[10B] - Dr. Dwight

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- ÅgariS -

Um rápido bip soou atrás de mim fazendo-me virar para ver uma das telas. Uma notificação pulava no canto. Agarrei a mesa a minha frente e peguei impulso deslizando até lá com fluidez. Com dois cliques abri a mensagem. Assunto: Finalizações Emergenciais de Desenvolvimento Avançado.

Corri os olhos pelo conteúdo lendo frases ríspidas e preocupadas. O medo deles estava sendo substituído por uma raiva desmedida. Me pressionavam por respostas. Estariam lá no inicio do dia e esperavam um relatório final. Eles queriam resoluções simples para todo o caos que eles acreditavam ter causado a si mesmos. Imagino quais seriam as consequências se descobrissem da minha culpa em tudo isso.

– Miseráveis inferiores – resmunguei colocando o computador para hibernar.

Na tela, a hora apareceu: 7:34 pm. Eu perdi noção de tempo dentro daquele buraco, por outro lado, Hayden nunca teve noção alguma.

Estalei os dedos por força do hábito, mesmo detestando o som ou a sensação. Seria essa a hora de começar? Encarei a cadeira na qual Hugoh sempre sentava. Hugoh e sua maldita hierarquia... Ele seria o último a cair, mas sua queda seria a mais dolorosa.

Fechei os olhos buscando em minha mente aqueles flashbacks, meus pedacinhos de memória que não foram roubados. O rosto dela era sempre o que aparecia primeiro, seu sorriso não era tão forçado quanto genuíno, um sentimento que só ela conseguia expressar. N, era como costumávamos chamá-la para irritá-la, N sempre detestou apelidos. A minha frente estava a criadora de Hayden. Ela era o cinza, o nublado, sempre escondendo o sol que brilhava atrás. NóS a amávamos por isso.

Havia ainda o outro garoto, ele surgia de trás dela como se fossem parte de um único ser. Eu não poderia nomeá-lo, seu nome se perdera em outra lembrança, contudo eu conhecia sua essência. Ele e a criadora de Hayden, juntos eram o mais perfeito caos de onde derivava a mais perfeita harmonia. Hayden era a prova de como ela sentia a falta dele mesmo sem lembrar quem ele era. Não importava o quanto Hayden parecesse comigo, ele poderia ter o meu rosto, mas sua personalidade, seu jeito, sua energia, tudo pertencia a outra parte, aquela que a complementava.

Deixei meus pulmões absorverem bem o ar que preenchia a sala até cada um de meus músculos relaxarem. Minha cabeça caiu para trás olhando para o teto e meus ombros pesaram como pedras. Era hora de começar, eu já perdera tempo demais com paciência.

Levantei num salto e coloquei a mão sobre o botão que ligava o microfone. Minha hesitação durou alguns instantes, foi quando percebi que aquela não era minha melhor abordagem, ninguém confia numa voz sem rosto. (Ou confiasse, afinal Hayden já fora uma.)

Caminhei até a porta da caixa de espelhos e toquei a superfície metálica. Foi como abrir uma lata de refrigerante e escutar o som do gás escapar. Empurrei a porta para dentro e encontrei meu olhar com o surpreso de Hayden.

– Como você está? – perguntei sem interesse pela resposta.

A porta fechou-se atrás me mim enquanto eu me movia pela sala.

– Eu poderia estar melhor se não fosse pela gaiola – Hayden respondeu apoiando-se contra um dos espelhos.

Sentei no sofá que ocupava o meio da sala e então deitei-me como no consultório de um psicólogo. Entrelacei os dedos e repousei minhas mãos sobre minhas costelas.

– Deixe-me reformular a pergunta – respirei pacientemente, eu já estivera na situação dele.

Aquela sala era opressora, minha primeira reação quando fiquei preso ali foi quebrar os espelhos, não que tivesse tido algum sucesso.

ForgottenOnde histórias criam vida. Descubra agora