11 - Frio Azul, parte 2

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– Calma Ruddy! – James berrou – Eu vou até você! Comece a falar qualquer coisa!

Com aquele desespero no ar e agora mãos tremulas de tanto frio eu agachei-me no chão, onde acreditava que James estava e me encolhi em posição fetal, mas com as costas grudadas na parede.

– Eu não sei o que dizer... – jurava que minha voz estava começando a sumir, soar mais baixa e a doer minha garganta.

– Qualquer coisa, Ruddy! Qualquer coisa.

Entrelacei meus dedos gélidos em meu cabelo, sentindo-o o embaraçar e querendo chorar por ter a plena consciência tardia que aquele cabelo, aquele corpo e aquela Ruddy não era eu.

A camisa de mangas que ela usava não era o suficiente para proteger "meus" dedos daquele frio que ficava a cada segundo mais gélido.

– Eu... – comecei a falar as primeiras coisas que passavam em minha mente – Eu... gosto muito de filmes, vivo de referências de livros e já viajei mais em histórias fictícias do que na vida real.

– Continue! – James berrava, mas eu não sabia distinguir se sua voz estava perto ou longe.

– Não tive tempo de ter um namoro normal... Céu, quem eu comentei recentemente, deveria ser meu namorado. Deveríamos ter ficado juntos com calma, sem problemas, mas tudo aconteceu tão rápido. Tudo aconteceu de um jeito tão torto.

– Como ele é? – James, o meu Céu, perguntou e sua voz parecia mais próximo, tão próxima que arrepiava os pelinhos de minha nuca.

– Ele é bom.

Ele riu.

– Só isso?

– Não... ele é como esta cor azul. Simples. Puro, mas não de jeito ingênuo ou infantil. Ele me passa segurança. Eu deixaria até que ele lesse minha alma, se tudo não tivesse acontecido do jeito que aconteceu. Eu confio tanto nele, mas não sei se ele confia tanto assim em mim. Ou confiará, quando parte desta confusão toda acabar. Se é que acabará.

Era o momento, na Terra, propício para um suspiro longo e lágrimas, mas, em Marte, não suspirávamos e, naquele frio, lágrimas não eram bem-vindas.

– Céu está do lado errado, não é? Ele é um Caçador, certo? – James perguntou calmo, baixo ou longe.

Mordi meu lábio e enfiei minha cabeça entre as pernas tentando aparar aquele frio.

Sim, James! pensei, Tecnicamente você estará do lado errado quando souber quem eu sou.

– Não. – foi o que eu acabei respondendo de verdade – Céu não está do lado errado porque ele quer.

– Você acha que ele não tem escolhas? Todos nós temos escolhas, Ruddy!

– "Às vezes, o mal te escolhe."

E então eu percebi que tinha falado a maior bobagem do século.

O frio nunca teve uma cor para mim. Era apenas frio. Mesmo que as pessoas imaginassem o frio azul e o quente vermelho. Eu apenas o sentia. Naquele instante enquanto meus dedos tremiam junto com todo meu corpo, eu sentia e via o frio azul, como nunca acreditei que viveria para "ver".

Não era assustador, não era mais desesperador. Era tamanha agonia que toda a fome, toda a dor e qualquer desespero desaparecia.

Eu não estava morrendo, nem de fome, nem de frio. Tampouco estava Renascendo. Mas a dor do frio azul era tamanha que eu não conseguia mais raciocinar perfeitamente, porém, a única coisa que passava repentinamente pela minha mente era estar perto de James.

Ele era meu conforto diante de todo aquele frio.

James era a minha tranquilidade, diante de toda a dor, fome e angustia.

Eu não era perfeita, ele tampouco. Estávamos aprendendo. Crescendo devagar, com um passo de cada vez, mas estávamos, ao menos, nos mexendo. Não estávamos estagnados para mudanças futuras. Estávamos preparados para o que viesse.

Eu praticamente o ouvir engolir em seco e, com todo o frio, parecia que o mundo estava em câmera lenta. Eu podia ouvir com perfeição cada passo que James dava para chegar até mim.

Pareciam passos tão longos. Tão distantes.

Mas, sem eu esperar, ele me abraçou.

E de um segundo para o outro, eu já não sentia mais frio.

Eu estava tranquila.

***

Aí, aí, ai, altos acontecimentos em breve haha

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