[18C] - Diza

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Eu andava aflita. Não queria pensar em fendas interdimensionais, sequestros e consequências, mas era tudo que eu tinha na minha mente.

"Diza" o nome ecoava mais uma vez em minha mente me deixando incomodada.

Como eu estaria preparada para ajudar ÅgariS sendo que nem conseguia levitar uma bolinha de grafite do chão.

"Diza" o nome ecoava mais uma vez.

– Eu sei! – Gritei com raiva em resposta.

Parei de andar preocupada de que alguém tivesse visto meu surto comigo mesma. Eu estava andando pela décima segunda vez até a casa. Nunca conseguia encontrar ela lá, mas continuava tentando.

– Então eu estou indo para a casa de uma pessoa que provavelmente vai tentar me matar, mesmo sabendo que não pode – penso alto já avisando a casa.

Pelo que tinham me dito, Diza odiava os Kalykes e era emocional e inconsequente, o que significava que mesmo que nunca fosse capaz de me matar, isso não a impediria de tentar. 

"Aparentemente, esses são bons atributos para uma natural." completo a mim mesma. Ou talvez a voz respondesse, já não tinha tanta certeza.

Eu poderia tentar outra pessoa, mas ela tinha fama de ser a melhor. Seus métodos eram mais efetivos.

Continuei andando sempre hesitando a cada passo. Queria que ela estivesse lá, mas ao mesmo tempo estava apavorada.

A casa de Diza era... reta. Tinha um design cheio de formas geométricas. Em minha imaginação um gigante tinha encravado aquelas paredes no chão para formar a casa.

A frente transparente me dava visão da sala simplista, não haviam quartos ou uma cozinha (como na de Nate ou Hugoh). Tudo não passava de uma sala com uma grande mesa e um sofá. Não parecia muito acolhedor, não parecia um lar. Será que os K's conheciam esse conceito?

Devo admitir que a arquitetura naquele planeta era confusa, nada coesa. Cada um tinha uma casa que de alguma forma se adaptava a sua personalidade, eu vi pequenos castelos e casas futurísticas. Haviam casas que pareciam saídas de um desenho animado, outras que desafiavam as leis da física. Eu vi uma casa na árvore e uma casa subterrânea, uma casa submarina e uma casa à beira da praia (que era um castelo de areia enorme). Nada era impossível para os moradores daquele lugar, eles simplesmente decidiam o que queriam e as cosias aconteciam.

– Não! – escuto o grito de Diza de dentro da casa.

Eu sequer tinha batido na porta (não que eu precisasse, minha "raça" podia sentir a presença de seres vivo, mesmo eu, que sou uma inútil). A imagem de Diza apareceu a minha frente. Tremi. Ela era imponente e amedrontadora. Era muito alta e tinha um longo cabelo que tocava sua cintura.

"isso preso num rabo de cavalo".

Ela usava um macacão preto colado como uma super-heroína

"Ou uma super-vilã"

prestes a sair voando.

– Você nem sabe porque eu to aqui. – digo olhando ela pelo vidro da porta.

– Você veio porque eu sou uma natural e você é uma droga nisso.

"É!"

percebo minha cara de admirada e idiota se juntarem numa só.

– Não vou ajudar o seu tipo – ela diz dando as costas a porta e indo em direção ao sofá.

Tento abrir a porta, mas escuto ela se trancar quando empurro.

"Ugh!"

Dou um passo para trás incomodada com a voz reclamando dentro de mim. Respiro fundo tentando agir naturalmente, não precisava que Diza soubesse que eu, estava surtando de novo.

Toquei o bolso da calça esperando que, talvez, meu pensamento tivesse feito ele aparecer uma chave ou algo do tipo, mas ainda estava vazio. Sentei em frente a porta frustrada. Como eu não conseguia fazer a coisa que era natural a mim? Era como ser incapaz de respirar ou fazer um coração bater.

"Só deixar acontecer..."

Cubro meu rosto dando um grunhido querendo abafar a voz em minha mente. Por um segundo, Diza tira os olhos do livro que lia (ela tinha uma estante cheia), mas não dá muita importância e volta a me ignorar. Era muito frustrante que pudesse ver ela lá dentro e não pudesse entrar.

"Faz alguma coisa!"

– Tá! – respondo irritada.

Tapo a boca percebendo que estava respondendo meu pensamento em voz alta. Fico feliz por Diza ter continuando a me ignorar.

Era isso... Eu tinha que tentar... Tentar aprender sozinha... eu tentaria meditação, mas sabia que não funcionava pra mim.

Deixei minha raiva me tomar. ÅgariS tinha me dito que eu causei aquela chuva no deserto através do meu desespero. Foi a única vez que tinha usado meus poderes. Se eu deixasse fluir talvez funcionasse.

Deixei que meu corpo se tornasse raiva. Eu já era amiga desse sentimento. Lembrei do ar tinham me feito passar, de como levaram Hayden, de como tinham roubado minhas memórias e meus amigos.

Soltei um grito e estiquei os braços em direção à porta de vidro esperando que algo fosse sair pelos meus dedos e explodir a entrada. Mas era

"Mágico? Estupido? Irreal?"

Grunhi de novo. Eu não queria ficar maluca, mas, nesse ponto, eu já sentia que estava se tornando inevitável. Talvez isso que fosse natural para mim.

Corri para longe ganhando distância. Talvez pudesse tentar de uma forma menos mágica.

"Ciência" a voz me corrigiu.

– Você parece até ÅgariS falando – digo num sussurro.

Pego impulso no chão e começo a correr. Vou ganhando velocidade me arrependendo daquele plano. Desisto quando já estou na metade do caminho em direção à porta, mas já é tarde demais. Não tenho tempo de parar. Bati contra a porta com força total. Caio no chão sentindo meu nariz quebrado e joelho doer horrores.

Começo a chorar em uma resposta natural do meu corpo.

"Agora é natural! Isso tá ridículo."

– Por isso, você é uma droga em ser uma natural – Diza está sobre mim rindo e se ajoelha ao meu lado. Sua mão toca meu nariz fazendo eu grita. Em um movimento ela o coloca no lugar. Consigo sentir o quanto ela gosta de ver a minha dor – Você ainda é humana, não procure soluções humanas para problemas de um K.

Levanto vendo ela abrir a porta de volta sem tocá-la. Ergo as sobrancelhas sabendo que não é nada demais, mas ainda assim, impressionada.

– Eu posso te ensinar alguma coisa, mas quero algo em troca – vejo ela se distanciar e deixar o tablete sobre o sofá – mas ainda não sei o que – ela me encara como um olhar de vilã de filme.

"Você vai selar um pacto com o diabo".

– sim – estendo minha mão em resposta a Diza e a voz da minha mente.

Diza diz recusando meu gesto e fazendo um movimento tocando o polegar com o dedo do meio duas vezes.

– Mantenha em mente que a melhor forma de aprender é não tendo tempo de pensar – ela disse – deixar seu subconsciente no controle, ficar no automático.

Vejo duas facas se materializarem na mão dela. Ela joga uma para mim que não consigo pega e deixo cair. Ela vem para cima de mim.

ForgottenOnde histórias criam vida. Descubra agora