POV. Mariana
A única coisa que vinha em minha mente eram flashes. A dificuldade em respirar, o barulho de água, uma agonia profunda e logo depois, tudo escuro. Sons distintos ecoavam por minha mente, mas não conseguia entender o contexto.
Eu tentava abrir meus olhos, mas a luz clara junto ao ambiente de paredes brancas, fazia com que a minha cabeça doesse. Eu conseguia ouvir alguns bipes bem próximos à mim, mas eu não sabia a origem do barulho, já que não conseguia me mexer. Minha cabeça latejava e eu só queria que aquela música parasse.
Que música? pensei. Foi aí que senti um peso em minha mão esquerda. Alguém estava debruçado sobre ela, cantando.
- As long as you love me, we could be starving, we could be homeless, we could be broke. - a voz era suave e bonita, parecia ser um garoto, mas um pouco engasgada, como se a pessoa estivesse chorando. Eu tentei dizer algo, mas minha vista embaçada e a forte dor de cabeça já começavam a me dar náuseas. O esforço de levantar, foi em vão, e a última coisa que ouvi, foi o choro do garoto.
POV. Narrador
O quarto do hospital estava silencioso, mas o clima era de guerra. Além da paciente que estava no leito, inconsciente, haviam outras duas pessoas no quarto. Dois garotos. Rafael estava em pé, próximo à janela, e Carlos Eduardo estava sentado em uma poltrona ao lado da cama. Desde que que estavam ali, eles não trocaram nenhuma palavra um com o outro.
Há dois dias Mariana havia sofrido um acidente grave e mandada as pressas para um dos hospitais mais conceituados em Florianópolis, Santa Catarina. Os dois garotos ficaram com ela desde então, saindo do quarto apenas para usar o banheiro. O médico não havia dado nenhuma noticia até então, e por mais que o pai de Rafael estivesse bancando toda a conta médica, nem ele, nem os pais da garota estavam ali para dar suporte. Mais um motivo para que os meninos ficassem ali, plantados.
Fernanda, uma amiga da paciente, também ia todos os dias saber do quadro da amiga, mas nada. Nada de Mariana acordar ou dos médicos liberarem alguma informação.
Já se passava das onze da noite quando o médico responsável por Mariana entrou no quarto. Ele estava com uma prancheta na mão, seus cabelos eram grisalhos e ele tinha a aparência cansada, ele pigarreou fazendo com que os meninos despertassem de seus devaneios e lhe dessem atenção.
- Meninos, eu vou ser bem sincero com vocês. - sua voz também saia cansada e com um tom de lamentação. - O caso de Mariana é bem sério, ainda mais pelo fato dela não ter acordado nessas 48 horas. Sabemos que ela fraturou a cabeça, mas não sabemos se haverá danos e se serão permanentes. - os dois garotos ficaram tensos, nenhum dos dois respiravam, apreensivos. - A criança passa bem, por mais que ela tenha tomado algumas substâncias ilícitas, não afetou no desenvolvimento do feto.
- CRIANÇA? - os dois perguntaram ao mesmo tempo. O médico lançou um olhar de reprovação para os garotos por conta do tom de suas vozes.
- Sim, ela está grávida de quatro meses. - o doutor respondeu chegando em sua ficha. - A barriga não ficou tão aparente por sua conta de sua estatura pequena e magra, mas ela também forçava a aparência usando uma cinta. - Carlos Eduardo não entendeu muito bem, mas Rafael sabia muito bem do que o médico estava falando. - Foi encontrada uma certa quantidade de substâncias em seu organismo, achamos que ela tentou abortar o bebê e depois, por remorso, tentou o suicídio.
A atmosfera que se formou no ambiente era pesadíssima. Os dois garotos não sabiam o que dizer, nem ao menos o que pensar, o doutor percebendo a situação, se retirou, deixando os garotos à sós, com seus pensamentos. Dez minutos após a noticia chocante, Rafael se manifestou.
- Você realmente decidiu acabar com a vida dela. - Rafael disse de forma ríspida, visivelmente abalado.
- Do que você tá falando? - Carlos Eduardo perguntou, sem muita paciência.
- Você engravidou ela! - o loiro gritou.
- E você acha que eu fiz isso por que eu quis, que eu planejei tudo isso? - o outro também se exaltou e começou a gritar. - E você, que deu droga pra ela, quer levar ela junto com você?
- ELA ME PEDIU!
- E SE ELA TE PEDISSE PRA EMPURRAS ELA DA PEDRA, VOCÊ EMPURRARIA?
- Rafa? - uma voz fraca foi ouvida no quarto e a briga parou, os dois olharam para o leito e viram Mariana acordada. A reação foi mutua, os dois garotos ficaram aliviados e apreensivos ao mesmo tempo, a garota estava acordada, mas será que havia alguma sequela?
Os dois rapazes se aproximaram de sua cama, Rafael logo apertou o botão que chamava a enfermeira e começou a acariciar o topo de sua cabeça, enquanto Carlos Eduardo segurava uma de suas mãos.
- Onde eu tô? - ela perguntou confusa, tendando se levantar, mas no primeiro movimento, fez uma careta por conta da dor.
- Não se esforce, babe. - Rafael colocou a mão em seu ombro, sem força, para que a garota não se levantasse.
- Os médicos já vão vir te examinar, amor. - Cadu disse e recebeu um olhar diferente da garota, que afastou a mão do rapaz. Mariana se aproximou de Rafael e recebeu seus carinhos até o médico chegar ao quarto.
- Como está se sentindo, querida? - a enfermeira que acompanhava o médico perguntou, enquanto o mesmo checava sua pulso, batimentos cardíacos, temperatura.
- Confusa. - ela respondeu. Sua voz estava fraca, seu olhar revezava, pousando nas pessoas que estavam no quarto, uma de cada vez. Era estranha a sensação de estar sendo observada por aquelas pessoas, principalmente por ela não conhecer todas.
Após os médicos checarem as contições de Mariana, que não estavam tão fora do normal, eles deram licença para os garotos conversarem com mais privacidade.
E era apenas isso que Mariana estava desejando, privacidade. Rafael afanava sua cabeça e isso à deixava tranquila. A garota estava quase adormecendo quando algo a perturbou.
- Rafael, você tá aqui a bastante tempo, - Cadu falou, se aproximando da menina. - acho que agora que nós dois sabemos que ela esta bem, você pode ir pro hotel descansar.
- Está bem. - ele disse soltando um suspiro. - Eu realmente preciso de um banho e não vou ser o vacilão que vai ficar no meio dos dois. - ao dizer isso, ele depositou um beijo no topo da cabeça da garota e se direcionou à porta.
- Espera. - Mariana chamou irritada. - Por que ele tem que sair? E o que você quis dizer com "ficar no meio dos dois"?
- Eu entendo se você não quiser conversar agora, mas você não pode negar que nós precisamos conversar. - disse o moreno gentilemente.
- Desculpe, mas acho que você está me confundindo com outra pessoa. - ela disse com receio.
- Mari eu entendo que aconteceu muitas coisas em um pequeno intervalo de tempo, mas vocês precisam conversar. - Rafael disse, achando muito estranha a atitude da garota.
- Mas como nós vamos conversar se eu nem te conheço? - a garota respondeu como se tudo aquilo fosse muito óbvio. O clima na sala se alterou mais uma vez, todos ficaram em silencio, apenas se ouvia os biepes dos aparelhos. Os meninos trocavam olhar um com o outro, enquanto Mariana se sentia cada vez mais confusa e perdida.
- Co-como assim você não me conhece? - o moreno perguntou com a voz falha. - Mari, se isso for algum tipo de brincadeira ou alguma punição pelo o que aconteceu, por favor, para. - sua voz estava falha e tremula, como suas mãos e todo seu corpo, suas pernas cederam, fazendo-o se sentar na poltrona próxima. Rafael apenas observava tudo, não tinha como interferir naquela situação, não acreditava que a garota estivesse fazendo isso propositalmente, não era de seu feitio. Era uma situação extremamente delicada e ele sabia disso, só não sabia como lida e o que fazer.
- Me desculpe, mas eu não faço a minima ideia do que vocês estão falando. - ela respondeu confusa.
YOU ARE READING
The Bet
FanfictionMariana é uma adolescente normal, que mora com a sua mãe e que nunca conheceu seu pai. Nada nunca acontece em sua vida, até o terceiro ano do ensino médio. Sua melhor amiga volta do Rio de Janeiro. Será que a relação delas continuará a mesma? E o qu...