POV. Carlos Eduardo
— Esse menino é realmente muito folgado, ele entra no quarto da minha filha, como se fosse o quarto dele, e senta sem falar com ninguém! — Patrícia gritava, enquanto andava de um lado pra outro, fazendo com que minha cabeça doesse mais. Estávamos sentados na parte externa do hospital, onde havia alguns bancos e várias árvores, um grande jardim, onde as pessoas poderiam tomar um ar e ir à lanchonete que ficava a poucos metros.
— Você sabe que é a família dele que está bancando toda a conta do hospital, né? — eu disse à meia voz, sentindo que minha cabeça iria explodir. Eu pensei que a vinda de Patricia para Florianópolis seria bom pra mim, já que afastaria Rafael de Mari, mas não adiantou nada e ainda tinha o problema da gravidez de Mariana, que a mãe da garota ainda não tinha ideia, o que ia acabar bem mal pra mim.
— Não me interessa quem paga, — rebateu Patricia — afinal ninguém pediu pra ele pagar nada! E eu vou lá ficar com a minha filha e falar com ela! — e ao dizer isso, ela se direcionou à ala em que a morena estava, sem ao menos me esperar. Soltei um suspiro e me levantei, indo atrás dela.
Quando chegamos no corredor do quarto da morena, percebemos que tinha algo estranho. Na porta do quarto de Mariana, parados em frente, como se fizessem guarda, dois homens altos de terno e óculos escuros. Rafael estava parado um pouco afastado dos dois, com uma expressão cansada.
— Meu pai tá lá dentro falando com ela. — ele disse quando passamos por ele, com a voz fraca. — Melhor esperarem ele terminar.
— Então ela tá acordada? — perguntei pensando em sua reação caso em entrasse lá.
— Sim...
— Eu quero ver a minha filha e falar com ela! — Patricia disse de jeito autoritário. — E eu preciso falar com o seu pai, Rafael. Foi muita gentileza ele cobrir os gastos do hospital, mas não será mais necessário, nós vamos tomar conta de tudo.
— Ficarei feliz em ajudar em qualquer despesa. — um homem alto e elegante, que eu imaginei ser o pai de Rafael, saiu do quarto e se dirigiu em nossa direção. Ele emanava poder com seu terno perfeitamente cortado e seus sapatos devidamente lustrados. — Mariana parecia um pouco agitada com a novidade. Peço perdão, não sabia que ela ainda não tinha conhecimento, mas já chamei o médico e acredito que a presença dos três seja necessária. — eu senti o ar sumindo de meus pulmões enquanto ele se virou para Patricia, que não entendia muita coisa. — Já providenciei que um quarto, em nossa casa aqui em Florianópolis, fosse organizado para Mariana, quando ela sair dessa situação para maior comodidade. Eu insisto. — ele disse quando percebeu uma hesitação da mulher. — Agora, se me dão licença, tenho negócios para resolver.
E ele foi embora, seguido de seus seguranças, sem nem direcionar nem um olhar a Rafael e deixando tudo de cabeça para baixo. Eu já sabia do que ele estava se referindo, ele havia falado pra Mariana que ela estava grávida, mas ele disse que o filho é meu? E como eu ia explicar isso para Patricia? Virei meu rosto para o início do corredor e vi o médico se aproximando, o tempo estava acabando.
— Rafael, por que você não entra primeiro e tenta acalmar ela? — perguntei com um tom evidente de desespero na minha voz.
— Boa sorte. — ele respondeu com um tom de riso, enquanto ia em direção à porta. FILHA DA PUTA. Tudo bem, eu merecia isso, toda essa confusão.
— Cadu, o que você tá fazen-
— A Mariana está grávida e o filho é meu, mas como ela não se lembra de mim, provavelmente vai achar que o filho é do Rafael. — eu falava rápido, o médico estava logo atrás da gente. — Eu sei que é confuso e depois você pode me matar depois, mas vamos ouvir o que o médico tem a dizer e eu explico tudo depois.
Demorou alguns muitos segundos pra expressão de pavor sumir de seu rosto, o médico nos convidou para entrar no quarto e fechou a porta às suas costas. Quando entramos Rafael estava do seu lado, segurando sua mão e fazendo carinho em sua cabeça, ela parecia calma e feliz, percebi seus olhos um pouco avermelhados e marcas de lágrimas em seu rosto, o que só aumentou o aperto que eu sentia em meu coração, era pra eu estar ali lhe passando segurança.
Quando mãe e filha se viram, se abraçaram e Patricia começou a chorar, e eu só consegui pensar em como tudo ia mudar pra todo mundo. O médico se aproximou, e os três ficaram juntos ouvindo o que ele tinha pra falar, eu fiquei perto da porta para não causar nenhum problema pra mim ou pra Mariana. Ele disse o mesmo de antes, sobre a idade da criança e que seu crescimento seria afetado pelo grande número de drogas ingerida, mas que só saberíamos de algum efeito colateral quando a criança nascesse.
Patricia seguiu o médico, para fora do quarto, querendo saber sobre mais coisas do quadro médico da filha e como o tratamento seguiria, já que a perda de memória era algo muito preocupante. E eu resolvi me retirar também, minha cabeça estava uma confusão e eu precisava pensar, colocar tudo no lugar, e ver os dois juntos não ajudava em nada minha situação.
Já estava começando à anoitecer e eu estava no lado esterno do hospital, o coração na mão. Havia explicado tudo a Patricia, desde a aposta com Manoela, desde o momento em que recebi a noticia de que Mariana estava internada. Ela ouviu tudo em perfeito silencio, apenas assentindo com a cabeça, mostrando que ouvia, eu não sabia que reação esperar, mas ouvir tudo o que eu tinha feito, da minha própria boca foi como um soco no estomago, como eu podia ser tão idiota?
— Não posso negar que estou desapontada e decepcionada, mas eu não vou te julgar, nem tenho cabeça pra isso. — ela dizia com o olhar vago, parecia que ela também tinha levado um soco. — A única coisa que eu sei no momento é que vou apoiar minha filha, independente do que acontecer, vou dar suporte pra ela e pro meu neto. Eu não sei se ela vai recuperar a memória e se vocês vão ficar juntos novamente, mas apenas não a machuque de novo. Eu não posso esconder isso do seu pai, mas você escolhe por quem ele vai ficar sabendo. — sua voz era seca e cada palavra era uma facada em mim, na minha alma. Eu havia machucado e decepcionado todos com quem eu me importava, ela se levantou me deixando sozinho com meus fantasmas.
Já se passava da meia-noite e o hospital estava em um silêncio frio, eu andava a passos lentos com o coração batendo forte. Algumas lágrimas ainda insistiam em escorrer pelo meu rosto, minha cabeça me perguntava se era mesmo o melhor a ser feito, mas eu tinha certeza, sentia em meu coração que precisava daquilo.
Para minha sorte ela estava sozinha e dormindo, perfeito, sem problemas ou perguntas. Abri e fechei a porta do quarto sem fazer barulho, não queria acorda-la. E ela dormia como um anjo, seus lábios grandes e carnudos, sua pele macia e quentinha. Quando percebi meus olhos já estavam tomados por lágrimas novamente.
— Me desculpa, nada disso estaria acontecendo se eu não tivesse entrado na sua vida e estragado tudo, mas eu prometo que não vou mais te atrapalhar. — eu sussurrava, para não acorda-la, as lagrimas escorriam por meu rosto e meu nariz já estava congestionado. — É uma pena que você tenha se esquecido sobre o tamanho do meu amor, mas ele ainda está aqui. Espero que algum dia você me perdoe.
Depositando um beijo no topo de sua cabeça eu sai deixando o amor da minha vida.
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The Bet
FanfictionMariana é uma adolescente normal, que mora com a sua mãe e que nunca conheceu seu pai. Nada nunca acontece em sua vida, até o terceiro ano do ensino médio. Sua melhor amiga volta do Rio de Janeiro. Será que a relação delas continuará a mesma? E o qu...