23. Alvo

471 33 74
                                    

Quinta-feira

26 DE OUTUBRO, 2017

Já me disseram que meus olhos transmitem esperança e serenidade. Que o azul representa tranquilidade e harmonia. Eu nunca acreditei muito nisso – apesar de ser comprovado cientificamente que cores apresentam influência para a saúde. Nunca acreditei pois gosto de azul desde criança e isso nunca me trouxe "esperança e tranquilidade".

Apesar de todas as vezes que ridicularizei a ideia, cá estou eu sentindo algo diferente ao encarar o azul leitoso do pingente. Não sei dizer se o sentimento vem da cor da pedra ou da pessoa que me presenteou. Desde o dia em que cheguei de viagem ele está guardado em um lugar especial. Não sei o que me levou a pegá-lo hoje.

Na verdade, eu sei. É por causa de ontem a noite.

Foi uma das mais divertidas que tive em semanas, ou até meses, e o dia terrível que tive virou um mero episódio que contradiz a minha ideia de que as coisas não irão melhorar.

Estou mais tempo do que o usual com Raynara hoje, já que Elena está ocupada organizando o Baile de Primavera. Não tive a chance de contar que fui com Justin a um restaurante. Contar por mensagem não teria a mesma emoção, eu quero ver o que ela irá falar, tenho certeza de irá surtar assim como faz toda vez me ouve mencionando o loiro. E quando mencionei o jantar com Ray ela não demonstrou nenhuma emoção.

Sério, nenhuma mesmo. Ela só deu um tapinha na minha coxa e disse: "legal". Para falar a verdade, estou surpresa por ela ter prestado atenção na história toda e ter guardado os comentários engraçadinhos para mais tarde.

Falando em Justin, trocamos poucas mensagens de manhã pois só temos aulas em comum hoje na parte da tarde e ultimamente o coitado está tendo que se dividir em dois para dar conta de todas as aulas regulares, extracurriculares e os esportes que se inscreveu. Raynara não conseguiu segurar a risada quando ele passou correndo por nós na troca de aulas e ao me notar, gritou algo indecifrável e continuou sua corrida até o campo, quase derrubando um aluno no processo.

A Ferrari de Elena estaciona em frente ao restaurante. Sorrio para ela, colocando o colar que Justin me deu no pescoço e escondendo o pingente dentro no cropped. Pego minha bolsa e jogo no ombro, levando na mão só o meu celular e batom.

— Oi. — cumprimento.

— Oi. Pronta? — ela sorri, apontando para o cinto de segurança.

Coloco o cinto e ela arranca com o carro. Há uma música tocando baixinho no rádio e estico a mão para aumentar o volume. O horário de almoço acabou há algum tempo. Tive alguns minutos livres antes disso, então saí para almoçar em um restaurante longe da escola, sozinha. Elena se ofereceu para me buscar.

— Não, deixa assim. — Elena pede. — Eu preciso conversar com você.

— Sério? Eu também. Não conversamos direito e eu preciso te contar o que aconteceu quando...

— Allison. — Percebo que o tom de voz da minha melhor amiga não é o mesmo de sempre. Ela não está brincando. — Seja lá o que você tenha pra dizer, não deve ser mais importante do que eu tenho que te contar antes de chegarmos ao colégio.

Ouch. O sorriso e a empolgação que levei a manhã toda para manter desaparecem em um passo de mágica.

— O que foi? — não quero perguntar, mas faço mesmo assim.

— Você olhou suas redes sociais nas últimas duas horas? Ou ontem a noite?

— Eu entrei no Twitter só, por quê?

Let Me Love You [JB]Onde histórias criam vida. Descubra agora