Recuei tropeçando num obstáculo que Diza materializou atrás de mim. Tentei alcançar a faca, mas não era mais uma opção. Ela vinha em minha direção girando a faca entre os dedos sabendo que eu estava indefesa. Ela queria me machucar, queria escutar meus gritos e ver meu sangue escorrer.
– Por favor, não! – tentei recorrer a uma empatia que ela não tinha.
Me arrastei no chão até ficar contra a parede. Eu estava encurralada. Diza abaixou a faca para que pudesse me apunhalar. Já podia sentir o gosto metálico em minha boca. Num movimento rápido ela ganhou impulso com a faca e veio contra meu peito.
Fechei os olhos como minha única reação e esperei pela dor. Uma dor que não veio. Abri os olhos ouvindo o grito de Diza. Primeiro pensei que AgariS havia chegado para me ajudar, talvez até Zol, mas percebi como aquela pessoa atrás de Diza era pequena. Via um par de sapatilhas pretas cobrindo o par de meias laranjas que iam até a canela.
– Que diabos é você? – Diza caia de joelhos olhando para a criança atrás dela.
A garotinha segurava a faca que deveria ser a minha. Na lamina escorria o sangue de Diza saído da parte alta das costas.
– Pode me chamar de Grilo Falante.
Eu e Diza nos entreolhamos confusas.
– Como em Pinóquio, o Grilo é a consciência, mas consciência não é um bom nome.
Demoramos um tempo em silêncio para entender o que estava acontecendo, mas quando nossos neurônios funcionaram pude sentir o pânico emanando de nós duas.
– Você fez isso de novo? – Diza gritava comigo se levantando.
– Eu não sei como eu fiz! Desculpa. Eu não queria. Só queria que você não me machucasse. É meio que sua culpa. Você disse que funcionava melhor se eu não pensasse.
– Como materializar a sua consciência era uma forma melhor de defesa do que uma faca ou uma arma?!
– Eu não sei usar uma arma ou uma faca!
Ela me encarou com a boca aberta sem saber o que dizer.
– Temos que matar ela – ela concluía olhando para a garotinha que sorria como se tudo estivesse bem.
– Não – eu e a pequena Grilo Falante dissemos num unisom.
– Você não pode. Eu não sou como Hayden. Não sou um ser aparte dela. Na verdade, eu posso estar em qualquer lugar.
Foi quando então ela sumiu. Sumiu sem uma nuvem de fumaça ou uma cortina, como uma edição malfeita em um vídeo. PUF!
– HugoH vai acabar com você – Diza dizia vendo o lado positivo disso tudo.
"Pelo que? Ela não pode provar nada."
– Verdade – Respondi para a Grilo que agora só habitava minha mente.
Diza então correu até uma das paredes para poder alertar HugoH, mas antes de poder tocá-la. Minha consciência apareceu em frente a ela e esticou a mão fazendo com que ela parasse.
– Você não vai fazer nada – a faca em sua mão ainda tinha o sangue de Diza escorrendo – Ela pode não saber como usar, mas eu sei.
Diza não se afugentou. Deu um passo em direção a parede, mas antes que pudesse dar outro Grilo a escalou e lhe deu um golpe como numa "Lucha libre" (na verdade, ela até estava com uma máscara colorida no rosto).
Ri extasiada vendo Diza cair no chão e aquela garotinha inofensiva mascarada. De todas as coisas bizarras que haviam acontecido comigo, essa foi a mais.
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Forgotten
Science Fiction"Nada fazia sentido. Um dia todas as ruas estavam cheias de pessoas se esbarrando umas nas outras, no outro eu abri os olhos e não havia sobrado ninguém" #4 em Ficção Cientifica (14/MAR)