[17B] - Zol

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Olhei a minha volta reparando nos prédios a minha volta. Eram baixos e coesos num mesmo tom de branco. Não parecia muito futurístico com eu imaginava. Nada ali era muito futurístico até que se olhava mais perto. Eu ainda estava extasiada com o que ÅgariS me disse sobre as paredes. Todas elas são feitas com um vidro diferente, podem parecer qualquer material, madeira, pedra, porcelana, o que você quiser, mas, no instante que você toca uma delas, ela vira a tela de um computador.

Meu olhar continua correndo pela paisagem, vejo as belas árvores e a grama no chão. Tudo era muito verde e vivo naquele lugar, vivo até demais. Tinha uma constante sensação de que eu queira correr saltitando por ali.

– Zol? – as palavras escapam de minha boca assim que o vejo passar em frente a biblioteca.

Minha raiva subiu de forma subta, não consigo evitar. Corro até ele com todo o ódio que tinha dentro de mim e pulo em cima dele.

Ou ao menos era o que eu queria fazer. Corri como um jogador de futebol americano e pulei nas costas dele, mas quando estava prestes a tocá-lo, ele deu um passo para o lado como se soubesse o que eu ia fazer. Cai feio no chão ralando o braço e o queixo. Um lágrima se formou em meu olho, mas a limpei.

Girei para ficar de barriga para cima com as dores percorrendo meu corpo.

– Esse é o problema com naturais: arrogância e impaciência  – Zol dizia estendendo a mão para mim.

Olhei para ele confusa. Minha raiva já não era muita, mas ainda não conseguia aceitar o gesto ele. Ignoro a mão estendida e levanto sozinha, sinto sangue escorrer em meu queixo. Eu havia caído na calçada de pedra. O chão estava carimbado de vermelho.

– Primeiro, você precisa se camuflar para ter a chance de atacar um K – ele dizia andando como se soubesse que eu ia acompanhá-lo – Segundo, saber alguma coisa sobre luta. Terceiro, não lute com um K, uma luta com um imortal é uma luta dolorosa, inútil e sem vencedores.

Olhei para ele sem saber o que dizer. Eu tinha muitas duvidas sobre naquela frase. Acelerei o passo para acompanhá-lo.

– Você disse K.

– Sim, nos chamamos de K's, sei que Nate usa isso como algo ruim. Vocês são os Kalykes, nós os K's  – ele disse imitando a voz de Nate com deboche  –Mas é como nos chamamos aqui, é mais simples. Soube que Hugoh quer você num projeto, Hayden deve estar com saudades.

– Seu ... – minha raiva reacendeu por um instante, mas não consegui me mover, estava congelada  – O que você fez?

Meu pulmão começava a sentir uma compreção. O ar escapava meu corpo e não voltava. Meus braços formigava de uma maneira incomda e quase dolorosa.

– Você não tem auto controle, é irritante. Todo o tempo que você passou entre humanos te deixou ainda mais sentimental. Para piorar você nem sabe usar isso a seu favor. Eu vou te soltar, mas lembre-se do que eu disse, uma luta entre imortais não tem sentido.

De subto consegui me mexer e caio de novo. Respieri ofegante recuperando o ar que me foi tirado. Toco meus braços tentando entender o que tinha acontecido.

– O que... você... quer dizer... com imortais? – pergunto recuperando meu fôlego.

– Talvez você não seja assim tão inteligente. Imotais, significado, ser que não morre.

– Eu sei... – digo percebendo como ele gosta me insultar – mas que tipo de imortal? Nós vamos ficando velhinhos de 3000 anos ou ficamos jovens para sempre? É do tipo de imortalidade que você não vai morrer com o tempo, mas uma adaga no peito te mata?

– Para sempre jovens e eu ainda não morri com uma adaga, mas elas doem bastante. Imortal do tipo que você não precisa respirar, mas você respira porque é uma forma eficiente de obter energia. Você é imortal da tipo que vai se machucar e vai doer, porque a dor é uma defesa do corpo, mas nenhuma dor vai te matar.

Me acomodei no chão desistindo de levantar. Imortal... Quando a minha Terra ainda existia imortalidade era algo que os humanos só sonhavam, era coisa de filme... de deuses. Não importava que ele me dissesse que eu era imortal, não soava plausível para mim. Eu escutava, mas não absorvia essa verdade.

– Eu tive catapora quando criança  – a lembrança me veio a mente – Minha mãe ficou preocupada, me levaram para o hospital no meio da madrugada.

Zol sentou na minha frente com as pernas cruzadas. Olhei a minha volta reparando como ninguém sequer olhava para nós, (como se sentar no meio da calçada fosse completamente normal).

– Voce nunca ficou doente. Isso costuma acontecer com natu—

­ – O que são naturias? – digo interrompendo.

­ – São criaturas impacientes que não me deixam nem terminar a frase – ele me olhou sério e continuou – Existem dois tipo de K, os de aprendizado e os naturias. Naturias são impulsivos e geralmente maximizam seus poderes com os sentimentos, seus poderes funcionam melhor quando voce não quer. Por exemplo, seu adorável Hayden. Você não teve controle do que estava fazendo, seu inconsciente só foi usando seus poderes sem você perceber para te dar o que você queria, ou seja, uma companhia. ÅgariS e eu somos de aprendizado, temos que treinar para desenvolver nosso poder e força total, somos melhores controlando nossos poderes. Poucos por aqui são naturias, não é muito bom ser um natural, quem quer ter poderes fora de controle?

Ótimo, eu mal cheguei e já tinha a parte ruim dos poderes.

– Ainda assim, você pode controlar uma parte – Zol completou.

Eu o olhei sugestiva e ele sabia o que eu queria.

– Não, eu não vou te ensinar. Não vou perder meu tempo com você. Você é o pior tipo de natural possível.

– Por que? – minhas palavras saem ofendidas.

– Não é óbvio? Você deveria ter surtado e liberado seus poderes. Percebido que pode controlar o mundo a sua volta, cada átomo, cada partícula. Ao invés disso, você lutou para ser racional e controlada, o que vai contra seus instintos. A reposta da sua mente foi então terceirizar a solução para seus problemas e criar Hayden para resolver. Você não poderia ser mais humana do que isso.

Meus olhos semicerrados demonstravam meu interesse. Eu não deveria tentar ser racional e lógica, deveria deixar meus sentimentos me levarem. Mas parecia contra minha natureza, não havia crescido assim.

Ótimo... Eu já era terrível no que deveria ser natural para mim.

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