Não sabia ao certo o que fazer. O Mediterrâneo não era o pior dos mares, mas ainda assim... não me sentia segura para fazê-lo. Olhei para a mochila no chão do barco. Era arriscado, não queria ser a última pessoa da Terra e morrer a deriva no mar.
Fechei os olhos esperando ter alguma iluminação, se os monges conseguiam, valia a pena tentar.
Se você ficar parada, com certeza, não vai chegar em lugar algum.
– Isso se chama meditação. O que você sugere que eu faça?
Vá em frente. Atravesse o mar, não vai ser tão difícil, os antigos faziam com barcos muito piores. Além do que, nunca se sabe o que podemos encontrar no caminho.
– Porque você fala como se soubesse de algo?
Talvez eu saiba... Hayden disse com sua voz mais misteriosa. Naquele sussurro senti seu hálito quente em meu pescoço, um arrepio correr a espinha. Meus delírios estavam piorando.
Levantei motivada e comecei a vasculhar o barco. Escolhi um pequeno iate, pois me arriscaria num velho veleiros à mercê da natureza e muito mais trabalho.
Desci para onde ficavam os dois quartos e a pequena cozinha. Tudo estava bem organizado e limpo. Algumas poucas coisas estavam cobertas pelo sal do mar. Em um dos quartos encontrei estrelas que brilhavam no escuro grudadas no teto. Na bancada ao lado um DS antigo ao lado da luminária do homem de ferro. Era o quarto de uma criança com uma cama grande demais. Me perguntei qual teria sido seu fim.
Chequei as gavetas e olhei em bolsos de roupas. Deitei no chão olhando em baixo dos moveise vasculhei cada fresta. Ao cair da noite, eu me encontrava no chão mergulhada em mar de roupas ao avesso exausta com os fones de ouvido no volume máximo.
– Não funcionou. Qual o próximo passo?
Do que você está falando? Funcionou! Como você não percebe?
– Do que Você tá falando?
Você mesma disse que a resposta está na sua frente. Enxergue-a.
– Mais enigmas... Você é completamente inu–
Antes que tivesse a chance de reclamar com meu amigo imaginário, entendi do que ele falava. Hayden estava um passo à frente porque tinha acesso ao meu subconsciente e, devo admitir, era a minha melhor parte.
Levantei sem tirar os olhos da ponta da maior estrela que se desprendia do teto. Falhas naquele mundo pseudo-perfeito sempre eram indicativos.
Subi na cama macia demais com certo medo de cair (não que fosse uma queda muito grande).
Não se preocupe. Não vou te deixar cair. Hayden me deixou segura, quase como se estivesse mesmo me segurando.
Estendi o braço ao máximo, mas precisei de um pequeno pulo para alcançar e puxar a estrela.
Sorri ao olhar o que estava escrito atrás em uma caligrafia infantil. Não havia um cartão, mas algo ainda melhor: "Second star to the right and straight on 'til morning.", segunda estrela à direita e então direto, até amanhecer... Tinha certeza de que quem vinha me mandando as mensagens não era o autor dessa frase, não tinha esse estilo ou essa mesma doçura. O autor dessa mensagem era uma criança que ainda acreditava no impossível, eu costumava ser uma criança que acreditava no impossível.
Algo então chamou minha atenção. Me estiquei outra vez colocando a mão dentro da luminária do teto. Senti um relevo dos malditos cartões... Yay... mais um. Tirei a mão deixando o cartão lá dentro. Por aquele dia já bastava meu bilhete deixado pelo garotinho, não queria que nada estragasse isso.
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Forgotten
Science Fiction"Nada fazia sentido. Um dia todas as ruas estavam cheias de pessoas se esbarrando umas nas outras, no outro eu abri os olhos e não havia sobrado ninguém" #4 em Ficção Cientifica (14/MAR)