Depois que fiz aquela "cena", um sentimento de alívio dominou-me completamente. Aquele garoto precisava de alguém que lhe falasse algumas verdades, ele não deve pensar que beleza e força dominam o mundo, apesar de ser um pouco verdade, já que o mundo liga mais para um padrão de beleza e um padrão de força. O mundo está muito superficial e isso é o que devemos mudar, basta nos levantar e agir. Agir contra as coisas que destruíram o mundo da qual tivemos a dádiva e bela oportunidade de poder viver.
Depois que saí da cantina, andei pelo corredor até a biblioteca, algumas pessoas olhavam e cochichavam de mim. Parece que as notícias correm rápidas por aqui, mas eu não ligo. Quero mesmo que a escola toda saiba que fui a primeira a tomar uma atitude decente contra esses manés.
Quando cheguei na biblioteca, escolhi um livro, O Menino no Espelho de Fernando Sabino, esse livro é épico. A bibliotecária registrou e quando eu saí o sinal tocou. Andei até a sala, entrei e me sentei.
— O que foi aquilo na cantina? — perguntou Jú, batendo suas mãos à mesa.
— Pessoas comendo, ora. — falei, arqueando uma das sobrancelhas.
— Haha, muito engraçado! — ela forçou uma risada. — Eu quero saber qual o seu problema de humilhar o garoto daquela maneira? — falou como se fosse a coisa mais absurda do mundo.
— Eu fiz o que me deu vontade de fazer, aquele garoto merecia algumas verdades e não hesitei em dizer. – Falei, dando de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo, e era.
— É, sou obrigada a admitir que você humilhou o garoto. Mandou bem hein! — ela começou a rir, levantei minha mão para ela bater na minha, e ela o fez.
— Eu sei que sim meu bem, aquele garoto merecia uma lição! — falei arrancando algumas risadas dela.
O professor de Biologia logo entrou na sala, Jú foi sentar-se em seu lugar, eu me virei pra frente e o professor logo começou sua aula.
(...)
Finalmente o sinal tocou para a liberdade. A Jú não parava de falar sobre a nova série que ela estava assistindo, eu só fingia ouvir, já que minha cabeça estava só em sair logo daquele colégio, chegar em casa, comer um bom prato de comida e depois desenhar até o sol se pôr.
— Tchau amiga, até amanhã! — ela falou, despedindo-se com beijinhos no rosto.
— Até. — foi só o que eu disse, retribuindo os beijinhos.
Ela foi para um lado e eu para outro, a rua estava um pouco deserta já que eu era uma das poucas alunas do colégio que morava neste lado da cidade. Quando cheguei ao final da esquina, senti alguém pegar no meu braço e me puxar de supetão para o outro lado.
Eu já estava pronta para gritar quando uma mão tapou minha boca impedindo-me de falar.
— Shhh! — disse a pessoa, levantei o olhar e descobri quem era. Mordi sua mão e ele gritou.
— Pedro? Você é doido? Quase me matou do coração! — disse, soltando meu braço de sua mão, colocando-a no peito e controlando a respiração.
Ele pegou de novo no meu braço agressivamente, seus olhos eram frios e causavam-me terror.
— Vai se arrepender amargamente por ter feito aquilo. Espero mesmo um pedido de desculpas ou sofrerá as consequências. – ele ameaçou, sussurrando, o que causava-me ainda mais medo, mas não deixava isso transparecer.
— Larga-me agora! Não vou perder meu tempo argumentando com você! – sibilei, no mesmo tom, cerrando os dentes, nossos rostos estavam próximos de tanta ira.
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Do outro lado da Rua
Подростковая литератураEntre rabiscos, linhas, cores e esboços, Lia vive sua paixão por desenhos em uma pequena cidade de São Paulo. Tendo uma mãe com excesso de limpeza, um pai ausente e um irmão cursando a faculdade, ela se vê um pouco sozinha no mundo. Do outro lado da...