6. Droga, literalmente

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Domingo

17 DE SETEMBRO, 2017


Abrir os olhos nunca foi tão difícil como dessa vez. Sei que estou acordada há algum tempo, estou ciente dos sons à minha volta, mas abrir os olhos e encarar a realidade está sendo um verdadeiro sacrifício. Tento virar para a direita e meu corpo reclama, espalhando uma boa dose de dor em todos os lugares. Mesmo assim consigo sentir que estou deitada em algo macio. Viro-me de novo, tentando ignorar as partes doloridas, e dessa vez bato meu braço em alguém. Rapidamente tento me lembrar do que fiz na festa de Raynara, mas as últimas memórias que tenho são de mim e Denis dando uns beijos no topo das escadas, de eu bebendo e de alguém falando algo e eu rindo alto com isso.

Meu cérebro deu um sinal de alerta.

Droga, não posso ter transado com Denis!

Meus olhos se abrem de uma vez e não encontro a claridade intolerável, tudo está escuro. Procuro deixar minha visão estável e olho à minha volta. O quarto é familiar, consigo notar mesmo no escuro. No momento, essa não é minha preocupação número um.

Forço minha visão até poder identificar os cabelos loiros e longos.

Solto um suspiro de alívio. Os cabelos de Denis são longos e loiros, mas não tão longos quanto os de Elena. Ver minha amiga ali, e não o cara que peguei, quase me faz esquecer o quão quebrada estou. Quase. Por isso fico a encarando até ela acordar, abrindo um sorriso preguiçoso ao me ver.

— Tá escrito na minha testa "paisagem"?

Reviro os olhos.

— E eu é que sou mal-educada, né? — Abro um sorriso falso. — E na verdade está escrito "estou péssima"! Não, espera! Nem precisa estar escrito pra notar.

Ela bufa, enfiando a cara no travesseiro de novo e me ignorando. Solto uma risadinha baixa, olhando em volta. Estamos na minha casa, no meu quarto, e como fomos parar lá é uma boa pergunta. Estou vestida a mesma lingerie e uma blusa masculina que nunca vi na vida. E Elena apenas um conjunto de lingerie claramente de marca.

— Para de me encarar, sei que sou linda. — Ela murmura. Não respondo, ainda olhando em volta, tentando absorver alguma lembrança. — Você quer saber o que aconteceu, né?

Sento na cama, começando a alongar meus braços, sentindo partes do meu corpo estalar. Alongo minhas pernas e saio da cama de casal que tenho no meio do quarto, indo para o banho meio cambaleando. O que fiz ontem a noite para estar tão dolorida? Resolvi dar uma de ginasta ou algo assim?

— É, eu quero. Não lembro de muita coisa. E olha que eu mal bebi.

Elena senta na cama e fica encarando um ponto qualquer e imagino que esteja com tanta ressaca quanto eu. A deixo descansando e começo a fazer minha higiene matinal. Quer dizer, ainda está de manhã né? Né? Quando volto para o quarto, Elena está de pé enrolada em uma toalha, pronta para entrar no banheiro.

— Me espera lá embaixo.

Concordo.

[...]

― É tão grave assim? ― murmuro, bebendo outro gole de água, encarando minha melhor amiga por cima do copo.

Ela mexe no fogão, preparando algo para comermos. Raramente ela se voluntaria para cozinhar alguma coisa, mas hoje ela insistiu. Consigo contar nos dedos quantas receitas ela conhece – e o número diminui se formos contar com os ingredientes baratos que tenho em casa – porém, adoro tudo o que ela faz. Como não planejava ficar aqui, Elena precisou vestir minhas roupas e usar a escova de dentes que tem aqui.

Let Me Love You [JB]Onde histórias criam vida. Descubra agora