11. Café Irlandês

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Sexta-feira

6 DE OUTUBRO, 2017

O elevador abre as portas de metal no quinto andar, o silêncio que estava presente até nesse momento se foi. Várias vozes, apitos e barulhos estranhos começam a incomodar meus ouvidos, mas mesmo assim sigo o meu caminho. Desvio das pessoas vestidas de branco que atravessam meu caminho e continuo andando.

Meus olhos estavam focados na porta do quarto 453, quase no fim do corredor. Quando estava quase chegando lá, consigo ouvir vozes:

Eu sinto muito.

Vai ficar tudo bem.

Ei, ela está ligada ao caso que chegou durante a madrugada?

Aquela é uma garota órfã, pobrezinha.

Dizem que o pai a deixou porque ela é problemática.

Como os Wholiston a abrigaram?

A tragédia que aconteceu com a mãe é culpa dela.

― CHEGA! ― Grito, fazendo todos pararem e olharem para mim. ― Vocês não sabem de nada! Não sabem nada do que aconteceu naquela noite! ME DEIXEM EM PAZ!

Outro pesadelo. De novo.

Como minha mente pode ser tão má? Os detalhes que são colocados nos pesadelos são reais. Cada um deles. Desde o número do quarto até os sussurros que fui obrigada a escutar pelas minhas costas por anos.

Abro as janelas e jogo-me no sofá, tentando controlar minha respiração e as lágrimas. Talvez voltar a tomar os remédios seja uma boa ideia. Eles me dão sono e cortam o meu apetite, mas pelo menos... Pelo menos não vou ter pesadelos. Pelo menos vou poder dormir sem precisar lembrar de algo que já passou.

É uma agonia sem fim. Parece que estou voltando no tempo, quando tudo era mais recente. Mas naquela época eu tinha mais pessoas. Eu tinha Elena. Céus, como preciso da minha melhor amiga.

Apoio os braços cruzados na janela e o queixo no braço, fecho os olhos e tento ouvir o mar, mesmo sabendo que não é possível. A praia fica há umas duas ruas daqui. Olho para o céu que hoje abriga poucas estrelas, deve ser umas três horas da manhã agora.

Sem perder tempo analisando os lados positivos e negativos da ideia, vou até o meu guarda roupa e pego um moletom grande e tênis, visto os dois e saio de casa. Não tem ninguém nas ruas. Caminho lentamente em direção da praia e solto um suspiro de alívio quando começo a ouvir o barulho das ondas se quebrando.

Passo pela calçada de mármore e desço a rampa de madeira, logo sentindo meu tênis afundar na areia fofinha. Me sento ali mesmo e começo a brincar com a areia e a observar o mar.

Será que lá do outro lado alguém está me observando também? Eu gostaria disso. Eu me sentiria menos sozinha.

[...]

― Moça?

Abro meus olhos devagar, me acostumando com a claridade. Quando estou pronta, encaro a mulher na minha frente. Ela tem os cabelos caramelos presos num rabo de cavalo e veste roupas de corrida cor de rosa.

― Oi. Quem... Quem é você?

Ela está agachada na minha frente.

― Sou Ellie Hall. Corro por aqui todos os dias nesse horário, mas nunca vi alguém deixar de dormir na cama para dormir sentada na praia. ― Ela brinca, mas estou confusa demais para achar graça. A tal Ellie parece notar isso. ― Você está de ressaca ou algo assim? ― Pergunta, me analisando.

Let Me Love You [JB]Onde histórias criam vida. Descubra agora