Forgotten

[21] - Sempre em Frente

Dia 1027

Fiquei presa num pesadelo. Eu via Diza sofrendo largada no vácuo como um astronauta perdido. Seus gritos não chegavam até mim, mas suas expressões me causavam um aperto no peito. Tentava alcançá-la, mas não conseguia me mexer. Eu a via gritar e não tinha nada que eu pudesse fazer.

Acordei pela primeira vez deitada em minha cama na casa de ÅgariS, mas ele não estava por perto. HugoH estava sentado na cadeira me observando. Abri os olhos e fechei de novo, ainda não tinha forças. Minha cabeça latejou. Voltei a dormir.

Acordei outras vezes. Abria os olhos e os fechava. Vi HugoH me encarando e depois Zol. Zol parecia preocupado, mas não comigo, acho que tinha medo que Grilo aparecesse enquanto HugoH estivesse ali. Queria dizer que não tinha com o que se preocupar, ela não faria isso. Havia me deixado levar aqueles tiros, um deles bem no meio da testa. Ela sabia que mesmo com toda a dor, ela me protegeria não aparecendo.

Tentei falar, mas minha língua estava embolada. Tudo que escapou foi um murmuro estranho. Apaguei de novo.

Acordei finalmente durante uma troca de sois. A luz alaranjada atravessava minha janela iluminado HugoH. Ele tinha feições nutras que me deixavam confusa.

– Que bom que você acordou. Agora podemos voltar ao trabalho – ele jogava um tablet sobre a cama.

Sentei percebendo que não sentia mais dor. Eu estava revigorada. Mexi as pernas e olhei o lugar onde as balas entraram. Não havia nem sinal de uma cicatriz. Levantei indo até a parede e fazendo com que virasse um espelho. Minha testa estava lisa, nem sinal do buraco que deveria estar ali.

– Vamos logo. Vocês já atrasaram demais a programação – ele insistia gesticulando com as mãos.

– O que tá acontecendo? Você não está... furioso?

– Eu atirei em você. O que mais você quer? Não tenho tempo para ficar desperdiçando em tortura, além do mais Agaris já ocupou meu tempo com isso.

– O que você fez com ele?! – Meu instinto me fez serrar os punhos, mas logo os soltei ao ver o olhar de Hugoh me fuzilando.

– Ele já está bem. Agora vamos, tenho coisas a fazer e preciso de você no seu posto.

– Posto?

– Você acordou mais lenta que o normal – ele resmungou algo numa língua estranha e continuou – Você disse que queria se reunir com o Quarto Continente para fazer ajustes finais.

– Eu quero, mas você... – não sabia como explicar. Era estranho que ele tivesse superado nossa traição tão rapidamente.

– Vamos lá! – ele pegou um vestido pendurado e jogou sobre a cama – Troque-se. Hoje seremos deuses.

Hugoh saiu me deixando para trás. Coloquei o vestido ainda intrigada com a reação. Ele estava muito bem com tudo que tinha acontecido. Ou ele já tinha descontado toda sua raiva em Agaris, ou ele estava planejando algo muito pior.

Dia 1028

Eu e Agaris atravessamos uma fenda que nós levou até há um grande salão. Várias pessoas nos esperavam lá vestidas em suas melhores roupas. Assim que nossos pés tocaram o chão todos tocaram um dos joelhos no chão em reverência.