dois dias depois
Sem grande esforço, trepei pela parede e saltei para dentro da varanda. Depois de me certificar de que não era observada por ninguém, aproximei-me da porta do quarto do Alonso e bati levemente no vidro.
Senti movimento no quarto e segundos depois o Alonso desviou a cortina, olhando-me com surpresa. Abriu a porta da varanda e deu-me espaço para entrar para o quarto dele.- O que é que estás aqui a fazer? – perguntou ele, em voz baixa.
Sem lhe conseguir responder, abracei-o. O Alonso depressa respondeu ao meu abraço e ficámos assim durante alguns minutos.
Era tão bom senti-lo ali tão perto de mim... Estar ali, nos braços dele, era a melhor sensação do mundo.- O que é que estás aqui a fazer? – voltou a perguntar, desta vez com um pequeno sorriso no rosto.
- Eu tinha saudades tuas... - disse, envergonhada – E quis estar contigo...
- Como é que conseguiste subir pela varanda? – perguntou, ainda surpreendido.
- Tenho uns truques – pisquei-lhe o olho e voltei a abraçá-lo.
- Tu és doida – comentou, rindo-se em voz baixa.
Pois sou, sou doida por ti, pensei, mas não tive coragem para o dizer em voz alta.
Fomos sentar-nos na sua cama e conversámos até altas horas. Estive sempre abraçada a ele, com a cabeça pousada no seu peito enquanto ele fazia festas no meu cabelo, e mais tarde ele deu-me a mão. O som do seu coração a bombardear o sangue estava sempre presente mas não me incomodou tanto como esperava.
Quando me apercebi que ele tinha adormecido, aconcheguei-me e mantive-me deitada junto dele.
Eram quase cinco da manhã quando me levantei lentamente para não acordar o Alonso.
Tirei do bolso uma carta e a minha pulseira e deixei os dois objetos em cima da mesinha de cabeceira dele, ao lado do seu telemóvel.
Voltei a aproximar-me dele e deixei-lhe um pequeno beijo nos lábios.
Caminhei até à porta da varanda e abri-a. Antes de sair, olhei mais uma vez para o Alonso. Uma pequena lágrima de sangue caiu pelo meu rosto quando tomei consciência de que esta seria, provavelmente, a última vez que o iria ver.horas depois
- Ontem à noite sempre estiveste com o Alonso?
Voltei-me para a porta e vi o Jos encostado à ombreira da porta da biblioteca.
Acenei afirmativamente e voltei a concentrar a minha atenção no piano mas o Jos não se deu por satisfeito e foi sentar-se ao meu lado, fazendo mais perguntas.- Ai por favor cala-te! – gritei.
- Desculpa... - pediu, tomando consciência de que a sua atitude não foi a melhor – Só queria saber se, tanto tu como ele, estavam bem.
Sem lhe responder, levantei-me e deixei-o sozinho na biblioteca. Atravessei a sala e saí de casa sem dizer mais nada a ninguém.
Eram oito da manhã e já havia algum movimento nas ruas. Caminhei em passo acelerado e quando cheguei ao jardim da casa do Alonso, tive imenso cuidado para que ninguém desse pela minha presença.
Dei a volta à casa e saltei para a varanda do quarto do Alonso. Por entre as cortinas, vi-o sentado na cama, com a carta nas mãos. Algumas lágrimas caíam pelo seu rosto à medida que ele ia lendo o que eu tinha escrito no papel.
Custava-me vê-lo tão triste, tão desiludido comigo... Ao vê-lo a sofrer desta maneira, odiei-me a mim mesma por lhe ter feito isto. O Alonso não merecia que eu o tivesse desiludido desta maneira. E para piorar tudo, vai também odiar o Jos.alonso pov
Sei que não merecias que eu te fizesse uma coisa destas, mas tens de saber do que está realmente a acontecer.
A verdade é que, quando nos conhecemos, senti que tu eras especial, e isso não mudou quando me apresentaste o Jos. Continuas a ser muito importante para mim, és uma das melhores pessoas que alguma vez conheci.
No entanto, eu não consegui evitar apaixonar-me pelo teu melhor amigo. E infelizmente os meus sentimentos são correspondidos. Acredita que nós não te queríamos magoar, pois tanto eu como o Jos sabíamos do que tu sentes por mim. Mas achámos melhor contar-te a verdade, não era justo esconder-te o que estava a acontecer.
Eu e o Jos estamos juntos. Acredita que nos custa imenso saber que vais ficar desiludido connosco quando leres esta carta, e sentimos-nos culpados pelo que te fizemos. Mas não era nossa intenção magoar-te, não tivemos culpa.
No entanto, fica descansado. Não vais ter de lidar mais connosco. Sei que o que sentes por mim é sério e nós respeitamos-te imenso.
Vamos embora hoje à noite. Espero que consigas seguir com a tua vida, e que sejas muito feliz. Lamentamos imenso o que aconteceu. Apesar da distância, vais ser sempre muito importante para nós.
Até sempre, Maya.Quando acabei de ler a carta, uma grande raiva cresceu dentro de mim. Eu sabia que isto ia acontecer. Eu sabia que o Jos e a Maya tinham alguma coisa que tentavam esconder-me a todo o custo.
No fundo, quando a Maya, ontem à noite, apareceu aqui no meu quarto, eu sabia que essa seria a última vez que eu a veria. Os abraços, a maneira como ela falava comigo... Todas as suas atitudes mostravam arrependimento e saudade antecipada. Eu sabia que aquilo era uma despedida.
Estou bastante desiludido com o Jos. Nós eramos melhores amigos, conhecíamos-nos há anos e nunca escondíamos segredos um do outro. Ele sabia que eu estava apaixonado pela Maya e mesmo assim escondeu-me o que se passava. Eu nunca lhe vou perdoar isto.
Levantei-me e, quando ia pousar a carta em cima da mesinha de cabeceira, reparei na pulseira que estava junto do meu telemóvel.
Era uma pulseira de ouro com um pequeno diamante em forma de trevo de quatro folhas.
Eu sabia. Desde o início que eu desconfiara que a pulseira que encontrei na varanda do meu quarto era a mesma que a Maya usava sempre.
Faz tudo sentido. Os barulhos que às vezes eu ouvia vindos da varanda, as sombras estranhas, a sensação de estar a ser observado.
Só não percebo o porquê de a Maya ter cá vindo todas essas vezes, observando-me da varanda. Se ela gostava do Jos, por que razão fazia isto?
Fechei o pulso, apertando com força a pulseira. Eu tinha de falar com a Maya. Tinha de a confrontar com tudo isto, eu precisava de respostas. Precisava de a ouvir dizer que não quer nada comigo e que gosta realmente do Jos. E, mais importante de tudo, precisava de estar com ela uma última vez.
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acreditas em vampiros ?
VampireOlá, chamo-me Maya e tenho, aparentemente, dezoito anos. O meu pai era espanhol e a minha mãe era de descendência portuguesa. A minha família era da alta sociedade, rodeada de luxo e de riqueza. Digo 'era' porque todos da minha família já morreram...