Parte II: Observação reflexiva

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— Desenhar? O senhor está me dizendo que tudo o que vamos fazer é desenhar? — estreito os olhos para ele, desconfiada. — Parece bom demais para ser verdade.

Rick dá risada.

— Não vamos desenhar, querida. Você gosta de desenhar e sei que se sente mais calma fazendo isso.

— Certo. E o que você quer que eu desenhe?

Passo os dedos pelos lápis disponíveis. Não são nem de longe os melhores, mas já desenhei com materiais piores.

— Essa é a parte divertida: você só vai pegar o lápis e deixar o seu subconsciente te guiar enquanto conversamos, acha que pode fazer isso?

— Isso é fácil. Geralmente é assim que desenho, me deixando levar. Às vezes sai algo muito bom.

— E nas outras vezes?

Travo por um segundo, mas finjo que nada aconteceu.

— Bom, eu apenas gasto papel, grafite e tempo.

Rick nega com a cabeça e me dá um sinal para começar. Seleciono o material de que preciso e o trago para perto de mim, no sofá, e Rick faz o mesmo, mas se mantém na poltrona marrom, com a mesinha entre nós. Sua postura informal e os lápis de cor quase me fazem esquecer o que realmente vim fazer aqui. Até que ele abre a boca.

— Como foi o seu feriado?

— Bom, e o seu?

Rick abre um sorriso gentil. Ele não vai me responder isso, é claro. Ele sabe que estou apenas ganhando tempo.

— Parece ter sido emocionante. Se tivesse sido chato, você já teria me contado.

Abro um sorriso fraco, sem levantar os olhos do papel.

— Está tão na cara assim?

— Literalmente. Você está sorrindo mais hoje. — ele ri. — Não disse isso para você parar de sorrir. O sorriso combina com você.

— Obrigada. — respiro fundo e conto até 10, sem perder o ritmo nos dedos. — Passei o Dia de Ação de Graças na casa de Elena, como sempre. Mas convidamos Justin e Nathan para o jantar. Alguns amigos foram tomar banho de piscina depois. Foi divertido.

— Soa bastante divertido mesmo. — ele apoia o lápis e analisa o seu trabalho até o momento. — É o Justin quem está te enviando mensagens?

Volto meus olhos para a tela do celular pela terceira vez desde que comecei a rabiscar. O nome de Tia Sophia brilha toda vez que uma nova mensagem chega, mas não consigo ler totalmente o que ela está enviando.

— Não, é a mãe de Elena.

— É urgente? Sinta-se livre para responder.

— Não, não é. — viro a tela de cabeça para baixo e ignoro. — Sophia... é a mãe da minha melhor amiga, e o único exemplo de mãe que eu tenho. Nós não estamos bem recentemente.

Não sei porque estou dizendo isso, mas estou. Confessar em voz alta faz meu peito se apertar um pouquinho. Me sinto mal por recusar o jantar e mentir dizendo que estou ocupada. Sei que ela sabe como passo minhas noites. Também estou ciente que me afastar dela a machuca como se sua própria filha a estivesse afastando.

Eu só... não consigo evitar.

— Por quê?

— Sophia demonstrou extrema compaixão comigo e eu não soube... reagir. Não sei. Ela estava preocupada, de verdade, e eu fui grossa com ela. No começo, achei que ela estava sendo intrometida e controladora.

Let Me Love You [JB]Onde histórias criam vida. Descubra agora