Do outro lado da janela da recepção do hospital, eu via alguns carros estacionados. Alguns paravam na entrada do hospital desesperados. Provavelmente querendo saber sobre algum familiar doente, como eu há alguns dias atrás quando soube de Gustavo.
Mamãe e eu viemos ao hospital hoje saber mais notícias de Gus e, com alguma sorte, poder visitá-lo.
Tínhamos acabado de chegar e ela já estava na recepção tentando saber de alguma coisa. Vendo que ela começaria a se estressar, peguei um copo d'água pra ela.
— Mãe, — Toquei em seu ombro e ela olhou pra mim. — Senta um pouco e bebe um pouco de água. — Sorri calmamente a levando para se sentar.
— Obrigada, filha. — Disse sentando-se e bebendo um gole da água. — O médico do Gustavo tá ocupado agora, temos que esperar para saber algo.
— Não se preocupe mãe, vai dar tudo certo. — Sorri-lhe.
Mamãe sorriu em agradecimento e mexeu em meus cabelos.
— Vai passear um pouco pelo jardim do hospital filha, qualquer coisa eu te aviso. — Falou terminando de beber a água.
— Tem certeza? — Perguntei.
— Absoluta. E como você disse, vai dar tudo certo. — Afagou meu rosto e sorriu.
Depois de me certificar de que ela realmente me ligaria no celular caso soubesse de alguma coisa eu saí e fui para o jardim.
O jardim não era muito grande, provavelmente foi feito com o intuito de entreter pacientes e familiares. Era muito verde e cheio de flores. Também havia algumas palmeiras e plantas menores. Havia também bancos espalhados pelo jardim a fim de que pudéssemos sentar e apreciar a vista. E o mais lindo de tudo: um pequeno lago no canto do jardim cercado por uma cerca para que ninguém ultrapassasse. Não era muito grande, mas dava um charme a mais ao local e ainda tinha uma cachoeira que pegava a água do próprio lago para poder deixar a água um pouco agitada.
Era realmente tudo lindo e arrumado nos mínimos detalhes. Fiquei ali admirando a vista e pensando que logo logo eu veria o Gus novamente. Passei muitos minutos explorando cada canto do jardim e me lembrei de quando me perdi na floresta com Pedro. Na primeira noite, quando tivemos que dormir numa árvore bem abraçados, confesso, foi uma sensação maravilhosa.
Me perco nas lembranças de como nos aproximamos ali. Meu rosto já continha um sorriso involuntário só em pensar nos braços de Pedro ao redor de mim. Mas logo espanto esse pensamento. Jamais poderia ficar com Pedro.
— Lia? — Ouço uma voz e quando me viro, vejo ele.
— Pedro? O que você está fazendo aqui? — Perguntei confusa.
— Eu precisava falar com você. Fui no seu prédio e encontrei a Júlia. Ela me disse que você não estava em casa, que estava cuidando do Mostarda enquanto você não voltava do hospital. Encontrei sua mãe na recepção e ela disse que você estava aqui. — Ele disse ofegante.
— Calma, respira. — Soltei uma risada. — Mas, o que você quer falar comigo? — Cruzei os braços interessada.
— Lia, eu sinto muito. Me desculpa por ter agido feito um idiota. Eu não sabia que a mãe do Miguel tinha morrido e eu... — Ele respirou fundo e olhou para o lado tomando coragem. — A verdade é que senti ciúmes quando você saiu correndo para falar com ele. Senti ciúmes por você me deixar pra trás por causa dele. — Falou me surpreendendo. — Lia, desde o primeiro dia que te vi, você despertou em mim algo diferente que jamais tinha sentido antes. E quando nos perdermos na floresta e tivemos que ficar juntos, especialmente quando tivemos que dormir naquela árvore. Lia eu não sei o que está acontecendo comigo, mas a verdade é que eu não consigo tirar você da cabeça. — Deu um passo em minha direção e descruzei meus braços sem reação. — Fico passando aquela noite na minha cabeça várias e várias vezes. Aquela sensação de te ter em meus braços. Fico me lembrando de quando discutimos na chuva, de que você, mesmo com raiva e triste ao mesmo tempo, estava linda na chuva. E fico imaginando como deve ser o seu beijo... — Deu mais um passo e nossa respiração se misturou. — Como deve ser o sabor dos seus lábios, como deve ser bom ser o dono desse sorriso lindo que você tem e fico imaginando... — Pegou minha mão e colocou em seu peito. — Se o meu coração vai disparar ainda mais do que quando te vejo. — Ele olhou profundamente nos meus olhos e minha respiração ficou pesada. Meu coração acelerou com aquela declaração inesperada. — Lia, você é a única garota que fez eu me sentir assim. E eu não sei se é amor ou é porque eu gosto muito de você. Mas eu quero descobrir isso junto com você, Lia. Eu quero sentir isso cada vez mais, eu quero estar junto com você. Sei que não trouxe flores ou uma banda mexicana... — Soltou uma risada e eu ri junto. — Sei que não te levei pra jantar em um restaurante chique, sei que não te trouxe bombons e sei que isso não é o que você sonha que um garoto faça por você, mas eu vim aqui até você, vim aqui sozinho, para pedir que você seja a minha namorada porque eu não quero mais perder tempo longe de você, Lia. — Ele passou seu braço pela minha cintura e a outra ainda mantinha a minha em seu peito, sentindo seu coração acelerar.
Ele esperava uma resposta. Mas eu não sabia o que dizer. Isso foi tão inesparado, eu não sabia o que realmente sentia por Pedro.
As dúvidas começaram a me assolar, abaixei a cabeça confusa, mas Pedro levantou meu queixo me obrigado a olhá-lo nos olhos. O que eu deveria fazer? Dizer sim? E se não desse certo? E se ele me magoasse? E se ele estivesse apenas brincando comigo?
Meu coração se apertou ao pensar nisso e dei um passo pra trás sentindo as lágrimas rolarem. Olhei pra ele que estava confuso e decepcionado. Será que ele merecia a minha confiança? Será que ele realmente gostava de mim? E a Babi? Eles não estavam juntos?
Comecei a sair dali deixando-o para trás sem dizer nada. Eu não queria me magoar, não queria entregar meu coração e vê-lo destruído.
Então pensei em Gus e em como ele desejaria que eu fosse feliz. Lembrei dos momentos que passei com Pedro, apesar de poucos, e lembrei de como ele me fazia sorrir. Era verdade que ele também não saía da minha cabeça e o quanto sofri quando ele decidiu se afastar. Todas as dúvidas que eu tive se foram. E pensei que realmente poderia ser feliz com Pedro. E por que não? Que mal havia em eu dar uma chance a ele? Além do mais, eu não podia mais fugir dos meus sentimentos. Eu gosto de Pedro. Meu coração dispara ao vê-lo e a um simples toque dele eu já fico sem ar.
Parei de caminhar e andei para trás. Ele ainda estava de costas e era possível ver que estava muito triste.
— Pedro? — Parei atrás dele e ele se virou.
Olhei em seus olhos que agora estavam confusos e até esperançosos. Ele estava sendo sincero e meu coração pulava de alegria ao lembrar de tudo o que ele me disse.
Sem hesitar, o abracei. Seus braços agarraram minha cintura e meus braços enlaçaram seu pescoço, ficamos assim por um tempo até que olhei para seu rosto, ainda agarrada a ele.
— Tudo o que você disse...era verdade mesmo? — Perguntei hesitante.
— Cada palavra. — Encostou sua testa na minha e me olhou com uma intensidade que duvidava ser possível.
Abri um sorriso e acariciei seu rosto.
— Então eu aceito ser sua namorada. — Sussurrei próximo à sua boca.
— Hora daquele beijo? — Sorriu de lado.
— Não quero esperar nem mais um segundo. — Sorri também.
Então ele me beijou. Doce e devagar. Meus braços em seu pescoço puxava-o para mais perto. Ele me puxava para si com seus braços na minha cintura. Cada parte do meu corpo pedia por ele. Meu coração parecia que ía sair e soltar fogos de artíficio por tamanha felicidade. Minha pele se eriçava com seu toque e Pedro sorria quando eu acariciava seu cabelo da nuca. Nunca, jamais eu tinha sentido tudo isso ao beijar alguém. Se Pedro não estivesse me segurando, era capaz de eu cair pois minhas pernas estavam bambas por tamanha emoção. O fôlego foi acabando e nos separamos devagar. Agora suas mãos estavam no meu pescoço e nossas testas coladas ainda retomando o fôlego.
— Puxa o que foi isso?! — Ele perguntou e riu abrindo os olhos.
— Cala a boca que ainda não acabei. — Sorri e o beijei novamente.
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Do outro lado da Rua
Teen FictionEntre rabiscos, linhas, cores e esboços, Lia vive sua paixão por desenhos em uma pequena cidade de São Paulo. Tendo uma mãe com excesso de limpeza, um pai ausente e um irmão cursando a faculdade, ela se vê um pouco sozinha no mundo. Do outro lado da...