Do outro lado da rua, daquela pequena cidade de São Paulo, o tempo estava incrivelmente quente. Não só sentia como também era o que dizia a sessão de meteorologia do jornal.
Não espiei mais Pedro pela janela, decidi que por mais que a minha hipótese seja verdadeira eu não me deixaria abalar por isso. Até porque estou aqui a mais tempo que ele, e contanto que eu fique na minha e ele na dele, podemos ter uma boa vida.
É claro que eu poderia estar totalmente enganada, mas um pouco de otimismo diante dos problemas até faz bem.
E aqui, durante o almoço com mamãe e Gustavo, eu estava aproveitando um dos poucos momentos em família.
- Como foi seu dia hoje querida? – Mamãe pergunta, com suas maçãs do rosto grandes e rosadas e aquele sorriso singelo que faz seus olhinhos fecharem.
- Foi bom, apesar de eu ter mais um novo trabalho não dá pra reclamar. – Digo dando de ombros.
- O meu dia foi ótimo, estudei muito para a aula de hoje na faculdade. – Gustavo diz, sentindo-se orgulhoso.
- Muito bem meu filho, continue assim, não faz mais que sua obrigação. – Ela diz.
Reviro os olhos com aquela frase tão familiar para mim.
Gustavo sempre foi o mais inteligente da família, sempre o mais carinhoso também, eu amava muito meu irmão, principalmente por ele ser tão bom pra mim. Houve uma fase muito difícil, quando perdemos nossa avó, eu tinha 10 anos e ele tinha 14, eu chorei muito, ela era muito próxima a mim e a Gustavo também, mas ele sempre segurou as lágrimas por mim, sempre ofereceu seu abraço para me consolar e enxugar minhas lágrimas.
Hoje eu consegui superar minha dor, com o tempo conseguimos conviver com ela.
Após o almoço resolvi ir até a praça, levei meu caderno de desenho e meus lápis, queria poder redesenhar o pôr do sol, já que Babi rasgou o anterior.
Sentei no mesmo banco de sempre, e algo me chamou atenção.
Um garoto a poucos metros de mim sentado em um banco estava com um violão, um caderno e sempre que dedilhava sobre as cordas do instrumento, anotava algo em uma folha. Ele parecia da minha idade e era muito bonito. Sua pele branca em contraste com seus cabelos pretos, seus olhos brilhantes ao tocar no violão, seus dedos suaves o tocando com tanta serenidade e paixão, faria qualquer um se admirar.
Sem hesitar comecei a desenhá-lo, leves traços começando por seu tronco curvado sobre o violão, fui desenhando cada parte daquela cena tão admirável, logo meu desenho começou a ter forma, e modéstia à parte, estava muito bonito.
Mas de repente ele levantou sua cabeça e percebeu que eu estava o desenhando, soltou um lindo sorriso e eu retribuí, e como não estava longe, falei:
- Não se mecha muito, está ficando bom. – Passei o lápis mais uma vez pelo desenho, cada vez mais ganhando lindos traços.
- É claro, seja como quiser. – Ele disse, e como se não tivesse falado comigo, voltou a sua posição inicial do desenho.
Depois de muitos rabiscos, contornos, e sombras aqui e ali, consegui terminar.
- Terminei, quer ver? – Perguntei sorrindo.
Ele soltou uma risada e caminhou até onde eu estava sentada, deixando seu violão no banco onde estava. Assim que se sentou ao meu lado, começou a analisar minuciosamente o desenho, seus dedos passavam cuidadosamente por cada linha e curva do desenho, seus olhos pretos e profundos demonstravam alegria.
- Está incrível, você tem muito talento. Como se chama? – Ele perguntou, levantando sua cabeça para olhar-me melhor.
- Cecília, mas todos me chamam de Lia, e você? – Perguntei.
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Do outro lado da Rua
Подростковая литератураEntre rabiscos, linhas, cores e esboços, Lia vive sua paixão por desenhos em uma pequena cidade de São Paulo. Tendo uma mãe com excesso de limpeza, um pai ausente e um irmão cursando a faculdade, ela se vê um pouco sozinha no mundo. Do outro lado da...