- Ågaris -
Ele não estava morto, seria muito difícil chegar a esse ponto (impossível até onde eu sabia), mas, ao menos, Zol estava apagado. Não nego que ver meu não tão caro amigo caído no chão com derrota escrito em sua testa me trazia prazer, contudo não poderia me deleitar nesse sentimento. Zol acordaria em pouco tempo, seus ferimentos já começavam a cicatrizar e o som de ossos estalando me alertavam para meu problema.
Tempo não estava a nosso favor, eu precisava pensar, descobrir como negociaria um acordo de paz com um arrogante que nunca admitiria derrota (digo isso como um elogio). Zol poderia não ser confiável ou racional, mas nunca desistia de uma batalha até que tivesse vencido.
Eu sabia o que ele queria, queria acabar com Ela, acabar com qualquer ameaça que Ela pudesse causar. Zol entendia o perigo que Ela significava melhor do que qualquer um (entendia porque ele e Hugoh eram os únicos que sabiam sobre NóS).
Eu odiava lembrar como um dia confiei em Zol com tal segredo, me arrependia por ter acreditado que alguém como ele poderia se importar com algo além de si. Contudo, meu segredo estava seguro, nem ele ou Hugoh iriam querer a verdade sobre NóS divulgada, era má publicidade. Como justificariam que ao se chamarem de seres mais evoluídos do universo não passavam de um mero degrau na enorme escada evolução? Como explicar que nunca realmente chegariam ao topo da cadeia alimentar?
Mas essa não era minha questão, não naquele instante. Eu tinha Hugoh ao meu lado, por enquanto. Zol não manteria a insubordinação diante dele, não A atacaria outra vez, porém esse poderia ser um problema. Uma luta, as claras, é sempre mais fácil do que uma mantida em segredo por entre troca de olhares e golpes baixos.
Hugoh não me ajudaria por muito tempo, eu só tinha sua proteção e atenção enquanto me mantivesse na linha tornando seus projetos malucos realidade. Admito que me orgulho de alguns desses projetos (trazer as ideias de Hugoh a realidade eram desafios pessoais que todos me invejavam, na verdade, invejavam qualquer atividade que lhes pudessem tirar do tédio). Trabalhar com Hugoh significava meses de planejamento detalhado. Milênios de anos pensados para que um de nós, um ser especial como nós, fosse inserido em uma realidade humana. Nunca foi um problema, até que eu decidi inovar e substituí um de nós, por um de NóS.
Tudo teria corrido bem... Eu A colocara numa realidade perfeitamente normal da terra, Ela fez amigos, teve uma família comum, quase acreditou por completo que era humana, mas daí sempre havia uma reviravolta. Hugoh amava suas reviravoltas, era através delas que tínhamos descobertas incríveis, era uma forma de desencadear adaptação rápidas e liberar habilidades inconscientes em ambientes estranhos e inóspitos. Em outras palavras, descobrir poderes através da necessidade de não morrer (não que morrer seja uma possibilidade).
Ela como todos os outros antes dela, tiveram que passar por isso. Comparado a minha experiência, posso afirmar que ela pegou das situações possíveis, a mais fácil. Uma terra despovoada com toda tecnologia funcionando? Não havia um grande desafio, mas eu preferia assim, não queria que ela sofresse como eu (só que nem tudo ocorreu como meu planejamento impecável). Primeiro o incêndio que matou os pais dela, a mudança de uma tia distante como guardiã dela, a saída de física para artes... tudo que a faria ficar mais perto de NóS ela distanciou.
Tive muito trabalho em fazer Hugoh concordar em acordar Ela, ainda mais depois de tentar enganar ele. A imprevisibilidade dela também não ajudou. A única coisa que fez com que ele me deixasse continuar era o fato de estar curioso sobre o que Ela podia fazer.
Esses testes de Hugoh não passam de criações de um ser imortal entediado, o resultado que sempre encontrava era o mesmo: os seres percebiam sua falta de humanidade, resolviam alguns enigmas e voltavam a integrar nossa sociedade, mas, obviamente, Ela foi o ponto fora da reta. Esperávamos que ela controlasse o tempo, ou fizesse algo que a mostrasse de seus poderes, não que criasse alguém.
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Forgotten
Science Fiction"Nada fazia sentido. Um dia todas as ruas estavam cheias de pessoas se esbarrando umas nas outras, no outro eu abri os olhos e não havia sobrado ninguém" #4 em Ficção Cientifica (14/MAR)