[17A] - Biblioteca

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Era um grande prédio feito de vidro para que se pudesse usar a constante luz natural. Não haviam lâmpadas nesse mundo, o momento mais escuro era o da troca de sóis quando tons de laranja tomavam o céu e você esperava por uma noite que nunca vinha.

Tudo lá dentro podia ser visto do lado de fora, o que não era muito. O prédio era pequeno, três andares e, além de divisões internas (para dar privacidade como num escritório), não havia mais do que cadeiras e mesas.

– Eu tenho que fazer umas coisas e volto mais tarde pra te buscar – ele colocava a bolinha preta que Hugoh tinha me dado em meu pescoço, estava presa numa linda corrente prateada – Escolhe uma mesa e tire suas dúvidas.

Observei Nate ir embora me sentindo um pouco desamparada. Era uma biblioteca sem livros, parecia entranho, mas eles já haviam superado a era do papel, então presumi que haveriam alguma coisa parecida com as paredes de Nate.

Entrei na biblioteca fazendo o maximo de silêncio. Além de mim, não haviam mais que cinco pessoas (uma delas estava acima de mim, e eu via seus pés tocando o chão de vidro). Em baixo de suas sandálias estava escrito "serivrk jevï", não tinha ideia do que significava, mas me soava familiar.

Escolhi uma mesa no canto. O tampo da mesa estava gelado, parecia feito de mármore branco. Sentei me acomodando na cadeira macia e então muitas coisas aconteceram. Primeiro, a temperatura mudou, a mesa já não estava gelada e o ar ao meu redor estava quentinho e acolhedor. O pouco som que mal se ouvia cessou por completo, tive uma angustiante sensação de surdez (murmurei para mim mesma com medo). A mesa antes de mármore perdeu sua cor e textura ficando transparente como vidro, me deparava mais uma vez com o que seria uma "tela de computador".

"Boa Atela, como gostaria de ser chamada?" – uma voz masculina soava a minha frente vinda do computador.

Meu nome... Essa já era uma palavra tão distante, não parecia adequada para esse mundo. Como eu deveria me chamar, quem era essa nova eu? Como era chamada minha primeira eu, aquela cujas memórias apareciam em minha mente?

– KiH – a palavra me veio à mente num estalo. Eu não sabia o que significava, mas sabia que era especial, importante.

"Certo, KiH. Eu serei sua inteligência artificial daqui em diante. Estou aqui para o que precisar a fim de facilitar sua vida. Qualquer e todo conteúdo criado por você é privado e ninguém terá acesso sem sua permissão. Eles podem ser abertos em qualquer tela, o reconhecimento da sua pessoa é automático. Alguma dúvida ou podemos prosseguir?"

– Podemos prosseguir.

"O que você deseja hoje?"

Eu não sabia o que buscar. O que realmente queria era ver Hayden, saber que ele estava bem. Ele estava num mundo "primitivo" sozinho, como estaria se adaptando?

– Você pode me mostrar uma pessoa no Quarto Continente?

"Esse tipo de tecnologia não foi estabelecida nesse continente, não há nenhum tipo de registro dos habitantes atuais. Tudo que posso disponibilizar é o arquivo dos seres humanos trazidos originalmente."

– Não é necessário, obrigada. Você pode me dizer então algo sobre os Kalykes originais?

"Pouco se tem registrado sobre os Kalykes originais. Eles eram 4, não se sabe suas localizações atuais. Vieram para esse universo pela primeira vez centenas de milênios atrás. Ficam vindo e voltando toda vez que o universo deles está em colapso e prestes a acabar. Retornam ao seu universo de origem uma vez que ele volta a existir. Os Kalykes originais criaram outros com o propósito de adquirir conhecimento e facilitar sua chegada nesse universo."

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