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- Ågaris -

Eu não vi acontecer. Estava ocupado demais com HugoH, Hayden... comigo.

Não vi acontecer.

Não pensei em todas as outras variáveis. Acreditei tanto que estava no controle que me descuidei. A mandei sozinha para casa, esqueci que aquela não era nossa casa, esqueci que ali não era seguro.

Não sei o quanto a machucaram, não sei se ainda está sofrendo. A ideia me corroí. Quebrei minha promessa, ela não era capaz de lidar com esse sofrimento, ninguém é.

Não sei o quanto ela vai ser capaz de aguentar. "está para além de uma dor física, a mente dele vai fazer todo o trabalho" HugoH sorriu ao dizer essas palavras "Não vai ser para sempre, mas pouco tempo no lugar certo tem o peso de uma eternidade".

Foi ao fim dessas palavras que eu o ataquei. Minha furia o fazia gargalhar, ele se divertia com os socos que dava, seqeuer tentava se defender. Diza assistia tudo sentada em meu sofá com as mãos ainda ensanguentadas.

"Voce vai encontra-la" as palavras de Diza me fizeram parar "eventualmente..."

Me levanto em direção a ela, mas ela não estava se divertindo como HugoH. Ela ainda estava com raiva, queria vingança por tê-la jogado num vácuo.

Por um longo tempo brigamos para o mero entretenimento de HugoH, porque no fundo sabíamos que nada daquilo faria a diferença.

Não paramos porque estamos cansados, mas porque ficamos entediados. HugoH vai até minha cozinha e começa a preparar um tipo de torta. Diza senta no sofá sofá e faz o sangue que cobre seu corpo desaparecer.

"Não existem vencedores numa briga de imortais" o pensamento me toma.

Fico deitado no chão desolado. Eu sei que "eventualmente" a encontraria, mas eventualmente era tempo demais. Ela estava exilada em uma realidade qualquer, num planeta qualquer. Ter a eternidade a meu favor, não torna mais fácil encontrá-la em meio ao infinito dentro de infinitas realidades possíveis.

A culpa começa a me corroer, minhas entranhas se contraem, tenha a sensação estranha de que dentro de mim um buraco negro está surgindo. Sinto um nó na garganta de um choro que não vem.

Queria poder sair nesse instante, ir de realidade em realidade explorando universos infinitos a procura dela, era o que HugoH queria, se livrar de nós dois numa só tacada. Mas era uma opção ridícula, eu precisava localizá-la de outra forma, uma que fosse mais rápida que o crescimento exponencial da loucura dela naquele lugar.

"NarvÏ e Leykaī" o pensamento me ocorre quase como um sussurro distante. Talvez se estivéssemos todos juntos, poderíamos de alguma forma localizá-la.

Levaria tampo, mais do que eu queria, menos do que HugoH esperava. Enquanto isso ela ficaria sozinha, sozinha com Grilo e todos os outros seres que sua mente criaria pra ajudá-la a conter a solidão.

Era culpa minha. Minha culpa. Culpa minha.
Ela perderia a cabeça e era minha culpa. Culpa minha.
Ela não pode voltar e é culpa minha.
Ela está sozinha e é culpa minha.
Eu não sei como salvá-la. É tudo culpa minha.
Ela ficará sozinha por anos, séculos, milênios... Por minha culpa.
E é culpa minha.

ForgottenOnde histórias criam vida. Descubra agora