30. Bon Voyage

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Terça-feira

14 DE NOVEMBRO, 2017

Abra os olhos Allison.

Isso não é real. Então abra a merda dos olhos.

Você consegue.

Você não é fraca. Você não é fraca. Isso não é real. Vamos lá, apenas abra os olhos. Nada disso aconteceu. Não foi assim que ela se foi.

Abra. Os. Olhos.

A porta se fecha de novo. O barulho é mais violento dessa vez. O quarto fica escuro e eu encaro a porta, esperando a maçaneta girar. Mas ela não gira. Ao invés disso, as paredes começam a chegar mais perto. Pressionando, sufocando. Eu não consigo sair da cama. Não consigo respirar.

Puxo o ar com força, sentando na cama e finalmente abrindo os olhos, colocando a mão imediatamente no pescoço com medo de ter alguma coisa impedindo a passagem de ar. A camisa do pijama gruda em meu corpo por causa do suor, aumentando a sensação de desconforto. Temo fechar os olhos de novo e voltar para aquele lugar assustador. Olho para baixo, encarando minhas mãos, e tento controlar minha respiração.

Estou no meu quarto. No mesmo lugar do meu pesadelo. E não sei explicar o que estava acontecendo – eu nunca sei. Só sei que... não posso ficar aqui. As paredes vão me comprimir a qualquer momento, é isso o que estou sentindo. Pulo da cama antes que eu mude de ideia e tiro a roupa, olhando em volta. O sol está irrompendo por baixo das cortinas e é motivação o suficiente para que eu vista uma roupa de corrida e desça as escadas em uma velocidade não recomendada.

Eu estou respirando? Estou. Claro que estou. Puta que pariu. Então por que parece que vou cair a qualquer momento? Não tenho certeza se tranquei a porta da frente, mas neste momento não me importo. Começo a correr. Esqueço completamente do aquecimento e da caminhada para tomar impulso. Apenas obrigo todos os meus músculos a trabalhar e o meu cérebro a se concentrar em outra coisa que não seja as cenas horríveis e as paredes se aproximando.

Corro mais rápido. Sigo por qualquer caminho que me mantenha longe daquele quarto pelo menos por enquanto. Acho que não corro tanto assim há muitos anos. Talvez eu esteja correndo quase tanto quanto corri para alcançar o meu pai. Para tentar impedi-lo de ir embora. Não seco as lágrimas, deixo esse trabalho para o vento frio.

Por que esses pesadelos voltaram? Por que, caramba? Tem tanto tempo. Tanto, tanto tempo. Por que os pesadelos têm que ser tão realistas a ponto de eu acordar sem saber distinguir se tudo é real ou apenas um colapso?

Já me fiz essas perguntas tantas vezes antes e não sei porque insisto em repeti-las. Assim como antes, ninguém virá respondê-las.

Por que eu parei de correr?

Por que eu parei de respirar?

Allison! — a voz desconhecida chama de novo.

Olho para cima. Para cima? É. Estou no chão. Meus joelhos estão dobrados e minhas mãos trêmulas estão apoiadas no concreto. Ergo o olhar, e quase penso que a mulher me olhando é um anjo. Os cabelos encaracolados ficam ainda mais escuros com o sol atrás dela. Demoro um pouco para reconhecer Eleonora, minha nova vizinha. Ela se agacha para ficar da minha altura e põe a mão no meu ombro. Seu rosto está sério, e ela me observa com curiosidade.

— O que... — minha mente é incapaz de formular uma pergunta coerente no momento.

Eleonora parece notar e me ajuda a levantar com uma facilidade surpreendente. Ela praticamente me carrega até um banco de madeira pois não tenho forças para andar sozinha e tudo à minha volta está girando.

Let Me Love You [JB]Onde histórias criam vida. Descubra agora