37. Parte I: Coruja

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— Espero te ver amanhã, querida. — a esposa do pastor acena para mim.

Concordo com a cabeça e aceno de volta. Fecho a porta do carro e tranco, vestindo a jaqueta jeans enquanto volto para o parque. Justin estava perto da barraca de pipoca quando me entregou a chave do carro, mas agora não consigo encontrá-lo em lugar algum.

Durante nosso passeio na vila, acabamos encontrando quase todos, senão todos, os que conhecemos na construção das casas ontem. Todas as pessoas foram super simpáticas, o que, de acordo com Justin, é um disfarce dos habitantes de cidade pequena para se aproximarem e descobrirem mais sobre você, a fim de terem uma nova fofoca no fim do dia.

Estou na ponta dos pés, tentando enxergar Justin entre as árvores e pessoas. Um simples empurrão foi o suficiente para me desequilibrar. Por sorte, consigo me apoiar na pessoa enquanto ela pronunciava seu pedido de desculpas.

Dou uma risada sem graça e solto a manga do suéter preto, erguendo a cabeça para encontrar o dono. Arregalo os olhos, dando dois passos para trás por instinto.

— Sr. Lester? — reconheço meu professor.

— Srta. Allison? — ele parece tão surpreso quanto eu.

Ele força as vistas para tentar me enxergar melhor. O parque é mal iluminado e parece ser o ponto de encontro de todos da vila e por esse motivo, mesmo sendo tarde da noite, há vozes altas por todos os lados.

— É. Oi, que coincidência.

— É verdade. O que está fazendo aqui, se posso perguntar? — o tom formal marca presença.

— Hamm... Eu estou aqui com alguns amigos. — A mentira sai naturalmente. — Lembra do Bieber? Acho que o senhor também dá aulas para ele. Ele tem uma casa aqui.

— Bieber. Claro. Não me diga que é aquele no trampolim. — ele aponta para Justin dando cambalhotas com um monte de crianças de 12 anos.

Reviro os olhos mentalmente para isso. Ele está justamente no único lugar que não procurei.

— O próprio. E o senhor? — ele está carregando um saco de pipoca doce e outro salgado, mas não vejo ninguém ao redor que pareça estar esperando por ele. Ele não nota que estou procurando.

— Ah, pode me chamar apenas de Philippe, não estamos no colégio. — Nós dois sorrimos, sabendo que isso não será possível. — Tenho uma casa nessa vila. Vim passar o dia de Ações de Graças.

— Sozinho? — dessa vez, olho em volta descaradamente, procurando seus familiares.

Philippe faz uma careta.

— Você é minha aluna. — ele diz, mais para si mesmo.

— Não aqui. — cantarolo, sentindo a curiosidade crescer.

Ele é o professor mais reservado que conheço. Sério, ninguém sabe nada da vida pessoal do cara. Encontrá-lo aqui é uma extrema coincidência e adoraria sair daqui com uma nova perspectiva do homem bonito à minha frente.

— Eu levei um fora na semana passada. Precisava de um tempo sozinho. — Ele faz uma pausa. — Se você rir, ou contar pra alguém, você surpreendentemente irá levar um -C no boletim. — Ele fica sério.

Coloco a mão na boca para esconder a gargalhada. Ele abre um sorriso contido e abaixa a cabeça, envergonhado. Parece ser a primeira vez que admite isso e, só por isso, me recomponho rápido. Quem seria maluca de rejeitá-lo? Mantenho a pergunta para mim. Só porque ele contou uma coisa ou outra sobre si, não significa que queira compartilhar segredos de sua vida pessoal com uma aluna.

Let Me Love You [JB]Onde histórias criam vida. Descubra agora