Bônus: Verdadeiras Mentiras, parte 2

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– Eu já disse que não confio em você hoje, Srta. Black? – Luke Cloud me disse, como quem fosse o dono do mundo.

Soltei-me de seu aperto.

Eu sabia que Loren não o havia dito muito sobre mim. Nós não havíamos convivido muito e quando eu estava, um dia, ao seu lado eu tive uma visão negra, a minha primeira.

Eu era criança e aquilo pareceu ser tão anormal, afinal, não era meu poder de verdade. Loren não tinha conhecimento que os Caçadores estavam me "moldando" para ser quem sou. Ele só conheceu uma criança da cor preta que tinha visões negras. Ally, por sua vez, tinha plena consciência de tudo. Ela não contaria a ele, eu aposto. Eram o casal mais falso do universo. Literalmente.

– Eu já disse que não me importo, Sr. White? – ironizei com o sobrenome que ele escolheu para ele quando fingiu recomeçar do zero.

Sim, eu sabia quem tinha e quem não tinha recomeçado do zero. Meu poder real era ainda mais mental que um estúpido Oráculo.

Eu poderia saber o humor do marciano apenas em olhá-lo por segundos. Eu poderia saber a coisa certa para falar e deixá-lo feliz, tanto quanto deixá-lo possesso. Eu tinha pleno conhecimento em fingir. Não era apenas algo qualquer para mim, era meu poder.

Eu saberia ser quem as pessoas queriam que eu fosse. Eu poderia ser confiável, amável e afável, mas não podiam pedir de mim, verdades.

Eu não contava mentiras. Eu contava o que era agradável a cada ouvido.

Pode-se dizer, ligeiramente, que eu contava verdadeiras mentiras.

E percebi que Luke notou isso também. Em nenhum momento eu o tinha ironizado de volta, mas quando o fiz, ele reparou a diferença em mim. Algo singelo, mas era uma mudança.

E então, outro grito. Corri de costas para ele, não me importando se Luke corria atrás de mim ou não, mas perguntei, entre gritos e passos largos:

– Onde está Claire?

Ele passou de mim em poucos passos.

– Eu não sei! Caímos cada um em um local, pelo visto.

Franzi o cenho, parei e perguntei:

– Quem mais veio com vocês?

– Loren, meu pai.

Balancei minha cabeça e voltei a correr, a luta em Z-Mil seria ainda maior do que eu imaginava. Não era apenas sobre Claire e James, era sobre nossos pais, algo que, obviamente, veio antes de nós. Era uma briga interna, da qual, entramos de penetra – ou quase -.

Eu e Luke estávamos correndo em círculos e o grito de Merry repetia-se tantas vezes que doía meus tímpanos.

Estávamos em um corredor estreio, em um tom sepia. Eu sentia-me levemente sufocada. Tínhamos opções para correr das mais diversas: seguir direto, virar à direita ou a esquerda. E o pior: eu não fazia ideia de onde deveríamos ir. A voz de Merry retumbava de todos os lados, deixando-me sem senso de direção.

Parei de correr tentando analisar meus passos a seguir. Poucos metros a minha frente, Luke também parou e virou-se em minha direção, mas não andou até mim.

Olhei para todos os lados e senti o olhar dele em mim.

– Para onde vamos? – ele gritou.

Quando o encarei de volta estava a ponto de dizer que eu estava perdida, mas antes de eu poder pronunciar qualquer coisa, ele se abaixou e se virou para um Caçador que estava preste a socá-lo.

O Caçador acertou seu soco no ar e Luke, calmo demais, bateu em sua cabeça com o punho fechado. O "inimigo" da cor rosa levou outra mão para acertar o estômago de Luke, acertando e fazendo o mesmo recuar dois passos.

Esqueci de avisá-lo que seu poder de ver o futuro iminente estaria enfraquecido. Sorri. Era quase divertido ver uma briga... Quando, era claro, nada acertava sua nuca tão forte que você quase caia para frente.

Virei-me para quem havia me acertado, seja o que for, em minha nuca e encontrei uma Caçadora da cor vermelha mexendo tudo ao seu redor. O chão parecia tremer com seus passos.

Estalei meus dedos sem pressa e disse:

– É triste quando você é tirada de sua cama sem vontade, não é?

Seu olhar vermelho escuro pareceu ponderar por um ou dois segundos se eu realmente falava com ela.

– Eu sei o quanto nossos pais podem ser cruéis. Mas será que obedecê-los sem pensar, vale a pena?

A Caçadora gritou, como um grito de guerra e todas as mínimas coisas que estavam no chão daquele corredor íngreme, levantaram tão alto quanto sua voz soava.

– Não precisa gritar para não me ouvir... – continuei falando mesmo quando uma das coisas que levitavam caiu em meu olho, deixando-me sem minha total coordenação.

Eu sentia o quanto aquela Caçadora estava de saco cheio. Ela nem sequer queria estar ali, onde estava. Talvez ela não me ouvisse, mas eu continuaria falando.

Dei um passo para trás, tendo conhecimento que Luke estava em sua própria briga. Aquilo que caiu em meu olho incomodava tanto que enquanto eu tentava tirar senti outra coisa bater forte em meu estômago. Demorei um pouco para entender que era "somente" um pontapé da Caçadora.

Eu estava preste a cair de costas, mas senti duas mãos me empurrando para frente.

– Vai, Lia!

Era Luke encorajando-me, entretanto, ele não precisava me encorajar para eu finalmente tirar a coisa irritante de meu olho e acertar um soco no nariz da Caçadora.

Vi seu sangue seco e morto escorrer de seu nariz, aparentemente quebrado e seu olhar ficar assassino. Não perdi tempo e bati na lateral de sua cabeça, para deixá-la tão desequilibrada quanto ela me deixou.

Um grito fino fez a Caçadora, que bateu a cabeça na parede, franzir o cenho.

O grito vinha detrás dela, mas não era ela, nem eu... Era Merry, vindo correndo em nossa direção.

***

Não esqueçam dos votos e comentários, terráqueos <3

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