Bônus: Verdadeiras Mentiras, parte 3

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Quis sorrir, mas a Caçadora bateu sua cabeça na minha e eu cai no chão.

Eu sabia que ela poderia pular em cima de mim em qualquer momento, mas antes dela me acertar, ela foi acertada.

Merry, com seu poder mental, fez a camisa da Caçadora subir, tampando seus olhos. Seria uma cena cômica, se Merry não tivesse pego a cabeça da Caçadora com uma mão e batido-a na parede.

A Caçadora caiu no chão, possivelmente desmaiada e Merry me estendeu uma mão para me ajudar a levantar. Aceitei sorrindo.

– O quê aconteceu com você? – questionei.

Ela sorriu.

– Me deram um soco na nuca desumano e aí eu caí, gritando, mas quando levantei, coloquei todo mundo no chão e corri para o barulho mais próxima.

Assenti e antes que eu e Merry nos virássemos para ajudar a Luke, o outro Caçador da cor rosa também caiu no chão.

Luke limpou uma mão na outra, sorrindo diabolicamente.

– Srta. Pink! Me preocupei com você. – ele comentou.

Ela balançou a cabeça, aparentemente indignada.

– Por que você sumiu com Claire?

– Sinto muito, mas fora preciso. Quando suas lembranças voltarem, talvez não sejam tão difíceis de aguentar como seria.

– Você não recomeçou do zero também? – Merry quis saber com a voz subindo uma nota, Luke negou com a cabeça e ela me encarou.

– Também não. Eu fui para J-Dez com minhas lembranças perfeitamente no lugar.

Luke arregalou os olhos para mim, mas depois deu de ombros, como quem entendesse aos poucos a situação. Em um momento ele estava longe de mim, no outro suas mãos seguravam meus braços e seu olhar cinza me questionava.

– Você está do nosso lado ou não?

De canto de olho vi em Merry a mesma duvida que pairava em Luke.

Eu poderia dizer minhas verdadeiras mentiras naquele momento. Eu poderia falar qualquer coisa que eles queriam ouvir. Eu sentia que Merry queria alguém que lhe desse esperança de vitória e sentia que Luke queria alguém fácil de desvendar.

Eu não poderia dar nem uma coisa, nem outra, mas também não lhes dariam minhas verdadeiras mentiras. Eu seria sincera, ou o máximo que conseguia.

– Eu estou do meu lado... E meu lado é contra os Caçadores de Z-Mil.

As mãos de Luke continuaram em meus braços, dessa vez, ele me apertou mais e se aproximou de mim. Ele era um tanto mais alto que eu, fazendo assim, eu levantar minha cabeça para encará-lo.

O cheiro daquele lugar em si era de mofo, mas o cheiro de Luke Cloud era bom. Eu não conseguia distinguir ao certo de quê, mas eu queria me aproximar mais e sentir mais.

– Então você está do nosso lado, Lia Black. – pela primeira vez, não senti em seu tom de voz ironia ao pronunciar meu nome.

– Não quero estragar o momento, mas... – Merry chiou e as mãos de Luke largaram meus braços.

Merry não precisava completar a frase para eu e Luke entender sobre o quê ela queria falar.

As paredes daquele corredor estavam se mexendo.

Ouvimos o riso da Caçadora que Merry acertou. Ela levantava-se do chão, já o outro parecia apenas desacordado.

Precisávamos cortar o pulso deles para não ter erro.

Se não corrêssemos as paredes nos esmagariam!

Luke gritou e puxou meu braço, correndo para alguma escapatória. Merry também gritou e me empurrou para frente, correndo pouco atrás de mim. Não podíamos dar ao luxo de ir um ao lado do outro, o espaço estava cada vez menor em alguns segundos.

Luke corria na frente, eu no meio e Merry atrás. Ambos gritavam.

Gritei para a Caçadora, pouco atrás de nós:

– Vale a pena se matar por nós?

– A conta é simples: – a voz dela ecoou no corredor deserto – menos três de vocês, menos dois de nós.

– Vale a pena? – repeti – Somos tão bons assim para você morrer, para nos matar?

Ela não respondeu e eu senti sua tensão de longe. Ela estava indecisa. Sua força, era, claramente, mais poderosa do que a mesma imaginava. Afinal, ela movia paredes, não era como Merry que, em comparação a ela, "apenas" levitava coisas.

Eu continuava correndo, às vezes, tropeçando em Luke, que, por sua vez, tropeçava em algo.

Não era uma situação muito bonita. Se não fizéssemos nada, morreríamos esmagados... Senti que Merry estava tentando, mas com seus poderes enfraquecidos ela não era nada em comparação a Caçadora.

– Pense Ruddy¹! – falei com a Caçadora da qual descobri o nome em sua mente frágil e confusa – Você realmente morrerá por nós?

Era uma das minhas verdadeiras mentiras. Porque eu sentia o que aconteceria a seguir, sem precisar ver o futuro iminente...

(¹Ruddy: corado, avermelhado, vermelho, ruivo, rosado, maldito)

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