[15] - Palavras Novas

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Parte 2

- Ågaris -

Seus olhos deslumbrados reluziam com a luz do sol. Cada músculo de seu corpo estava relaxado, extasiado com a vista.

Estávamos mergulhados em um jardim de lavanda que chegava até a cintura. A construção mais próxima era distante e o céu límpido dava uma impressão de magnitude.

– Parece que você voltou a ser você mesma... – digo olhando como a aparência dela havia mudado.

Com um pequeno susto, ela se volta para mim.

– Onde nós estamos? – sua voz demonstrava uma animação infantil.

– No pior melhor lugar que você poderia imaginar.

Eu sabia o que se passava na mente dela, tive a mesma reação quando atravessei aquela porta. O sentimento era claro, estávamos bem longe da terra (lembro-me de sentir meu estômago vazio revirar e vomitar a comida que não tinha na barriga ao atravessar aquela mesma porta).

Era o ar, a gravidade, a temperatura, a distância... Tudo naquele mundo era distante, grande demais, caótico, mas organizado. A construção mais próxima era o prédio de Hugoh, ele gostava de estar próximo do centro de receptação. Era ali onde criávamos mais dos nossos, onde decidíamos o que fazer com eles e para onde voltavam depois de toda a tortura que os fazíamos passar.

– Por quanto tempo eu dormi? – ela perguntou cortando meu pensamento

– Algo por volta de um mês terrestre.

Sua testa franzida e suas sobrancelhas mostravam seu desespero.

– Um mês? – ela repetia sem acreditar – Quanto tempo é isso aqui?

Eu poderia dizer dois anos e meio, mas não fazia sentido essa comparação (não estávamos no mesmo plano que a terra).

– Não importa. Como você está se sentindo?

– O que aconteceu com a terra? Com todas as pessoas?

– Sua terra está bem, mas pelas pessoas... Estão mortas. Hugoh usou uma bomba de nêutrons para acabar com a humanidade e fazer você passar por isso tudo. Voce não foi afetada porque não tem uma constituição humana e suporta muito mais.

– Vocês destruíram um planeta inteiro para poder brincar comigo?

Eu não sabia como responder essa pergunta sem parecer um monstro. Sim, destruímos toda a humanidade. Poderiamos ter simplesmente feito um cerco e focado a destruição numa área, deixado ao menos a Autrália que era distante demais, porém qualquer ser vivo que restasse mudaria as condições do experimento. Hugoh não gostava quando seus experimentos não funcionavam. Havia ainda o fato de que poucos por aqui valorizavam vidas além das próprias. Quase todos por aqui se achavam deuses, grandes demais para preocupações mortais. Com tantas realidades povoadas de humanos era difícil valorizá-los, ainda mais quando não valorizavam a si próprios.

Eu costumava amar os humanos, seres maravilhosos cheios de potencial, até que um dia, descobri que não sabiam usar seu potencial.

Eu tinha nasci entre eles, dei a eles meu conhecimento, minha infância. Não brinquei com outras crianças, construí armas e cresci escutando os palavrões dos militares. Eu via aquelas roupas camufladas e pensava em família, eles me viam e pensavam: ameaça. Na primeira vez que discordei e desobedeci, decidiram que não precisavam mais de mim. Acharam que eu era perigoso demias, uma arma de destruição em massa fora de controle. Oh, a grande ironia... Antes deles se voltarem contra mim, eu não machucaria um ser vivo, eu era um garotinho pacífico que valorizava a vida, até as mais simples. Foram eles que me tornaram perigoso, impiedoso. Até os 11 fui um anjo, mas aos 12 me tornaram um demônio quando me caçaram como um animal.

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