Angústia

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Ficamos na casa dos pais de Rafael por mais duas semanas. Patricia voltou à São Paulo três dias antes, para ter mais detalhes sobres os médicos que iriam tomar conta de mim, acertar alguns detalhes com o meu colégio, que eu não sabia ao certo, e conversar com seu namorado Renato, mas sem antes sentir que eu estava totalmente segura ali. Depois de Rafael jurar e prometer muitas vezes, ela só se deu por convencida quando Afonso Diniz deu sua palavra de que ficaria por ali e se asseguraria que eu estivesse bem.

Os dias passaram rápidos. Passamos os dias vendo vários filmes na sala de cinema da casa de Rafael, que tinha um aparelhagem gigante que realmente fazia parecer que estávamos em uma sala de cinema, fomos à praia, tomar sol já que ninguém me deixava entrar na água, conversando, mas não sobre assuntos que deixavam Rafael e Fernanda nervosos, e até recebi uma encomenda de uns cinco livros depois que comentei com o loiro que estava com saudades de ler.

Mas mesmo sendo tudo muito divertido e novo, me apavora a ideia de voltar pra São Paulo. Mesmo querendo saber tudo o que estava acontecendo e não estavam me falando, e acreditando que lá a verdade apareceria com mais facilidade, eu tinha medo de voltar e encontrar essa verdade. Era óbvio que todo mundo da escola sabia que eu estava gravida a essa altura, pelo menos a maioria devia saber, e eu não queria ter que aguentar os olhares de julgamento, ver as pessoas cochichando e apontando para mim. Só de pensar minha tontura já voltava, e naquele dia em particular eu estava com muito enjoo, então resolvi tomar um dos remédios que o médico havia receitado, que eram muito eficientes, mas tão fortes que me faziam dormir na hora.


No dia programado para voltar, eu já tinha uma consulta marcada, então acordamos cedo pra terminar de fazer as malas e embarcar. Voltamos no jato particular da família Diniz, um voo tranquilo e confortável. Eu, Fernanda, Rafael e Afonso voamos em silêncio, cada um imerso em seus pensamentos. Assim que desembarcamos, um dos motoristas da família Diniz foi nos buscar no aeroporto. Deixamos Fernanda em sua casa e Rafael insistiu em ir comigo ao médico, afinal o doutor iria acompanhar meu quadro, em relação à memória, mas também faria meu pré-natal. 

Quando chegamos na clínica, não demorou para sermos atendidos. Rafael me deixou sentada na recepção enquanto conversava e entregava meus papeis para a recepcionista, até que menos de dez minutos depois, o médico nos chamou. Ele foi totalmente educado e receptivo conosco, o que me agradou, já que não estava me sentindo confortável, ele começou olhando os exames que eu havia feito em Florianópolis e foi bem direto e sincero, nos falando que minha situação era complicada e incerta, por isso seria necessário fazer, e repetir, alguns exames, o que me obrigou a soltar um suspiro. Não aguentava mais fazer exames, passar de médico em médico e ouvir as mesmas coisas, no mesmo tom de condolências.

Ele continuou falando sobre mais exames e possíveis avanços no meu quadro, coisas que eu apenas ignorei, a dor de cabeça estava mais forte e eu me sentia extremamente desconfortável.

- Bem, e podemos fazer um ultrassom agora, para ver como está nosso pequeno, o que acham? - o médico comentou, se levantando e caminhando em direção ao aparelho, para ajeitar tudo. A expressão de felicidade de Rafael era tão iminente, que seu sorriso bobo iluminava toda a sala. - É a primeira vez que vocês vão ver o ultrassom?

- Sim. - o loiro respondeu afobado, ele simplesmente não conseguiria disfarçar a felicidade que estava, nem se se esforçasse muito. - Como a Mari estava desacordada em Florianópolis, não nos deixaram ficar no quarto, e fizeram tudo às pressas pra ver a situação da criança.

Eu via em seus olhos uma ponta de decepção e dor. Não conseguia imaginar como teria sido me ver, por um vidro, desacordada. Por um momento, esqueci dos meus medos, das minhas angustias e me senti cheia de felicidade por tê-lo ao meu lado.

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