Ela sabia o que eu estava tentando fazer e ela sabendo e me dando encorajamento também era um incentivo para eu continuar tentando, mesmo sem saber ao certo como.
Eu nunca tinha usado muito do meu poder. Ou melhor, dos meus poderes. E agora eu precisaria usar bastante dele para não infligir dor, mas sim, curar.
Eu imaginei a dor física de Merry, ainda encarando o corpo fraco dela, sem tirar, nem por. E tentei não fazê-la piorar, mas fazê-la diminuir, evaporar, esvair... Não fazia diferença o sinonimo usado para dizer o óbvio: eu queria curar.
Eu nunca poderia imaginar naquele instante que a cura poderia doer. E doeu.
Quando eu pensei em toda aquela dor indo embora, todas as suas dores físicas e internas esvaindo, era quase como se invés de estar indo embora, ela estivesse vindo para mim, aos poucos, as vezes, nem tão pouco assim.
Eu senti a dor da cura. Forte, como socos poderiam ser. Pior, como uma surra, que seria uma sequência de socos. Um atrás do outro. Um depois do outro. Se eu estava sendo redundante? Sim, eu estava.
E eu estava agora não de joelhos em frente a Merry, mas em debruçando no chão de dor. Eu gritava. Eu sabia que eu gritava, mas eu não ouvia meus gritos, eu apenas gritava. Doía demais. Doía como nunca em toda minha vida.
Então era por isso que as pessoas escolhiam o mal? Porque, eu lembro de ter feito Luke sentir leves dores e fazerem algumas coisas para mim e nunca, nunca doeu. Na verdade, era revigorante. Mas enquanto eu tentava fazer algo bom, tirar uma dor, doía em mim.
Seria sempre assim? Infligir a dor era bom, era revigorante, era além de poderoso, era prazeroso. Mas tirar uma dor era o oposto.
– Claire! – eu ouvia alguém me chamando repetidas vezes, mas não conseguia distinguir as vozes e eu não via nada.
Por um período que pareceu ser o mais longo da minha vida eu continuei me debatendo no chão. Eu estava de olhos fechados, por isso não via nada, simplesmente não conseguia fazer meu corpo me obedecer e abrir meus olhos.
Eu estava sem forças alguma. Comecei a ficar cada vez mais desesperada.
– Claire! – continuaram gritando, mas eu não conseguia reagir.
Eu achei que iria desmaiar. Afinal, a dor estava ficando mais forte do que eu poderia aguentar, mas invés disso eu tentei me acalmar e ouvir o que meus amigos gritavam.
A voz de Luke fora a primeira que eu consegui reconhecer, dizendo:
– Só você pode fazer parar.
E então já não era mais a voz de Luke que eu ouvia e sim a de Ash, em minha mente.
"Você é mais forte que isso"
E repetia.
"Você é mais forte que isso"
"Você é mais forte que isso"
"Você é mais forte que isso"
"Você é mais forte que isso"
"Você é mais forte que isso"
Será que eu estava alucinando com a voz dele ou eu já estava sonhando sem saber?
Eu, sinceramente, não sabia se eu era tão forte assim. Meu corpo parecia estar sendo escaldado com lava. Outras vezes eu sentia como se uma lâmina estivesse "brincando" de me cortar próximo demais de meu pulso. Ali, próximo demais daquele veia que ligava diretamente ao meu cérebro, onde poderia me matar. Outras vezes eu sentia minha roupa sendo rasgada para dar mais espaço para os próximos ferimentos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Fugitiva
Science FictionSegundo Volume da Trilogia "A Estranha" Claire sentia que algo faltava, mas o quê ela não sabia dizer. Uma Nascida, dizendo chamar-se Merry e conhecê-la há tempos, lhe chama para salvar James dos Caçadores. Mas Claire não poderia ou poderia ab...