A jovem marciana continuou a se debater por mais alguns segundos no chão e quando Luke estava perto de se agachar para despertá-la, ela abriu os olhos e fitou os meus. Seu olhar ficou cravado no meu por mais tempo do que eu gostaria.
O olhar da garota era negro em total contraste com sua pele clara. Seu cabelo era longo e tão escuro quanto seus olhos. Talvez descrevê-la fizesse-a parecer comum, por ser da cor preta, mas não era. A menina estava longe de ser comum.
Tampouco era assustadora como Ariana poderia ser, também não era doce como Merry, não tinha aquele "quê" pacificador como Ash, nem arrogante como Luke. A garota tinha sua própria essência.
Seu cabelo deveria bater no meio de suas costas, em um negro que brilhava. Seus olhos eram belos de tão escuro. Seus olhos eram grandes, seu nariz e boca mediana.
Reparei em sua roupa e estilo e a garota parecia ter saído de um catálogo de moda marciano.
Primeiro seus piercings, ela tinha um no septo, outro na cartilagem do nariz e vários ao redor de suas orelhas. Em ambas as orelhas ela tinha também alargadores, de provavelmente 20mm.
Sua roupa era do tipo "básico chique", uma jaqueta preta fechada até acima de seus seios, não me deixando ver se ela usava alguma camisa por baixo, uma calça obviamente preta e rasgada, e calçava um coturno.
A única tatuagem que eu conseguia ver era a de seu pescoço, eram quatro números: "0211". Em baixo desses números haviam outros traços que eu já não identificava.
– Claire? – apesar da aparência de mulher da garota, sua voz normal era baixa e fina, mas não irritante. Quase meiga, ingênua.
– Quem é você? – Luke tomou a voz e Ash ajudou a jovem a se levantar do chão.
– Você é Claire? – perguntou mais uma vez a garota me fitando, agora em pé.
Ela deveria ser facilmente uma cabeça mais alta que eu, porém parecia ser frágil, quase aparentava ser tão dócil como Merry se mostrou ser, mas havia algo naquela nova garota diferente de todos nós.
– Quem é você? – fora Ariana quem disse nesse momento.
Ariana que até então estava calada demais, se pôs na minha frente. Ficando cara a cara com a garota. Percebi que a garota deu um passo para trás e encolheu os ombros. Afinal, como não temer Ariana?
Mas seu aparente temor não durou muito. Eu aprendi em meus longos dias em Marte que pessoas da cor vermelho poderiam ser facilmente irritáveis e um tanto quanto possessas com tudo, mas pessoas da cor preta não eram também tão fáceis de conviver.
Pessoas das cores neutras em geral, como Luke havia me explicado, eram complicadas, um verdadeiro caos interno e diferente entre si, mas eram leais e nunca saíram de um lugar sem ganhar uma discussão. Porque o que eles não tinham de força física, tinham de mental. Tinham de lábia.
A garota olhou para cada um de nós sem medo nesse momento, mas não sorria, ela não era presunçosa. Ela parecia analisar cada um de nós, antes de dizer, focando em mim:
– Black. Eu sou Lia Black. E você é Claire, a Única Mística.
Ela não perguntava, ela confirmava.
– Como você sabe quem eu sou? – não me importei que estava me entregando revelando a ela que eu, era realmente a Claire.
– Eu tive uma visão no dia que você nasceu.
– Você quer dizer, – Merry falou – no dia que ela Renasceu, certo?
– Não. – respondeu Lia e gesticulou para os quatros números visíveis de sua tatuagem – 0211. Dois de novembro. O dia que Claire nasceu como Clarice, na Terra, eu tive uma visão. Minha primeira visão.
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A Fugitiva
Science FictionSegundo Volume da Trilogia "A Estranha" Claire sentia que algo faltava, mas o quê ela não sabia dizer. Uma Nascida, dizendo chamar-se Merry e conhecê-la há tempos, lhe chama para salvar James dos Caçadores. Mas Claire não poderia ou poderia ab...