disse quando nos separamos.

— Continua linda né mocinha? — Mamãe disse emocionada a abraçando também.

— Como nos achou? — Pergunto-lhe e logo o seu sorriso desaparece de seu rosto.

— Bom... — Ela dá um sorriso tristonho e se senta nas cadeiras de frente ao balcão, ao que eu e minha mãe acompanhamos. — Faz uns meses que comecei a faculdade de Arquitetura, e desde o primeiro dia que encontrei o Gustavo, não nos deixamos de falar um dia sequer. — Ela olha para baixo suspirando.

Do outro lado da RuaOnde histórias criam vida. Descubra agora