prólogo

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Há 254 anos atrás: ano de 1761, reinado de D. José I em Portugal, reinado de Carlos III em Espanha.

Os meus pais viajam muito, devido aos imensos negócios que têm dentro e fora do país, e muitas vezes essas viagens eram feitas de barco. O meu irmão, Carlos, já tinha viajado muitas vezes com os meus pais e eu, como nunca os quis acompanhar, ficava sempre em casa, à guarda de uma das minhas amas.
O meu irmão entusiasmava-se sempre quando ia de viagem com os meus pais, e dizia muitíssimo bem de todas as viagens que fazia, de tal maneira que me começou a deixar curiosa e desta vez, como era uma viagem muito importante, onde iria toda a família, decidi vir com eles.
O nosso destino é Marrocos, no norte de África. Os meus pais têm que lá ir tratar de negócios muito importantes e vamos ficar por lá cerca de uma semana.
O ambiente aqui no convés do navio é magnífico. As ondas a embaterem no casco tornam o ambiente ainda mais encantador.
Eu estava sentada num dos pequenos bancos que ali se encontravam e observava tudo à minha volta com imensa atenção, quando uma das criadas se aproximou e me disse:

- Desculpe incomodá-la menina, mas gostava de saber se já poderei preparar os seus aposentos para quando a menina for descansar.

- Não te preocupes com isso - disse - Eu mesma preparo tudo quando for dormir.

- Ah não, sabe que esse é o meu trabalho, e a sua mãe não iria gostar se soubesse que a menina não me deixa fazer o meu trabalho...

- Oh, não te preocupes com a minha mãe. Eu posso muito bem preparar o meu quarto sozinha!

- Sim, mas esse é o meu trabalho... - tentou dizer a rapariga.

- Pois é, mas tenho a certeza de que tens tarefas mais importantes para fazer. Estou a falar a sério, não te preocupes com o meu quarto - disse com gentileza, piscando-lhe o olho.

- E se a sua mãe descobrir que eu não lhe preparei o quarto? - perguntou, preocupada.

- Se ela descobrir, eu própria falarei com ela - tentei descansá-la.

- Eu não lhe quero causar problemas com a sua mãe...

- Fica descansada, não me estás a causar problemas.

- Muito bem, a menina é que sabe.

Antes de se afastar, ela fez uma vénia e eu apenas inclinei a cabeça, dando-lhe autorização para ir.
Para ser sincera, esta vida não tem nada a ver comigo. Criadas, pajens, amas, guardas, isto para mim sempre foi desnecessário. Desde que nasci que nunca tive grande liberdade, e são poucas as coisas que eu posso fazer. Até há uns anos atrás, quem me dava banho, vestia e penteava era uma das criadas. Nunca fui à escola, pois tinha professores particulares que me davam aulas em casa. Nunca tive muitos amigos, pois raramente saía de casa, e quando saía tinha que ser acompanhada por uma das minhas amas.
Não sou da realeza, mas a minha família é uma das famílias mais ricas e importantes de Espanha, e muito conhecida em toda a Europa e norte de África, principalmente em Portugal, pois a minha mãe é de descendência portuguesa.
O meu pai e o rei de Espanha são muito amigos e até partilham alguns negócios. Sim, já estive naqueles bailes muito importantes, já estive com famílias reais de muitos países. Os poucos amigos que eu tenho são todos príncipes e duques.
Mas esta vida não tem nada a ver comigo. A mim não me interessa se sou amiga da família real, ou se vivo rodeada de luxos e riquezas. Em 18 anos de vida, ainda não me habituei a ter centenas de criadas e de amas a fazerem tudo por mim. Já tentei explicar aos meus pais que não preciso que me façam tudo e que eu posso muito bem sobreviver sem ter criadas, amas, professores particulares, guardas e tudo isso, mas os meus pais não me percebem. Da última vez que tive essa conversa com eles, a conversa passou a discussão e quando me tranquei no quarto a chorar, o meu irmão foi ter comigo, abraçou-me, compreensivo, e disse-me:

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