13 - Placebo, parte 2

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Enquanto eu encarava meu próprio corpo e inspecionava minhas tatuagens em seu devido lugar, Luke falou, ainda encarando à porta:

– Mas uma coisa fora real.

– O quê? – Ariana perguntou.

Voltei meu olhar para Luke e o vi limpar sua boca suja de sangue.

– A dor física.

Dei-me conta que ele não falava de si próprio, mas lembrava-nos de James e Merry. Eles tinham sofrido de verdade. Muito mais do que alguns socos aleatórios. Ambos tinham sofrido dores físicas, mas também as emocionais.

– Onde está Loren ou Ally? – Ash parou de andar de um lado para o outro e berrou.

Sim, Ash gritou!

Luke parou de inspecionar à porta e olhou para o amigo. Aos poucos, eu, ele e Ariana arregalamos nossos olhos.

Ariana socou a parede atrás de si, fazendo-a criar um buraco.

– Eles nos enganaram!

– É por isso que eles desapareçam! – minha mente parecia trabalhar à todo o vapor – Eles nunca estiveram do nosso lado!

– A armadilha era muito melhor bolado do que imaginamos. – Ash comentou, dessa vez de maneira calma.

Luke voltou a encarar à porta e com passos lentos parou até ela, tentando-a abrir.

– Vocês ainda não perceberam? – ele falou.

– O quê? – Ariana, enfurecida, gritou.

A próxima cena não poderia ser descrita como nada além de ficcional. Parecia que eu estava dentro de um filme de ação, do qual, um dos personagens vira à cabeça com calma, nos encara de um a um e diz o que muda o pensamento de todos sobre toda a história:

– Sempre estivemos presos.

E é neste exato momento quando a ficha começa a cair e todas as cenas começam a ter total lógica para à mente do telespectador.

Nós nunca fugimos.

Nós nunca esquecemos.

Tudo era um jogo.

Tudo era nossa imaginação criando obstáculos e problemas ilógicos.

Tudo era feito por nossa mente ou comandados por Soul e seus Caçadores.

Se soubéssemos da prisão, tentaríamos sair dela. Se não soubéssemos, acharíamos que tínhamos alguma chance.

Nós nunca tivemos chance nenhuma, pois desde J-Dez já estávamos presos. Presos por nossas próprias ilusões.

Ariana correu para à porta da qual Luke tentava abrir e a socou, chutou e até gritou com a mesma, mas ela não saia do lugar.

– Desde J-Dez caímos em uma prisão domiciliar. – Ash concluiu.

– Estávamos divididos para não nos darmos conta disso. – falei.

– James e Merry estavam em outro tipo de prisão, a dentro do núcleo deles. – Luke parou de tentar abrir à porta e encostou suas costas na parede.

O olhar dele parecia perdido. Ariana estava com a testa apoiada na porta. Ela não mais gritava.

O momento que você se dá conta o quão enganado e ignorante você fora, faz com que você repense sobre todos os momentos que lhe aconteceram.

Fomos de uma prisão para outra, tentando salvar, mas não sabendo que também estávamos precisando sermos salvos.

Soul nunca esteve sozinho. Loren e Ally, na verdade, não eram contra ele, mas ao seu lado. Toda a história fora contada errada. Nada era o que acreditamos ser.

Lia e Misha não eram nada além de presidiários e tão enganados quanto nós. Achamos que tínhamos mais um aliado, quando tínhamos achado mais um preso rebelado.

– Eu preciso achar James. – sussurrei.

Sim, aquela era possivelmente a coisa mais egocêntrica que eu já tinha pensado. Eu não estava pensando agora, precisamente, em achar meus outros amigos, mas James primeiro.

Não, eu não apenas sentia a falta dele, mas eu queria poder explicar que ele não precisava querer me matar. Tudo era criado pela sua própria mente. Eu queria poder explicá-lo que nós não precisamos ficar afastados. Eu, na verdade, nunca precisei ter ido para o corpo de Ruddy. Eu poderia continuar sendo eu, se ele tivesse se dado conta que ninguém tinha feito nenhuma lavagem cerebral nele, mas ele tinha acredito que sim.

O placebo nunca pareceu tão assustador.

Tínhamos sido enganados por nós mesmos.

Eu queria me condenar pelo quão estúpida havia sido.

– Todos já estamos presos, por que não podemos ficar presos e juntos? – Ariana bateu sua testa repetidas vezes na porta e murmurando, completou: – Eu sinto falta de Merry.

Eu também sentia, mas não da mesma maneira que ela.

Encarei Ash que havia se sentado em um canto do cômodo. Ele parecia o mais racional, mas, ainda assim, estava, um tanto quanto, tenso. Ele não me olhava, na verdade, como Luke, ele parecia não olhar para nada.

Luke continuava em pé encostado na parede. Uma de suas mãos alisava seu cabelo, o arrumando para trás. Poderia ser uma cena comum, mas seu olhar, normalmente zombador e arrogante, não estava ali.

Luke Cloud parecia cansado. O mesmo parecia querer também bater sua testa na parede e gritar. Talvez por também sentir falta, talvez por real cansaço de lutar.

Não dormíamos e não comíamos há mais tempo do que eu podia me lembrar. Afinal, em Z-Mil o espaço-tempo era diferente de todo o resto de Marte. Porém, ainda assim, eu tinha a total consciência que não dormíamos e nem comíamos há um longo tempo.

Estávamos além de cansados, famintos e sonolentos. E por fim, mas não menos importante: estávamos longe de quem queríamos estar.

Eu sabia que não era difícil para nenhum daqueles três amigos meus estar com o outro. Mas nada custava estar com amigos e "mais alguém".

Por que estávamos presos, afinal?

Para provar, a sabe-se lá quem, o quão forte éramos?

Para provar que aguentávamos ficar sem comer, dormir?

Para provar que aguentávamos ficar longe de quem mais queríamos estar perto?

Para nos fazer admitir que precisávamos de outro alguém?

Para que nós déssemos conta o quão insignificante sozinho nós éramos?

Por que não me parecia mais que estávamos presos pelos meus poderes. Eu, sozinha, não era ninguém. Eu, sozinha, não mudava em nada. Eu precisava de cada de um meus amigos para ser alguém significante. Sem eles eu não era ninguém além uma Nascida que Renasceu. Rara, de fato. Única Mística, de fato. Mas não tão poderosa quanto era ao lado de cada um deles.

Em suma, poderia ser cada uma dessas coisas, mas minha mente não cansava de procurar mais um porquê.

***

Não esqueçam do voto e comentário.

Estou chocada com o quão rápido já chegamos aqui (mesmo eu tendo atrasado as postagens por um tempo). Já estamos tão pertinho do fim. Nem quero pensar no fim do fim com o terceiro livro haha (:(

A FugitivaOnde histórias criam vida. Descubra agora