Bônus: Complicada(mente), parte 3

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- Ash! - Claire me recebeu de braços abertos.

Estávamos em seu quarto em A-Zero. Eu acabava de entrar por sua porta já aberta, me esperando e ela estava levantando-se de sua cama, estendendo os braços para mim.

A abracei.

- Se você está aqui, não significa coisa boa, não é? - ela adivinhou assim que afastou-se de mim.

- Não. - admiti.

- Eu morri?

Eu sorri torto tenso.

- Não.

- Coma?

- Não.

- Renasci? - brincou ela.

- Não.

- Se eu não morri, não estou em coma e não estou preste a Renascer... O que está acontecendo comigo, Ash?

Coloquei minhas mãos em suas bochechas, acariciando e fazendo-a me fitar.

- Você não sente nada?

- Não depois de James ter cortado meus pulsos.

Assenti.

- Você vai acordar, - avisei - mas talvez seja melhor você continuar em sua mente tranquila.

Ela franziu o cenho, fazendo seus olhos roxos vibraram de pura tensão.

- Por quê?

- Porque você desmaiou por tanta dor que você sentia, mas não fora apenas a dor física que James lhe proporcionou... Se você acordar agora todas as suas lembranças voltarão quebradas. Aqui você está desacordada, mas está com vida e sem dor. Quando você acordar...

- Eu sofrerei? - ela cortou-me.

- Sim, Claire. Você sofrerá e talvez você comece a odiar todos que um amou. As lembranças quebradas não são literalmente lembranças diferentes ou em uma ordem aleatória, são as mesmas lembranças, nos mesmo lugares, porém, invés de você se sentir bem quanto aquele sentimento daquele momento específico, você odiará qualquer momento que você um dia amou.

- Como você sabe disso tudo?

- Eu sou um pouco mais velho do que eu aparento...

- Por quê?

Engoli em seco.

- Porque em Z-Mil nós não envelhecemos normalmente, é um processo mais lento. A sensação que temos é que os dias são mais longos, intermináveis; embora envelhecemos mais devagar.

Soltei o rosto de Claire e vi seu olhar roxo tornar-se tremulo.

- E como você sabe disso também?

- Já ouviu a frase "às vezes, o mal te escolhe"? - questionei.

- Sim, de Luke.

Assenti.

- Pois bem, eu disse a ele, sobre mim.

- Você?

- Eu sou um Nascido de Z-Mil, Claire. Tanto quanto Lia, eu nasci para ser um Caçador. Quase como uma máquina mortífera.

- Mas você não é um! - ela quase gritou, não sabia dizer se era de pavor ou desespero.

- Não sou, eu não escolhi o mal. Sou seu Protetor, mas você aqui, em sua mente tranquila, não se lembra disso. Eu fugi de Z-Mil e comecei uma nova vida em A-Zero; Luke fora o único que me aceitou sem questionar, sem hesitar uma vez sequer sobre quem eu era e de onde eu vinha.

- Então começaram a desconfiar de Luke por estar com você?

- Sim, estranhamente eu pouco fui falado, mas Luke fora o único a ser apontado, como se ele fosse errado na história.

- Isso não tem lógica!

- Não têm, realmente. - balancei minha cabeça, tristemente.

Claire abriu a boca e pareceu ponderar suas próximas palavras.

- O mal me escolheu, não é?

Assenti, cabisbaixo.

- Todos estamos interligados em parentesco? - Claire referia-se a toda à turma; eu, Luke, James, Merry, Ariana e Lia.

Neguei.

- Eu e Merry não. Somos apenas um Protetor e uma Acompanhante. Ou melhor dizendo, éramos. Já que hoje somos amigos dos demais.

- Ash, - encarei-a - eu sei quem é meu pai, não sei?

Lhe dei um sorriso amarelo.

- Desde quando você era uma Estranha.

- Eu sempre soube, não é?

Assenti.

- Sim, eu imagino que sim.

- E você, por ter me colocado em coma, há algum tempo, pareceu saber antes de mim... - concluiu.

Arregalei meus olhos. Sua mente complicada não estava tão tranquila assim, suas lembranças, mesmo desacordada estavam pairando e sua intuição estava ainda mais forte.

- Mas eu não quero aceitar essa verdade! - Claire colocou suas mãos nas laterais de sua cabeça e gritou sem fazer barulho. Era assustador e doloroso de ver.

Tentei abraçá-la, de imediato ela recuou, aos poucos aceitou meu abraço e eu senti suas lágrimas quentes em meu pescoço.

Tentei confortá-la:

- Mas você não escolheu o mal. Assim como eu, você tem chance. Sempre teve. Todos temos.

Aos poucos, quando suas lágrimas deixaram de rolar e ela me encarou de perto, Claire Blue quis saber:

- O que você dirá sobre mim para os demais?

- Que você morreu. De vez.

Ela assentiu. Sua tão complicada mente parecia um pouco em paz agora.

- Cuide bem de meu corpo. - brincou.

Beijei suas bochechas e disse:

- Virei te visitar em breve.

- Poderei despertar logo?

- Acredito que não. Tenho planos em mente.

Claire parecia assustada, mas, novamente, assentiu.

Sua pequena mão tocou minha bochecha delicadamente e ela me disse:

- Você nunca nasceu para o mal.

Gostaria de dizê-la que ela também não e ela não tinha culpa da família que tinha. Ou melhor, do pai que tinha. Embora, não consegui dizer nada, pois fui puxado, literalmente puxado, fazendo-me despertar abruptamente com uma Ariana me sacudindo, um Misha me encarando e um James chorando.

Se a mente de Claire era complicada, aquilo, naquele instante, era além do que eu, um mero Nascido com poderes relativamente fracos, aguentaria.

Por um ou dois momentos eu gostaria de voltar à, agora, nem tão, complicada mente de Claire Blue.

***

A história está chegando em seu, creio eu, (pq ainda n escrevi nada além disso) seu enredo. Ou seja, só um pingo de explicação e, assim espero, a fatídica ação.
Me digam: acham que há algo que eu poderia acrescentar?

Sobre o romance: não sei se terá neste livro cenas "fofas" de Claire com James, talvez só no último. Pq neste está acontecendo tanta coisa q mal dá tempo pro love kkkkk

A FugitivaOnde histórias criam vida. Descubra agora